quarta-feira, 3 de abril de 2013

Apresentação do grupo de debate "Gênero e Marxismo"

Diana Assunção, dirigente da LER-QI e fundadora do grupo de mulheres Pão e Rosas, participa da apresentação do grupo de debate  "Gênero e Marxismo", em Barcelona, no Estado Espanhol, dia 04 de abril.


Estarão presentes: 
Diana Assunção, diretora do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo (Sintusp) do Brasil e militante do grupo de mulheres Pão e Rosas; que organizou o livro, recentemente editado, “A pracarização tem rosto de mulher”, baseado na luta das trabalhadoras terceirizadas da limpeza na Universidade de São Paulo, do Brasil.
Maria Moreno, operária têxtil da “Terrassa vermelha” desde os anos setenta, que em 1996, junto aos trabalhadores ocuparam a fabrica quando o patrão quis fechá-la. 

Vejam abaixo a entrevista de Maria:


Vozes e relatos da luta das operárias nos anos 70’.Entrevista com Maria Moreno, operária textil de Terrassa



Queremos dedicar este 8 de março às mulheres trabalhadoras que durante as décadas de 60 e 70 no Estado Espanhol protagonizaram uma luta incessante contra a exploração do trabalho, quando ser mulher, operária, imigrante, significava lutar numa situação “diferenciada” dentro de um potente movimento operário em seu auge. Estas perigosas mulheres, enquanto lutavam contra a ditadura patronal, questionavam um Regime ditatorial em suas formas mais misóginas[1]. Porém, num contexto de transformações econômicas sob um processo de industrialização no qual o trabalho feminino estava se reconfigurando: entre 1950 e 1975, o número de mulheres assalariadas aumentava, ao mesmo tempo que outras eram obrigadas a abandonar o trabalho quando tinham filhos. É assim que os conflitos trabalhistas femininos se chocavam com todo um aparato legislativo, educativo e institucional, os quais, junto ao grande peso da igreja, impuseram uma ordem patriarcal que proporcionou às mulheres um destino absolutamente determinado pelo biológico, sob os valores “cristãos e espanhóis” cujo papel obrigatório era submeter-se à tutela dos homens junto à restauração da família como berço do Novo Estado franquista.

Estas perigosas trabalhadoras, neste caso as texteis, teceram os fios de uma potente história. Uma história de grande atualidade para este século submerso numa grande crise, de enorme retrocesso social e dos direitos da maioria das mulheres. E nele que não soa estranho lutar por “igual trabalho, igual salário”, contra a discriminação no trabalho, contra a dupla e, às vezes, tripla jornada de exploração e opressão, lutar contra isso é lutar contra esse sistema patriarcal tão íntimo amigo do sistema capitalista. Queremos expressar estas experiências através da história de Maria Moreno, que chegou a Terrassa (Catalunha) em 1967 com 17 anos vinda do sul da Espanha, de Córdoba, para trabalhar como operária textil. Trabalhou mais de 35 anos na fábrica Hilaturas Castell, lutando incansavelmente, se organizando com suas companheiras, e no ano de 1996 até ocuparam a fábrica para recuperar os postos de trabalho e colocaram-na a produzir sob controle das operárias.
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Quando da casa para a fábrica as mulheres tornam-se perigosas

Maria era parte dassas milhares de mulheres que, como sua mãe, também operária têxtil, vinham dos povos do sul da Espanha: eram os tempos de grande afluencia de correntes migratórias das regiões mais agrárias para os centros industriais de Madri, Catalunha, País Basco e Astúrias. “Cheguei aqui e comecei a trabalhar no setor têxtil, na fábrica Hilaturas Castell, trabalhei 35-36 anos até que fecharam. Minha mãe trabalhava nesse setor também, na fábrica Torra de Neira. Mal cheguei e entrava às 4:20 da manhã para trabalhar todos os dias menos os domingos, era horroroso, eu vinha de um pequeno povoado, mudou minha vida totalmente. Eu me lembro que dentro da fábrica, com o ruído tão grande que havia, só pensava em cantar canções de meu povo para que não se esquecessem de mim, foi um choque muito forte. Nós imigrantes passavamos muito mal onde quer que fossemos...”

