Elas são as primeiras pessoas para as quais dou‘bom dia’, negras, uniforme azul que as diferenciam de todos os outros funcionários da escola estadual onde trabalho. “Tão cedo no batente?” – pergunto às 6h40. “É claro, professora. Tudo precisa estar em ordem pra quando vocês chegarem, não é?” – responde uma das duas terceirizadas que limpam uma escola que atende mais de 800 alunos.
Entram todos os dias às 5h da manhã, saem às 16h, param meia hora para o almoço que trazem de casa, zanzeam com vassouras e baldes nas mãos. Sempre juntas, a única coisa que lhes dá identidade é as luvas que usam, que têm seu nome escrito. Ali ninguém fala com elas, nem os alunos, nem os demais funcionários e professores. (...) Mas eu ouvia aquelas mulheres e me lembrava de outra que conheço, tão parecida com elas – Silvana, resolvi falar do livro. “Vou trazer um presente pra vocês na segunda-feira ...”. “O que, professora? Não precisa se incomodar com a gente!”. “É um livro que fala sobre vocês, sobre mulheres terceirizadas, que dão duro, trabalham limpando um lugar, à noite chegam e casa e trabalham mais ... Acho que vocês vão gostar!”. Mostro a elas o piloto do livro, que estava na minha mochila. Na capa duas terceirizadas, usando uniformes escuros e com vassouras na mão, uma diz para outra: “Olha, podia ser a gente!”.
Leia a resenha na íntegra no blog de Paulinha Berbert: http://carregobandeira.blogspot.com
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