Por
Flavia Vale, professora da rede privada e pública de BH, militante do grupo de
mulheres Pão e Rosas.
O eixo do oito de
março, dia internacional de luta das mulheres, em BH, é "Da copa eu abro
mão: queremos saúde, moradia, transporte e educação. Abaixo a repressão". Esse
eixo permitiria maior construção desde a base de estudantes e trabalhadoras que
querem aliar a organização das mulheres às lutas contra a Copa às demandas de
junho. Porém, a organização do ato em BH primou em suas últimas reuniões em
buscar o diálogo com as direções das organizações governistas como a Marcha
Mundial de Mulheres, organização que havia rompido com o ato após verem que este
poderia ser claramente antigovernista.
Opinamos que essa
ruptura deveria intensificar a construção do oito de março nas bases de
militância do conjunto das organizações presente. Foi isso o que nossas companheiras
fizeram desde o Pão e Rosas da UFMG. Convocaram e participaram da assembleia do
curso de filosofia, propondo aos estudantes a participação no ato. Na assembleia
foi votado um bloco da assembleia da Filosofia no ato com os eixos centrais:
legalização do aborto, SUS 100% estatal sob controle dos trabalhadores e
usuários, efetivação dos trabalhadores terceirizados sem concurso, a partir de
uma organização antigovernista e aliada aos trabalhadores.
Diferente dessa construção
na base foi a atuação do coletivo Frida Kahlo, dirigido pelo PSTU na UFMG. Em sua CARTA ABERTA DO COLETIVO DE MULHERES FRIDA KAHLO, fazem
um chamado a coletivos governistas como a Marcha Mundial de Mulheres, Levante
Popular da Juventude; e às direções do DCE da UFMG e da UEE, ambos dirigidos
por agrupações também governistas. O chamado é feito “em torno da luta das
mulheres trabalhadoras”, “em respeito ao processo coletivo” e diz que o 8 de
março deve refletir os “anseios” das mulheres trabalhadoras de BH. Nenhuma
palavra sequer sobre os eixos do ato do oito de março.
Ou seja, o Coletivo Frida Kahlo,
para chamar a unidade com a direção governista dessas entidades estudantis e
com a direção da Marcha Mundial de Mulheres, só podem articular sua política
abrindo mão de lutar na base dos cursos com uma política clara de denúncia do
papel que cumpre Dilma. Abrem mão, principalmente, de organizar na base um
movimento que busque ligar a luta contra a Copa às demandas de junho. Para
isso, não fazem uma crítica que seja às direções do DCE da UFMG que hoje por
exemplo dizem que o SISU é parte da democratização da universidade enquanto a
realidade da UFMG é que SISU elitizou
ainda mais a universidade que é a menina dos olhos do governo Dilma. Porém, não
entendemos que esse é um erro político isolado das militantes do PSTU da UFMG.
Nacionalmente, nós do grupo de
Mulheres Pão e Rosas estamos abrindo a discussão com a direção majoritária do Movimento
Mulheres em Luta, o PSTU, devido a sua política que praticamente transforma exigências
a Dilma em uma estratégia colocada para o movimento de mulheres. Expressão
disso foi colocarem no jornal nacional do MML, de maneira unilateral e por fora
das deliberações do movimento, a política que diz que “governar para a mulher
trabalhadora é investir mais dinheiro para combater a violência contra as
mulheres”. Essa política oferece uma ilusão que seria possível o governo Dilma
governar para as trabalhadoras. Frente a esse governo, as mulheres não podem
titubear: um governo a serviço da burguesia não pode estar a serviço dos
interesses das mulheres trabalhadoras e da juventude. A ideia criada por Lula
de que o governo do PT era para ricos e pobres deve ser desmascarada e
entendemos que essa política do PSTU não cumpre esse papel. Pelo contrário, na
UFMG, leva a que setores governistas sejam chamados de aliados e de companheiras
pelas militantes do PSTU do Frida Kahlo.
Organizações governistas como a
Marcha Mundial das Mulheres podem participar sem nenhum problema de atos que
reivindicam mais investimentos para as mulheres. Qualquer mulher que se
reivindica feminista pode levantar essa demanda num país em que 80% das
crianças de 0 a 6 anos continuam fora das creches no governo de uma mulher. Mas
fazer a exigência de investimentos em eixo político apenas para poder ter unidade
com as governistas é uma adaptação muito grande por parte do PSTU. Na
organização cotidiana das estudantes e das trabalhadoras essas mesmas
organizações são adversárias para que as mulheres sejam sujeitos de suas lutas
a partir da organização desde os locais de trabalho e estudo, com independência
das instituições que implementam a opressão das mulheres no dia-a-dia.
Na universidade, por exemplo, o
Conselho universitário e a Reitoria são vistos por organizações como a Marcha
Mundial de Mulheres como espaços institucionais a serem ocupados por elas.
Porém, na realidade, esses organismos são parte do regime elitista, racista e
opressor que implementam regras como a terceirização do trabalho que retira
direitos dos trabalhadores, em grande parte mulheres e negras, como as
trabalhadoras da limpeza por exemplo. Privilegiar ocupar esses espaços
subordina a luta das mulheres às instituições que são expressão do
patriarcalismo e do elitismo e que servem para aumentar a opressão e a
exploração. Por isso que as organizações governistas buscam pressionar o
governo para pequenas reformas no regime, como a reforma política, colocando a
estratégia das mulheres ocuparem os parlamentos e o Congresso. E o coletivo
Frida Kahlo prefere se calar frente a tudo isso em nome da unidade acima de
tudo, acima até da organização independente das mulheres.
Por tudo isso o MML deveria fazer
carne no dia-a-dia nos sindicatos, entidades estudantis e principalmente na
base das universidades e locais de trabalho a luta contra o governo Dilma em
nossa luta pelos direitos das mulheres. E hoje buscar unificar as lutas contra
a Copa com as demandas das mulheres trabalhadoras e da juventude de junho é
fazer na prática essa luta contra o governo que quer minar a possibilidade de
novas manifestações massivas. Só conseguiremos vitórias se as mulheres
trabalhadoras, negras e a juventude estiverem à frente da luta por nossos
direitos. Mas para essa batalha, a política adaptada do PSTU nacionalmente no
MML, em nome da unidade com organizações governistas, leva a rebaixar o
programa, leva a retirar o protagonismo das mulheres que podem se organizar não
nas reuniões intermináveis de correntes mas nas suas bases de trabalho, estudo
e moradia. Essa política tem que ser revista para que o MML possa cumprir o
papel que se propôs no ultimo Encontro Nacional: organizar as mulheres numa
perspectiva antigovernista, classista, anticapitalista e combativa
Convidamos todas as estudantes e
trabalhadoras que tiveram interesse e que conheceram o grupo de mulheres Pão e
Rosas a construírem também no ato de Belo Horizonte, desde a base o bloco: “Da Copa abrimos mão: queremos nossos
direitos, sem a Dilma e o patrão”, que busca na base dos cursos unir a luta
contra a copa às demandas de junho. Entendemos que a organização para esse oito
de março traz essa tarefa para as mulheres.
Basta de mulheres mortas por abortos
clandestinos: lutamos pelo direito aborto garantido pelo SUS 100% público e sob
controle dos trabalhadores e usuários!
Fim da terceirização e pela efetivação de
todas as trabalhadoras terceirizadas!
Fim da violência contra as mulheres! Organizar nossa luta a partir das entidades estudantis, sindicatos e locais de
trabalho e estudo!
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