Rita Frau, Tristán, Virginia Guitzel, Silvana Ramos, Dini Xavier e Diana Assunção na Plenária Nacional do Pão e Rosas |
Neste sábado, 10
de Agosto, realizou-se em São Paulo, a Plenária Nacional do grupo de mulheres Pão
e Rosas que reuniu cerca de 200 mulheres e homossexuais entre trabalhadoras, estudantes
secundaristas, universitárias, trabalhadoras terceirizadas da limpeza, operárias
de fábricas, metroviárias, bancárias, trabalhadoras da USP, professoras de
diversos de diversos estados do país (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro).
As trabalhadoras à frente!
Dini Xavier, da Secretaria de Mulheres do Sintusp |
A atividade teve
início com a abertura de Silvana Ramos, trabalhadora terceirizada linha de
frente da luta contra a precarização do trabalho na USP, saudando todas as companheiras
ali presentes e contando um pouco de como a luta que travou para receber o salário
e os benefícios na greve da USP lhe aproximou da vida política e da necessidade
de se organizar. Colocou a importância que se faz hoje as mulheres se
organizarem, já que são as mulheres que estão nos piores postos de emprego, são
oprimidas pela dupla (quando não tripla) jornada de trabalho e dos abusos
(morais e sexuais) que sofrem. Dizia que a lógica que os patrões empregavam
para contratar mulheres para esses empregos terceirizados era de que mulher,
quando levava bronca, chorava no banheiro. “Eu
não. Nós, trabalhadoras na USP, não! Não choramos no banheiro, nós gritamos!
Nós lutamos para conseguir nossos direitos”.
Silvana também expressou
que as mobilizações que tiveram em junho levantadas pela juventude fez “todo mundo ir atrás: os trabalhadores, as
mulheres, os homossexuais...” e que agora nesse dia 14 e 30 de agosto, era
preciso que as mulheres estivessem presentes levantando suas reivindicações. Em
seguida, Dinizete Xavier, da Secretaria de Mulheres do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores
da USP, que apoiou ativamente as greves das terceirizadas em 2007, 2011 e 2013)
saudou as mulheres que estavam na atividade e apontou de como nossa luta está
ligada a um questionamento ao Estado, resgatando em linguagem simples as
definições de Engels sobre a origem da família, da propriedade privada e do
próprio estado. E de como achamos que nossos inimigos não são os homens, mas
sim capitalismo.
A juventude mostra o caminho!
Clismênia, da Unesp de Marília |
Tristan, militante
do Pão e Rosas no Rio de Janeiro, partiu das mobilizações de junho e do papel
que muitos sindicatos poderiam ter cumprido se tivessem forjado uma aliança dos
trabalhadores com as centenas de milhares de jovens que saiam as ruas exigindo
saúde, educação e transporte públicos, gratuitos e de qualidade. Colocou que
essa combinação explosiva, que desde o Pão e Rosas defendemos, é o que a
burguesia e os patrões têm mais medo. E que se no dia 11, os sindicatos tinham
sido um impeditivo para os trabalhadores, a vontade e os anseios destes só
tinha a crescer. Colocou também de como a visita do Papa Francisco ao Brasil
foi marcado por muita repressão, tendo manifestantes atingidos com balas de
fogo, até bala de fuzil. E também muita hipocrisia, pois enquanto a voz das
ruas gritava por serviços públicos decentes, o governo que dizia não ter
dinheiro, gastava 118 bilhões dos cofres públicos para trazer o Papa para o
Brasil. Relacionou a repressão diretamente com o sumiço de Amarildo,
trabalhador negro da rocinha desaparecido pelas mãos da UPP, e de como ele não
é o único, mas é parte da realidade também das mulheres morrem cotidianamente
seja pela violência domestica, pela polícia, pelos maridos, etc.
Jéssica, Diretora do CAELL USP |
Virginia,
estudante da Fundação Santo André, discutiu sobre a ilusão que muitas mulheres
tinham que com a chegada de Dilma (PT) como presidente da republica seus
direitos estariam garantidos. Contou como desde a campanha eleitoral Dilma já
demonstrava que não seria capaz de garantir esses direitos, pois sua base de
apoio, já nas eleições a fez desistir de defender a legalização do aborto e
assim garantir que 200.000 mulheres deixassem de morrer todos os anos.
Continuou com o acordo Brasil Vaticano feito por Lula favorecendo a Igreja Católica
com isenções fiscais, vetou o kit anti-homofobia que levava para as escolas,
desde a infância, a diversidade sexual e a necessidade de respeitá-la. E por
fim, abriu espaço para que essa base aliada chegasse na Comissão de Direitos
Humanos com Marco Feliciano, e recebeu de braços abertos o Papa da ditadura
argentina no Brasil. Por isso, as mulheres não podiam ter nenhuma ilusão em
Dilma, ou no PT ou nos patrões. Era preciso nos organizar de forma independente
e nos inspirar nos exemplos como as mulheres indianas que se organizaram e
foram às ruas em centenas de milhares para lutarem contra o abuso e os estupros
que acontecem frequentemente contra as mulheres. Terminou lembrando de Rosa
Luxemburgo , revolucionária alemã do século XX, que se colocava a tarefa de
lutar por um mundo “onde sejamos
socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”.