Logo Maria recuperará forças nos convulsivos anos da “Terrassa vermelha”, onde as fábricas têxteis eram muitas, num momento em que a incorporação da mulher ao trabalho assalariado significou uma mudança  de grande transcendência no papel social da mulher. Em Catalunha, a industria têxtil havia sido a mais avançada da economia. Esta se baseava na mão de obra feminina intensiva: em 1968, em todo o Estado as mulheres ocupavam 75% da mão de obra da indústria textil com um grande peso na Catalunha. Então, todas as mulheres de Terrassa em idade de trabalhar estavam metidas no setor têxtil. Havia fábricas muito grandes como Torra de Neira que era um monstro de fábrica, a Anônima, Castell... O setor têxtil teve uma luta histórica em Terrassa, sempre, porque havia muitos trabalhadores. Esta mão de obra feminina gerou uma grande confitividade feminina também. Na indústria têxtil de Maresme, Barcelonés ou Vallés Ocidental entre finais dos anos 50’ e 60’ surgiram conflitos nos quais se juntavam jovens trabalhadoras imigrantes com outras mais maduras, com experiência de trabalho industrial e, às vezes,  de conflitos de décadas anteriores.

Quando Maria chegou, logo seu sentimento de nostalgia é substituido pelo de rebeldia, quando conheceu as “folloneras”[2]“Na fábrica havia um grupo de jovens mais velhas do que eu e quando entrei me apresentaram outras companheiras como  “folloneras”, e disseram que não me juntasse à elas porque sempre causavam probemas e então eu disse: aí não me inclino. Depois fui me unindo às “folloneras” porque ainda que eu não tivesse noção de nada, eu as via mais companheiras. Porque se estávamos fazendo cones, e eu tinha que fazer 50 kg de fio e ao final do dia eu fazia 49kg, me tiravam dinheiro. As “malvadas”, as “folloneras”, quando se deram conta que eu não alcançava a meta e que podia reduzir meu salário, me ajudavam, jogavam cones que elas faziam na minha caixa. Aí comecei a ver que as más não eram tão más... e claro, começaram a lutar pela igualdade entre todas as trabalhadoras. Fui me dando conta de todas essas coisas e cada dia fui me unindo mais a elas...”

Maria era parte dessa nova geração de mulheres que, como um motor impossível de parar, enquanto se enfrentavam com a patronal por seus direitos trabalhistas, estavam se enfrentando sem saber com o modelo de mulher franquista que havia sido imposto durante mais de três décadas, a mulher submissa, decente, “anjo do lar”, e como ela mesma disse “católica, apostólica e romana”. “Claro, eu vinha de um povoado com uma vida tranquila e quando cheguei a Terrassa, meu pai me disse ‘Maria sozinha em Barcelona, mantenha um forte vínculo, hein?’ porque em Barcelona as coisas não eram tão tranquilas, meu pai me prendia tão forte que um pouco mais me asfixiaria! Dizia-me ‘você tem que trabalhar e manter a boca calada’. Mas eu fui desfazendo os vínculos... em frente da fabrica havia um convento. E o gerente da empresa cada dia ia a missa e depois entrava na fábrica e eu no início pensava que bom este senhor... Mas logo, pouco a pouco, fui me dando conta que não... Tínhamos umas máquinas com 300 pinos enormes, barulhentas. Então, na fábrica têxtil o gerente, o mordomo, o chefe de pessoal, por qualquer dinheiro nos vigiavam. E houve um momento que eu me apoiei por um segundo na parede porque sentia muita dor, porque estava menstruada, e nessa hora passou o senhor que ia todos os dias na missa. E veio o encarregado e me disse ‘Que está acontecendo Maria, está passando mal?’. E, claro, disse que não, também porque nesse momento era um tabu falar que estava menstruada. E o encarregado me contestou ‘Bom, só te digo uma coisa, se estiver passando mal, vá pra sua casa, porque seu descanso custa dinheiro ao dono’. Chorei duante três dias até que me senti aliviada. E assim fui tendo consciência, pouco a pouco, de que se um respiro custava dinheiro ao dono, eu queria seguir respirando, lhe custando ou não, queria seguir respirando com mais liberdade da que até agora tive. E comecei a lutas e me senti muito melhor. E, claro, deixei de ser católica, apostólica e romana.

