quinta-feira, 9 de abril de 2009

Nós mulheres no curso de Letras

Em boa parte dos cursos de Letras, nós mulheres somos a maioria. O que podemos notar também é que é um dos cursos que menos recebe verba para o seu aprimoramento; mas, em contrapartida, é um dos que mais recebe estudantes novos a cada ano. Por que isso acontece? Na nossa visão, o curso de Letras é visto pelos governos e empresários (que são os que decidem as prioridades dadas pelas universidades a cada curso) como um curso para formar professores em larga escala, gastando o menos possível, para suprir as demandas principalmente da educação básica do país a serviço do mercado. Isso porque os capitalistas precisam que a sua mão-de-obra tenha a mínima instrução sobre a língua para ler e desenvolver textos, o nível básico de alfabetização.

E o que vemos é que os principais intelectuais/pesquisadores na área são homens – como por exemplo Antonio Candido, José Luis Fiorin, Alfredo Bosi, Jaime Guinsburg, Roberto Schwarz, e tantos outros que podemos listar – produzindo um discurso que não contesta o status quo da sociedade e a opressão às mulheres. E nós ficamos relegadas à função do ensino básico. Nisso se expressa o machismo que se perpetua na universidade como um todo, que cria uma visão de que as mulheres “são melhores” para ensinar e passar adiante aquilo que foi produzido intelectualmente pelos homens, reiterando o papel designado socialmente às mulheres de mãe, procriadora e reprodutora da ideologia dominante. Na verdade, essa concepção está a serviço de baratear o custo da própria educação, pois, como podemos ver através das estatísticas, as mulheres recebem menos que os homens pelas mesmas funções; é pago menos para o ensino básico que para o médio e para o superior. E sabemos que tanto um ensino quanto outro demanda preparo, e têm distintos tipos de dificuldade; porém a carga de trabalho do primeiro é ainda maior e, consequentemente, o desgaste da saúde também.

Temos que nos dar o papel de questionar essa estrutura de poder com produções próprias, sabendo que somente o fato de haver mulheres em cargos de poder na universidade não muda a nossa situação; a USP tem no cargo da Reitoria uma mulher – Suely Vilela – e a PUC teve Maura Véras, que servem aos mesmos interesses dos capitalistas que nos exploram e nos oprimem. Devemos combater teórica e praticamente a ideologia burguesa que é criada nas universidades a serviço das empresas, e nos colocarmos lado a lado com as trabalhadoras e trabalhadores negros e brancos que sofrem ainda mais com a exploração e opressão da sociedade capitalista; e colocarmos nosso conhecimento a serviço de seus interesses e embasar teoricamente a nossa a luta contra a opressão às mulheres.

Chamamos todas as estudantes à reunião do grupo de mulheres Pão e Rosas aqui na USP no dia 16/04, às 12h e às 18h, na sala 233 da Letras. E as estudantes que quiserem fazer em sua universidade, a nos contatarem que organizaremos conjuntamente. Pão e Rosas Letras USP

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