“Esta é minha 1ª Plenária...”
Adriana, professora da Zona Norte de São Paulo |
Dezenas de novas
trabalhadoras e estudantes se encontraram nesta Plenária Nacional do grupo de
mulheres Pão e Rosas. Com destaque para a delegação de mais de 15 companheiras
da Unesp em greve, a voz das mulheres trabalhadoras se fez sentir na
intervenção de uma companheira operária de fábricas na Zona Oeste, que iniciou
sua fala dizendo que era sua 1ª Plenária, e que na próxima traria mais
operárias para se juntar com outras trabalhadoras e com a juventude. Jaciara,
trabalhadora do comércio no Rio Pequeno, escancarou o problema da opressão
homofóbica e das instituições religiosas que “querem decidir quem eu posso amar”.
Foram dezenas de intervenções
de estudantes e trabalhadoras que relatavam suas vidas e a opressão cotidiana que
vivem e como combatiam o machismo em casa e no trabalho. Relatos de
discriminação por serem lésbicas, por serem negras, por serem trabalhadoras
terceirizadas. Se fazia claro que era urgente se organizar para não mais deixar
as mulheres morrerem por abortos clandestinos, que era urgente lutar para que
as travestis e transexuais tivessem acesso a saúde e educação respeitando sua
identidade de gênero e garantindo atendimento qualificado para que a
perspectiva de vida não fosse mais de 35 anos.
Jaciara, comerciária |
Esteve presente a
companheira Patrícia Lessa, do coletivo Maria Lacerda, de Maringá que colocou
um relato das atividades do grupo e também interviu Marília Rocha, operadora de
trem no Metrô de Sâo Paulo que encabeça como candidata a presidente para as
eleições do Sindicato dos Metroviários a Chapa
3 – Pela Base! que está sendo ameaçada de veto pela Diretoria atual do
Sindicato e a Comissão Eleitoral.
Uma trabalhadora
dos “bandejões” da USP relatava seu cotidiano no local de trabalho e sua
revolta com as condições dos terceirizados que nem tinham comida no almoço e
eram impedidos de almoçar no próprio bandejão. As estudantes da UFMG relataram
como estão organizando o Pão e Rosas em Minas Gerais, Jéssica diretora do CAELL
e estudante da Letras retomou a luta contra a ditadura da beleza que nos impõe,
Letícia Parks fez um forte relato resgatando a luta de Dandara e muitas outras
intervenções transformaram a Plenária Nacional do Pão e Rosas em um emocionante
e promissor encontro entre trabalhadoras e estudantes que mostrou o enorme
potencial de construção de um forte movimento de mulheres.
Nas fábricas, escolas e universidades: construir o Pão
e Rosas!
Rita Frau, no encerramento |
Ao final, Rita
Frau, professora da rede estadual de São Paulo em Campinas encerrou fazendo um
forte chamado a construir o Pão e Rosas, propondo que nas próximas semanas
organizássemos reuniões do Pão e Rosas por local de trabalho e estudo para
debater as principais conclusões desta primeira Plenária Nacional. Rita colocou
a importância de cada companheira convencer mais mulheres e lutar por nossos
direitos junto com o Pão e Rosas. Serão criados grupos de emails para debate
entre todas as companheiras de diversos estados que estiveram presentes e
debater a organização nos próximos meses de seminários abertos sobre “Gênero e
Marxismo” nas universidades avançando em debater nossa estratégia de luta pela
emancipação das mulheres. Queremos em breve organizar uma nova e maior Plenária
Nacional do Pão e Rosas, preparando nossa forte intervenção no Dia
Latino-Americano Pelo Direito ao Aborto bem como nos espaços de mulheres
organizados pelos Sindicatos e pela CSP-Conlutas.
Coletivo As Mãos de Jeanne Marie |
Ao fim, o
recém-formado Coletivo As mãos de
Jeanne-Marie apresentou uma performance sobre as mulheres revolucionárias mesclando
trechos do poema de Arthur Rimbaud “As
mãos de Jeanne Marie” com trechos do livro “Pão e Rosas” de Andrea D’Atri, colocando a necessidade da
independência das mulheres trabalhadoras em relação às mulheres
burguesas. A atividade continuou com uma grande festa com a DJ Cecília
Lara, cerveja e comida, além da exposição artística organizada pela estudante
de Ciências Sociais Ravenna Kuneva e outras exposições e colagens. Durante toda
a atividade funcionou uma creche com companheiros estudantes e trabalhadores
que garantiram o cuidado com as crianças.
Como conclusão,
também ficou remarcado que é preciso desde já ir às ruas nesse dia 14 e 30 ao
lado da juventude e dos trabalhadores para lutar por transporte público estatal
e sob controle dos trabalhadores e contra os escândalos de corrupção entre o
governo e o Metrô de São Paulo, construindo também um novo dia de paralisação
nacional dos trabalhadores. Venha conhecer e construir o grupo de mulheres Pão
e Rosas! Chamamos a nesta semana construir o dia 14 junto com a juventude e os
trabalhadores, colocando também a bandeira das mulheres para avançarmos na luta
anti-capitalista e arrancar nosso direito ao pão (todas nossas necessidades
para viver) mas também o direito as rosas (nosso direito ao lazer, a cultura e
a liberdade).
Nenhum comentário:
Postar um comentário