Lembro-me quando veio uma monitora, se dirigia a mim porque eu já não era a menina de antes e estava com as folloneras, queria me fezer limpar seu espaço que era uma mesa com uma papelada. E eu lhe disse não, você vem limpar minha máquina? Então me sancionaram, três dias sem pagamento. Mas no segundo dia, minhas companheiras me meteram dentro da fábrica e eu me coloquei a trabalhar... Ao final do mês me faltavam três dias! Mas entre todas as companheiras cada uma deu um pouquinho e completou o que faltava. E a partir daí eu disse não sou mais tonta nem mais cristã...”

Homens, eram os encarregados, os pesadores e... os chefes de pessoal. Na máquina, eram todas mulheres...

Começava a nascer uma militância operária feminina vinculada diretamente às condições de trabalho. Conscientes ou não, da própria experiencia as levava a questionar os valores conservadores da instituição familiar e sua reprodução na vida pública e no trabalho. Chocavam contra um imaginário coletivo de crenças negativas – baseadas na diferença sexual de natureza universal e inevitável – sobre as mulheres que anulavam assim suas potencialidades para alcançar a igualdade. E desta maneira se justificava a grande discriminação no trabalho e no salário: em 1963, o salário/hora medio das mulheres na industria alcançava 80% dos salários masculinos, mas em 1971 havia piorado para 75%. A luta por “igual trabalho, igual salário” estava na ordem do dia. Maria, como muitas mulheres, começou a “descobrir” que a luta das mulheres operárias tinha suas próprias reivindicações. “Naquele tempo, sinceramente eu e as correntes feministas não percebíamos isso. Não, entre outras coisa, porque eramos todas mulheres e, naquele momento, não se tinha consciência da desigualdade da mulher. Mas sem saber, eu já era feminista, eu já estava trabalhando para as reivindicações das mulheres, não? Dei-me conta disso mais tarde quando vi que pagavam mais aos homens do que às mulheres, eles tinham mais tempo, eram vistos de outra maneira, ninguém os controlavam. E nós, as mulheres, sim! Se íamos ao banheiro e demorávamos já nos controlavam. Homens eram os encarregados, os pesadores e logo eram os chefes de pessoal. Na máquina, eramos todas mulheres... Uma vez nós montamos uma porque queriamos ser pesadoras, por que não podíamos? Se não tinha que carregar nada? Eram carros com rodas. Dizíamos: nós sabemos pesar, apontar o peso. Por que nos colocam em locais, segundo eles, mais inferiores? E logo você se dá conta que se não há quem faça os fios, não pode haver pesadores. Mas isso fomos descubrindo aos poucos e assim começamos a lutar por igualdade salarial, e prontamente começaram a nos atacar dizendo ‘estas mulheres sempre igual!’ Então você se dá conta de que falta algo quando quer reivindicar a igualdade nas condições de trabalho...”

Novas organizações operárias: as comissões de mulheres

As mulheres em luta se dotaram de organizações: as comissões operárias, habituais nas fábricas têxteis, formadas apenas por mulheres e por fora do sindicato vertical, que negociavam e lutavam com a patronal, as forças policiais e com funcionários da OSE. Estes foram os antecedentes do que logo serão as comissões operárias: “começamos a lutar por horas para comer, para trabalhar menos horas e conseguimos 8 horas e não trabalhar aos sábados. Para que houvesse vestiarios e pias em boas condições, não havia refeitório. Éramos 200 trabalhadoras, maioria mulheres e lutamos com muitas greves e paralizações. Tínhamos nossas assembleias e nossos próprios comitês, antes de se formar o sindicato de Comissões Operárias, o sindicato era vertical nesse momento, fazíamos as coisas por fora da fábrica, e nas assembleias decidíamos tudo o que teríamos que fazer dentro da fábrica. Realizávamos reuniões, mas não no sindicato, mas em um local que tínhamos em Terrassa. Nos reuníamos em grupos de trabalhadoras de diferentes fábricas, também vinham estudantes. Mas, claro, essas reuniões eram clandestinas. Eu me lembro a primeira vez que me chamaram... E um dia, e outro, e punições, claro! A que mais se atrevia era punida. Naquele tempo havia uma repressão muito grande. Mas tudo conseguimos com luta.”

