Depoimento de Camila Moraes, metroviária e militante do Pão e Rosas
Ontem às 6h da manhã, iniciando um dia de trabalho atendi uma mulher de 33 anos que estava aos prantos na estação, falando que iria se matar. Ela havia sofrido uma tentativa de estupro dentro de um carro de homens conhecidos. Não sei o que essa mulher passou na mão desses homens dentro do carro, mas ela estava um choque, em crise completa, imagino que - entre todo trauma e pensamentos - estava também se sentindo culpada por ter saído de noite, bebido e pegado uma carona com conhecido, que infelizmente é o que o senso comum (incluindo os que devem ser preparados para atende-la) pensa. Eu me senti completamente impotente, não sabia o que fazer, ela mesmo falou: "O que vou fazer? Fazer um B.O? Só quero ir para a minha casa..".
Casos como este devem ser atendidos pelos seguranças do Metrô, mas - não por responsabilidade destes - me deixaram atendê-la sozinha, não a toa, pois eu era a única mulher trabalhando. A situação que ela estava é de certa forma parecida com as dezenas de casos de assédio sexual que as mulheres sofrem cotidianamente no Metrô, e ontem foi muito claro para mim que é uma demagogia absurda essa ofensiva que o Metrô estava fazendo na sua campanha para denunciar o assédio, dizendo que o Metrô treina "mais de mil agentes para ajudar".
A mulher que tiver sido suja de "gozo" por ter sido assediada dentro do sistema metroviário deve ir SUJA para a Delpom (delegacia do metro) para fazer a denuncia. Ou seja, para ela poder denunciar deve se expor ao absurdo, e se ela nega ainda a culpam por não denunciar(!).
Não mulheres, vocês não são culpadas por nenhum tipo assedio e abuso ao corpo de vocês e infelizmente, quando não se sentem seguras de denunciar nos lugares instituídos pelo governo, vocês tem razão, pois tem milhares de Eliza's Samudio's para comprovar a ineficiência dessas instituições e o descaso do governo com o combate a violência contra a mulher.
Apenas organizadas, lutando contra a opressão e exploração que sofremos - junto aos nossos companheiros homens - podemos dar uma resposta que de fato coloque em xeque a violência, pois esta é completamente funcional ao sistema. Cada mulher abusada e agredida, cada negro que é discriminado, cada trans e homossexual que apanha ou é morto na rua, cada imigrante que é fadado ao trabalho escravo, fortalece o poder do capitalismo.
A divisão da classe, a partir de vários preconceitos e violências - dentro dela própria - é um passo atrás que damos na luta contra toda a miséria que a esmagadora maioria da humanidade está fadada. Lutemos contra nosso verdadeiro inimigo.
Hoje este inimigo treme, pois há greves por todos os cantos do Brasil, há trabalhadores, juventude e movimentos sociais nas ruas, se colocando como sujeitos dos próximos rumos desse país, colocando que a Dilma e seus comparsas empresários não farão o que quiser com a população brasileira, não rifarão nossos direitos por uma "Copa Padrão Fifa", não entregarão à prostituição milhares de meninas e mulheres negras.
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