quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

POLÊMICA COM O MOVIMENTO MULHERES EM LUTA

Dilma e o PT nunca poderão governar para a mulher trabalhadora

O Pão e Rosas, que integra o Movimento Mulheres em Luta, há tempos vem abrindo um debate dentro deste movimento sobre a política de exigência ao governo Dilma, que em nossa opinião muitas vezes se transforma em uma estratégia, ou seja, depositando toda a energia nisso e desarmando assim a organização das mulheres desde a base e junto a classe operária. Mas esta diferença pode adquirir proporções maiores a partir do último jornal do Movimento Mulheres em Luta para o 8 de março, que em sua capa conta com a seguinte frase em destaque: "Governar para a mulher trabalhadora é investir mais dinheiro para o combate à violência contra as mulheres".
Esta caracterização do governo, ou seja, de que caso Dilma concedesse um aumento de verbas para a área de combate a violência às mulheres poderia ser considerado um "governo pra mulher trabalhadora" é uma caracterização que não foi votada em nenhuma instância do Movimento Mulheres em Luta, e muda, definitivamente, a caracterização do governo tirada no I Encontro Nacional do movimento em outubro de 2013, em Sarzedo (MG). Nós consideramos que a ânsia equivocada de "exigir do governo para desmascará-lo", como forma de "dialogar com as trabalhadoras" leva o PSTU, direção majoritária do movimento, a este nível de adaptação.
Nós do Pão e Rosas estamos construindo todas as atividades do Movimento Mulheres em Luta, em especial o 8 de março, levando nossas propostas e nos contrapondo a políticas como essa. Na primeira reunião do MML regional SP, ocorrida no último dia 11 de fevereiro, antes mesmo do fechamento do jornal, estivemos presentes com 6 companheiras do Pão e Rosas e fomos contrárias à inclusão dessa frase no material nacional do MML, e nesse momento todas as companheiras presentes expressaram acordo conosco e ficaram de encaminhar a proposta da regional para a executiva nacional. Qual não foi nossa surpresa quando, na reunião seguinte, ocorrida no dia 25 de fevereiro, as companheiras chegaram com o jornal impresso, com a referida frase, dizendo que haviam consultado as companheiras da executiva nacional e que tinha sido decidido manter a frase. Vale ressaltar que nem as companheiras do Pão e Rosas que compõe a executiva nacional nem as companheiras do Pão e Rosas que participaram da reunião da regional SP foram consultadas ou sequer tiveram acesso a essa discussão. Na plenária estadual do MML do RJ estivemos com 8 militantes contra esta política que leva à esta adaptação. Rechaçamos este método burocrático e chamamos as companheiras do PSTU e outras militantes do Movimento Mulheres em Luta a rever esse método.
Em São Paulo, as militantes do PSTU do MML chegaram a assinar com a MMM (Marcha Mundial de Mulheres) um panfleto que fala em geral da opressão e da violência mas sequer denuncia Dilma e seu governo atrelado aos grandes capitalistas e aos setores reacionários (religiosos, Sarney, Renan Calheiros, Kátioa Abreu – da UDR dos latifundiários - Collor de Mello, Maluf, Kassab etc.). Em nome de “exigir”, na realidade “pedir” ao governo, o PSTU termina ao lado das reformistas e governistas da Marcha Mundial de Mulheres, fortalecendo, na prática, esses setores e não ajudando a avançar a consciência das mulheres e o movimento feminista combativo e classista. Ao mesmo tempo, o Pão e Rosas, que não tem nenhuma ilusão no governo Dilma e do PT, diz abertamente: nenhuma concessão deste governo, seja inclusive na área de violência contra as mulheres, o transformará no governo para as trabalhadoras. O governo para as trabalhadoras será obra das próprias trabalhadoras. Estamos lutando na primeira fileira por nossos direitos mais imediatos e elementares, mas falamos abertamente para todas as mulheres: não temos nenhuma ilusão de que nesta sociedade capitalista, baseada na exploração, poderemos alcançar nossa liberdade. Lutamos pelos nossos direitos, mas lutamos para acabar com esta sociedade miserável de opressão e exploração. É por isso, que um movimento de mulheres que se pretende revolucionário, não pode, para "dialogar" com as ilusões que existem no seio da classe operária e do movimento de massas dizer para as trabalhadoras que Dilma Roussef pode vir a ser o seu governo.
Chamamos a todas as militantes do Movimento Mulheres em Luta a se atentarem pra essa grave definição que está na capa do jornal do movimento, principal instrumento de construção do 8 de março deste ano. Informamos que as militantes do Pão e Rosas não poderão trabalhar com este material, em face da enorme ilusão que carrega para as mulheres diante do governo Dilma. Nós queremos dizer a verdade às trabalhadoras e por isso nossos materiais não vão conter esta absurda definição em relação ao governo Dilma. Reafirmamos a necessidade de construir um 8 de março em primeiro lugar anti-governista, anti-capitalista, classista e revolucionário. Por que exigimos nossos direito ao pão, mas também às rosas!


Rita Frau, membro da Executiva Nacional do Movimento Mulheres em Luta e da Coordenação Nacional do grupo de mulheres Pão e Rosas
Marília Rocha, operadora do metrô de SP e membro da Coordenação Nacional do Pão e Rosas
Camila Moraes, estudante da USP e membro da Coordenação Nacional do Pão e Rosas


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