Nos anos 70, começava a crise do setor têxtil da lã, onde se deram a maioria dos conflitos e inumeráveis mobilizações e greves contra os fechamentos e demissões. É assim, em uma situação convulsiva e de questionamento do regime e em meio a uma mudança de geração com a incorporação de jovens trabalhadoras, que nascem as comissões operárias junto ao ativismo e à militância de esquerda: “quando as comissões já haviam sido legalizadas, os encarregados de quando eu entrei já haviam ido embora pois eram mais velhos. Foram entrando pessoas novas que se filiavam às comissões e eram de nosso grupo. Então a empresa mudou, tanto, tanto, que fazíamos greve por tudo. É que chegamos a 90% de filiação às comissões operárias... Em todo esse processo, as mulheres, ainda que poucas, começaram a ser delegadas dentro das comissões operárias.” Quando Maria foi delegada, de nove delegados, três eram mulheres: “e quando vieram as eleições sindicais em 77-78, me elegeram como delegada sindical. As coisas eram muito diferentes de agora nas comissões.  Quando se propunha algo na fábrica, era realizada votação, logo chamavam a assembleia geral de comissões e se fazia o que era decidido na base. Logo, rara era a semana que não havia um curso de formação sindical...” Maria lamenta, com dor e raiva, o que são os sindicatos agora das Comissões Operárias.... “então, claro, aquilo sim que era meu sindicato naquele tempo.”

Quando fazíamos greve, a fazíamos por todas as nossas reivindicações, mas também em solidariedade com todos os que lutavam...

María nos contava como se coordenavam e se solidarizavam com as demais fábricas: “Se, veja, se em Madrid, por que naquele momento eram os cinzentos, espancassem uma pessoa, nós parávamos. No País Basco teve uma greve muito grande, nós paramos um dia... Quando a Seat, a AEG, faziam greve, nós sempre fazíamos também. Quando nós fazíamos greve, a fazíamos por todas as nossas reivindicações, mas também em solidariedade com todos os que lutavam. E para não nos enfrentarmos com nossos próprios trabalhadores, para fazer os piquetes nós mudávamos de fábrica ou distribuíamos panfletos na hora da refeição. Também como se organizavam contra a repressão, como as mulheres sempre estavam dispostas a fazer o impossível para liberar todos os presos. Nas comissões de trabalhadoras, era normal perceber que as mulheres não sofreriam retaliação de forma tão imediata como os homens. Naquele tempo, havia muita repressão, apanhavam muitas pessoas, então nós mulheres fazíamos caixas de resistência quando havia companheiros presos, e os torturavam. Nas manifestações havia repressão também contra as mulheres, porém era mais contra os homens. Os cavalos nos tiravam. Lembro-me do toque de recolher em Terrasa...”

A ocupação de fábrica: “As máquinas agora são nossas... e vimos que se podiam manter os postos de trabalho...”

