Por Iaci Maria
No último dia
21 de novembro, como atividade da semana da Consciência Negra e do dia de
combate à violência contra a mulher (25/11), o grupo de Mulheres Pão e Rosas
realizou conjuntamente às Secretaria de Mulheres e LGBTTI e de Questão Negra do
CAFCA, pela gestão Jornadas de Junho, duas importantes rodas de conversa sobre
violência contra a mulher negra. Contou com as mesas compostas por Letícia
Parks, ativista negra de São Paulo e militante do grupo de Mulheres Pão e Rosas
e da LER-QI; Taynara Marques, militante do Pão e Rosas, que compõe a Secretaria
de Questão Negra do CAFCA; Firmínia e Izabella, militantes do PSTU, pelo
Movimento Mulheres em Luta (MML) e Miriam Alves, militante do Coletivo de
Estudantes Negrxs da UFMG (CEN).
Entre as duas
atividades (diurno e noturno), passaram cerca de 80 pessoas, sendo a da manhã a
atividade mais cheia da semana da Consciência Negra da UFMG. Letícia fez sua
fala dando bastante enfoque na questão de que é necessário que se lute pela
demandas democráticas, como junho já mostrou, sendo as do povo negro as mais
urgentes! Porém, as conquistas do povo negro não serão garantida apenas através
de reformas, dando o exemplo da PEC das domésticas, que garante os direitos
trabalhistas básicos à essas trabalhadoras, mas esse continua sendo um trabalho
precário realizado em sua maioria por mulheres negras, sendo o Brasil o país
que mais emprega esse tipo de serviço. A luta do povo negro, fundamental para o
avançar da luta de classes no Brasil, deve se dar ao lado dos trabalhadores,
classe essa fortemente composta por negras e negros, no combate a esse sistema
que oprime e explora mulheres negras com “excelência”. Denunciou fortemente o
governo PT, o grande responsável por todas as demandas reivindicadas nas ruas
em junho, como o direito ao transporte, saúde, educação, ou seja, contra a
precarização da vida, que afeta diretamente o povo negro; e também o papel da
polícia na sociedade, verdadeiro agente do genocídio da juventude negra!
Taynara
colocou em questão a Universidade de “excelência”, que com seu machismo e racismo
institucional, aplica trabalho terceirizado, precário, que afeta
majoritariamente as mulheres negras. Retomou exemplos como o trote racista no
Direito no começo do ano, e o silêncio da reitoria com relação ao racismo; e
também a produção de conhecimento a serviço de empresas como a Vale, que
utiliza essa tecnologia desenvolvida na Universidade para melhor explorar os
negros na África. Defendeu o fim do vestibular como único meio para que toda
juventude negra, trabalhadora, pobre, tenha acesso ao ensino superior, e
lembrou que desde o começo, o programa da chapa Jornadas de Junho (atual gestão
majoritária do CAFCA) já defendia a efetivação de todos os terceirizados sem necessidade
de concurso público. Lembrou também a opressão que a mulher negra sofre devido
ao padrão de beleza europeu que impõe o cabelo liso e o nariz fino.
Desde o MML,
as falas passaram por tocar também que a violência contra a mulher negra vem
desde a miscigenação, que se deu através dos estupros de escravas negras pelos
senhores brancos. Colocaram sobre o recorte de classe que há nas opressões às
mulheres e aos negros, sabendo que as mulheres negras são maioria dentre os
trabalhadores e pobres, e que é preciso se ligar à classe operária para vencer
o racismo e o machismo.
Miriam, pelo
CEN, falou enquanto mulher negra que foi recentemente agredida dentro da
universidade, reforçando que fazia a denúncia pois as mulheres não podem se
calar frente a essas situações, e devem se apoiar na sua própria organização
para responder a tais situações, já que as reitorias já se calam frente a
opressão existente dentro do campus.
Aberta a
discussão à roda de conversa, a discussão permeou temas como o combate à
violência contra a mulher, retomando o exemplo das mulheres indianas, que se
organizaram em centenas e saíram às ruas após os estupros coletivos em ônibus
na Índia virem a tona, exigindo punição aos estupradores e dizendo basta à essa
violência. Tal violência, infelizmente cotidiana, não pode ser combatida com
exigências de mais delegacias de mulheres, que significa exigir mais polícia,
mas através da auto-organização das mulheres junto aos trabalhadores, pela
conformação de secretarias e comissões de mulheres nas entidades estudantis e
sindicatos, organizações de bairro, independentes, e com a criação de
casas-abrigo para as mulheres e seus filhos, sem polícia, sob controle dessas
mulheres.
Desde a
Secretaria de Mulheres e LGBTTIs do CAFCA, foi colocada sobre a violência aos
LGBTTIs, principalmente às mulheres trans*, que somente por se colocarem como
trans* são uma afronta à sociedade, estando sujeitas aos mais diversos tipos de
violência física, moral, estupros corretivos, além de estarem relegadas aos
trabalhos mais precários, muitas vezes à prostituição, e possuírem expectativa
de vida de apenas 35 anos. Lembraram o ataque à companheira Kathalina Friedman,
no Chile, militante trans* do Pan y Rosas Chile, que foi espancada por 10
homens dentro da própria casa. Colocaram que para combater tal violência, desde
o movimento estudantil, é necessário que haja entidades militantes, que rompam
com o rotineirismo e o autonomismo, e se coloquem a perspectiva combativa de se
ligar aos trabalhadores de dentro e fora da Universidade, no combate
consequente às opressões.
Houveram
importantes e emocionantes saudações de operários fabris, militantes do Pão e
Rosas e da LER-QI, que saudaram a oportunidade de participarem de uma atividade
tão importante como aquela, e que isso era a concretização do papel fundamental
que os estudantes e as entidades estudantis podem cumprir: a aliança
operário-estudantil.
No dia 02 de
dezembro, fizemos também uma importante reunião aberta de apresentação da
agrupação, para colocar a importância da organização das mulheres desde uma
perspectiva revolucionária, classista e antigovernista, ligada aos
trabalhadores, aos negrxs e LGBTTIs, no combate consequente à todas as formas
de opressão e exploração, na luta pela emancipação dos setores oprimidos, dos
trabalhadores, e de toda humanidade! Chamamos todas e todos que participaram
dessas atividades e que vem acompanhando as atividade do Grupo de Mulheres Pão
e Rosas, a nossa atuação dentro do Movimento Mulheres em Luta e também como
parte da gestão majoritária do CAFCA, a conhecerem nosso grupo, se aproximarem
e discutirem conosco!
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