Publicamos abaixo nota extraída do site da LER-QI, sobre debate realizado essa semana na Faculdade de Direito da USP, onde Diana Assunção, diretora do Sintusp, dirigente da LER-QI e fundadora do Pão e Rosas e Glória Oliveria, trabalhadora terceirizada da limpeza da USP, estiveram ao lado dos professores Jorge Luis Souto Maior (USP) e Ricardo Antunes (Unicamp) discutindo a precarização do trabalho e a terceirização na universidade. A luta dos trabalhadores terceirizados e tercerizadas da USP de 2011 esteve em pauta e Diana Assunção apresentou o livro "A precarizaçao do trabalho tem rosto de mulher" que retrata a luta dos trabalhadores tercerizados e terceirzadas da USP que trabalhavam para a empresa 'Dima' em 2005/2006.
Por Celso Jr
Trabalhador da ECA e militante da LER-QI
Na última quarta-feira, dia 05, realizou-se na sala dos estudantes da Faculdade de Direito da USP (Lgo. São Francisco) um ato/debate contra a precarização do trabalho. Organizado pelo Centro DESFORMAS e pelo SINTUSP, o ato teve como convidados na mesa os professores Jorge Souto Maior (Juiz do Trabalho e um dos organizadores do evento), Jorge Grespan (USP), Ricardo Antunes (Unicamp), Glória Oliveira (trabalhadora terceirizada da limpeza) e Diana Assunção, diretora do SINTUSP e dirigente da LER-QI.
No debate que teve sala cheia em pleno horário de aula, o Prof. Jorge Souto Maior convidou os alunos presentes à refletirem sobre o papel social dos estudantes do Direito, frente à esta situação no país e a necessidade de passar pra ação ativa, contribuindo para acabar com o trabalho precário. Com mesmo entusiasmo, o sociólogo da Unicamp Ricardo Antunes, observou da necessidade de lançar uma ampla campanha para acabar com a terceirização dentro da USP, dentro das instituições públicas, mas também estender para o país. Disse que nunca havia imaginado, quando perto de se aposentar, que dividiria a mesa com uma trabalhadora terceceirzada, o que para ele era motivo de orgulho.
Glória expressou com muita emoção, a vida precária dos trabalhadores terceirizados que não podem conversar com estudantes, funcionários e docentes, dentro da universidade, e não tem direito à almoçar nos restaurantes universitários, nem deixar seus filhos nas creches. Relatou que ela foi transferida de um departamento à faculdade de Filosofia por ter conversado com estudantes e algumas colegas da limpeza. Mas por ironia, como ela mesma disse: "foi lá que encontrei minha outra família... que até já me fez correr de bombas da polícia no meio da rua", referindo-se aos estudantes que compuseram o bloco do 1º de maio, reprimido pela polícia militar, com bombas e balas de borracha. Foi aplaudida de pé pelos mais de 150 presentes.
Diana Assunção, lembrou a fala de um terceirizado durante uma reunião com estudantes da Ciências Sociais, quando após falar mais de 30 minutos sem parar, ele disse: "Desculpe falar tanto. É que há 14 anos não consigo conversar com estudantes aqui...", expressando a necessidade de lutar para que estes trabalhadores sejam efetivados, sem necessidade de concurso público. Diana também refletiu sobre a necessidade dos presentes pensarem algum apoio aos trabalhadores terceirizados da UnB, que estão em ameaça de serem demitidos, dentro de um plano de contingência financeira da Reitoria da universidade, mostrando que o processo da precarização é nacional e necessita ser combativo do “Brasil potência” à “USP de excelência”.
Após as exposições dos convidados, vários estudantes falaram no sentido de ampliar as discussões e a campanha. Inclusive organizar um fundo de "greve" ou solidariedade, pois os trabalhadores, apesar de terem recebido o salário e os custos rescisórios, ainda não puderam dar entrada no FGTS e seguro desemprego, pois o sindicato oficial da categoria (SIEMACO) não liberou os documentos necessários.
Com um importante protagonismo dos estudantes da Faculdade de Direito, houve também a proposta de organizar um comitê contra a precarização, dentro da faculdade de direito e um ato democrático contra a terceirização, no Lgo. São Francisco, relembrando as passagens históricas da luta de estudantes de direito e juristas contra a escravidão negra, no final do século XIX no Brasil, inclusive com atos dentro da Faculdade do Lgo. São Francisco. O Comitê Contra a Terceirização, que está sendo organizado da FFLCH tendo a frente o Bloco ANEL às Ruas, se colocou a disposição para ajudar a construção de um Comitê na própria Faculdade de Direito.
Diana saudou os professores presentes, relembrando que em um momento onde a maioria dos intelectuais está ao lado do governo ou cooptado pelo capital, era de extrema importância a presença destes professores junto aos trabalhadores mais explorados de nossa classe que começam a se levantar. O Prof. Jorge Grespan, que mediou o debate, agradeceu a presença de todos e aproveitou para divulgar mais uma vez o livro “A precarização tem rosto de mulher”, organizado por Diana Assunção, que estava sendo lançado naquele dia.
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