María nos conta seu último ano na fábrica, passados 35 anos, quando e por que decidiram ocupar a fábrica e colocá-la para produzir: “Havia rumores de que a fábrica estava em crise... Então pedimos que viessem os economistas das comissões, fizeram um estudo e viram que havia uma grande fraude. E começamos a denunciar a situação, até que quando voltamos de férias, em 12 de outubro, se fechou. Houve um domingo em que uma de nós viu como tiravam coisas de um caminhão. Na segunda, quando chegamos ao armazém e haviam tirado um carregamento, fomos até a direção, pedimos explicações e nos disseram que estavam fechando. Voltamos à fábrica, contamos às trabalhadoras, e logo se formou um protesto...! Vieram as comissões, fizemos assembleia e decidimos que, como havia muito trabalho, as máquinas estavam cheias de trabalho(!), dissemos então que iríamos seguir. Um dia, se apresentam para desalojar a fábrica, com a polícia e a juíza. Nós sabíamos, e estávamos todas as mulheres na porta e os homens atrás. E dissemos a eles: daqui não sairemos, se quiserem nos colocar para fora terão que fazer, mas à força e nos matando. Porque se não vamos poder dar de comer a nossos filhos, então nos mate, e já estão nos matando. E a juíza não colocou resistência nenhuma, nos olhou, olhou para a polícia, e se foram. Desde aquele dia dizíamos, depois de uma assembleia de todas as trabalhadoras e do comitê: aqui há trabalho e ficaremos trabalhando. Primeiro quisemos fazer uma cooperativa, mas não poderíamos, pois teríamos que pagar uma dívida que não era nossa; além do que não tínhamos dinheiro. Porque, claro, como o dono se declarou em crise nós não tivemos indenização depois de 35-40 anos de trabalho ali! Passamos todos ao fundo de garantia. Havia muitos produtos e os armazéns estavam cheios. Então dissemos: as máquinas agora são nossas, aqui ninguém vem leva-los. Então poderíamos vender os gêneros e vimos que se podia manter os postos de trabalho. Estivemos sete meses em ocupação, fizemos três turnos: Manhã, tarde e noite...”

E se hoje ocuparmos as fábricas que fecham?

María nos conta como foram esses meses: “a maioria éramos mulheres. Foi uma grande experiência, ainda que muito difícil. Cortaram a luz, o gás e os credores vinham e nos insultavam e nos cobravam as dívidas. E respondíamos, não, aqui os primeiros credores são os trabalhadores, nós não cobramos nada. Mesmo comtudo isso, ficamos sete meses com a fábrica ocupada. Conseguimos vender tudo e, ao menos, pagar todos os salários que os donos nos deviam e seguir trabalhando esses meses. Mas foi muito duro manter a ocupação. Mas creio que, no final, tudo o que fizemos foi pensando nos demais, mostrando que fazíamos por todos e não por nós mesmos. E as pessoas responderam muito bem, se solidarizaram conosco, faziam guarda, até celebramos um natal ali na fábrica com gente de todos os locais, tecíamos gorros e lenços para eles... Ainda que não alcançamos tudo que queríamos, foi muito bonito também. “

Maria já conhecia muito bem a experiência da fábrica de Zanon na Argentina, ocupada e posta a produzir sob controle dos trabalhadores. Há alguns anos, fomos com ela a uma fábrica que estava correndo risco de fechar, a DERBI, onde María contou sua experiência de ocupação como uma possibilidade real, enquanto explicávamos junto a dezenas de estudantes que haviam levado sua solidariedade aos operários, a grande experiência de Zanon. Refletimos com María, sobre se a ocupação de fábrica, posta sob controle dos trabalhadores, pode ser uma saída à crise, diante das centenas de empresas que fecham e milhares de demissões: “Sim, claro! Eu lhes digo que não resistam à primeira oportunidade de mudar as coisas quando lhes disserem ‘esta fábrica já está fechada’, não. É preciso lutar, é preciso resistir e fazer todo o humanamente possível para trabalhar e para que teu trabalho tenha um sentido, demonstrando que podemos trabalhar sem os empresários. Tudo o que temos feito e conseguido lutando não pode desaparecer porque um funcionário deseja. Não se render, lutar e lutar. Agora mesmo vamos, à nossa maneira, nos colocar contra os desalojamentos, temos que demonstrar sempre que ‘sim é possível’.  Porque tudo o que temos ganhado tem sido com a luta dos trabalhadores. Se ocuparmos as fábricas quando os empresários querem fechá-las, além de impressionante, os empresários se assustariam! Porque se eles perceberem que os trabalhadores podem tomar a fábrica, iriam pensar um pouquinho. Seria impressionante num momento em que estão fechando fábricas sistematicamente... ainda mais as empresas que têm benefícios! Como nos contavam no debate de ontem os trabalhadores da Seat. Ontem lutávamos com medo, mas contra a ditadura de Franco, hoje acredita-se na democracia, mas o que há é uma ditadura patronal...”

Notas
[1] Que tem aversão às mulheres.
[2] “folloneras” era a forma pejorativa como chamavam as mulheres que se colocavam em luta, “rebeldes descontroladas”. Depois elas se apropriam deste termo de forma não pejorativa.





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