sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

8 de março em BH: Organizar as mulheres desde a base levando na prática a luta contra os governos, as reitorias e os patrões!

Por Flavia Vale, professora da rede privada e pública de BH, militante do grupo de mulheres Pão e Rosas.

O eixo do oito de março, dia internacional de luta das mulheres, em BH, é "Da copa eu abro mão: queremos saúde, moradia, transporte e educação. Abaixo a repressão". Esse eixo permitiria maior construção desde a base de estudantes e trabalhadoras que querem aliar a organização das mulheres às lutas contra a Copa às demandas de junho. Porém, a organização do ato em BH primou em suas últimas reuniões em buscar o diálogo com as direções das organizações governistas como a Marcha Mundial de Mulheres, organização que havia rompido com o ato após verem que este poderia ser claramente antigovernista.

Opinamos que essa ruptura deveria intensificar a construção do oito de março nas bases de militância do conjunto das organizações presente. Foi isso o que nossas companheiras fizeram desde o Pão e Rosas da UFMG. Convocaram e participaram da assembleia do curso de filosofia, propondo aos estudantes a participação no ato. Na assembleia foi votado um bloco da assembleia da Filosofia no ato com os eixos centrais: legalização do aborto, SUS 100% estatal sob controle dos trabalhadores e usuários, efetivação dos trabalhadores terceirizados sem concurso, a partir de uma organização antigovernista e aliada aos trabalhadores.

Diferente dessa construção na base foi a atuação do coletivo Frida Kahlo, dirigido pelo PSTU na UFMG. Em sua CARTA ABERTA DO COLETIVO DE MULHERES FRIDA KAHLO, fazem um chamado a coletivos governistas como a Marcha Mundial de Mulheres, Levante Popular da Juventude; e às direções do DCE da UFMG e da UEE, ambos dirigidos por agrupações também governistas. O chamado é feito “em torno da luta das mulheres trabalhadoras”, “em respeito ao processo coletivo” e diz que o 8 de março deve refletir os “anseios” das mulheres trabalhadoras de BH. Nenhuma palavra sequer sobre os eixos do ato do oito de março.

Ou seja, o Coletivo Frida Kahlo, para chamar a unidade com a direção governista dessas entidades estudantis e com a direção da Marcha Mundial de Mulheres, só podem articular sua política abrindo mão de lutar na base dos cursos com uma política clara de denúncia do papel que cumpre Dilma. Abrem mão, principalmente, de organizar na base um movimento que busque ligar a luta contra a Copa às demandas de junho. Para isso, não fazem uma crítica que seja às direções do DCE da UFMG que hoje por exemplo dizem que o SISU é parte da democratização da universidade enquanto a realidade da UFMG é que  SISU elitizou ainda mais a universidade que é a menina dos olhos do governo Dilma. Porém, não entendemos que esse é um erro político isolado das militantes do PSTU da UFMG.

Nacionalmente, nós do grupo de Mulheres Pão e Rosas estamos abrindo a discussão com a direção majoritária do Movimento Mulheres em Luta, o PSTU, devido a sua política que praticamente transforma exigências a Dilma em uma estratégia colocada para o movimento de mulheres. Expressão disso foi colocarem no jornal nacional do MML, de maneira unilateral e por fora das deliberações do movimento, a política que diz que “governar para a mulher trabalhadora é investir mais dinheiro para combater a violência contra as mulheres”. Essa política oferece uma ilusão que seria possível o governo Dilma governar para as trabalhadoras. Frente a esse governo, as mulheres não podem titubear: um governo a serviço da burguesia não pode estar a serviço dos interesses das mulheres trabalhadoras e da juventude. A ideia criada por Lula de que o governo do PT era para ricos e pobres deve ser desmascarada e entendemos que essa política do PSTU não cumpre esse papel. Pelo contrário, na UFMG, leva a que setores governistas sejam chamados de aliados e de companheiras pelas militantes do PSTU do Frida Kahlo.

Organizações governistas como a Marcha Mundial das Mulheres podem participar sem nenhum problema de atos que reivindicam mais investimentos para as mulheres. Qualquer mulher que se reivindica feminista pode levantar essa demanda num país em que 80% das crianças de 0 a 6 anos continuam fora das creches no governo de uma mulher. Mas fazer a exigência de investimentos em eixo político apenas para poder ter unidade com as governistas é uma adaptação muito grande por parte do PSTU. Na organização cotidiana das estudantes e das trabalhadoras essas mesmas organizações são adversárias para que as mulheres sejam sujeitos de suas lutas a partir da organização desde os locais de trabalho e estudo, com independência das instituições que implementam a opressão das mulheres no dia-a-dia.

Na universidade, por exemplo, o Conselho universitário e a Reitoria são vistos por organizações como a Marcha Mundial de Mulheres como espaços institucionais a serem ocupados por elas. Porém, na realidade, esses organismos são parte do regime elitista, racista e opressor que implementam regras como a terceirização do trabalho que retira direitos dos trabalhadores, em grande parte mulheres e negras, como as trabalhadoras da limpeza por exemplo. Privilegiar ocupar esses espaços subordina a luta das mulheres às instituições que são expressão do patriarcalismo e do elitismo e que servem para aumentar a opressão e a exploração. Por isso que as organizações governistas buscam pressionar o governo para pequenas reformas no regime, como a reforma política, colocando a estratégia das mulheres ocuparem os parlamentos e o Congresso. E o coletivo Frida Kahlo prefere se calar frente a tudo isso em nome da unidade acima de tudo, acima até da organização independente das mulheres.

Por tudo isso o MML deveria fazer carne no dia-a-dia nos sindicatos, entidades estudantis e principalmente na base das universidades e locais de trabalho a luta contra o governo Dilma em nossa luta pelos direitos das mulheres. E hoje buscar unificar as lutas contra a Copa com as demandas das mulheres trabalhadoras e da juventude de junho é fazer na prática essa luta contra o governo que quer minar a possibilidade de novas manifestações massivas. Só conseguiremos vitórias se as mulheres trabalhadoras, negras e a juventude estiverem à frente da luta por nossos direitos. Mas para essa batalha, a política adaptada do PSTU nacionalmente no MML, em nome da unidade com organizações governistas, leva a rebaixar o programa, leva a retirar o protagonismo das mulheres que podem se organizar não nas reuniões intermináveis de correntes mas nas suas bases de trabalho, estudo e moradia. Essa política tem que ser revista para que o MML possa cumprir o papel que se propôs no ultimo Encontro Nacional: organizar as mulheres numa perspectiva antigovernista, classista, anticapitalista e combativa

Convidamos todas as estudantes e trabalhadoras que tiveram interesse e que conheceram o grupo de mulheres Pão e Rosas a construírem também no ato de Belo Horizonte, desde a base o bloco: “Da Copa abrimos mão: queremos nossos direitos, sem a Dilma e o patrão”, que busca na base dos cursos unir a luta contra a copa às demandas de junho. Entendemos que a organização para esse oito de março traz essa tarefa para as mulheres.

Basta de mulheres mortas por abortos clandestinos: lutamos pelo direito aborto garantido pelo SUS 100% público e sob controle dos trabalhadores e usuários!

Fim da terceirização e pela efetivação de todas as trabalhadoras terceirizadas!

Fim da violência contra as mulheres! Organizar nossa luta a partir das entidades estudantis, sindicatos e locais de trabalho e estudo!

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