Por Diana Assunção e Pablito,
diretores do Sintusp e dirigentes da LER-QI
Enquanto nas obras da construção civil no país inteiro os trabalhadores denunciam o regime semi-escravista das condições de trabalho que sustentam o crescimento econômico brasileiro, o PAC de Dilma e Lula, a Universidade de São Paulo, uma “universidade de excelência”, foi tomada pelos trabalhadores e trabalhadoras terceirizadas da limpeza. Na semana inteira todos se queixavam do não pagamento dos salários e do descaso da empresa com os trabalhadores, já que a empresa terceirizada União teve o “fim de seu contrato” com a USP, o que serve de justificativa para mascarar a demissão em massa destes trabalhadores, que já possuem salários de miséria e escassos direitos.
Da Faculdade de Educação, da Faculdade de Letras, Filosofia e Ciências Humanas, da Física, Geociências, entre tantas outras, os trabalhadores foram em marcha até a Reitoria, para exigir o pagamento dos salários, e também a garantia de que os trabalhadores pudessem ser recontratados pela nova empresa, como uma forma, ainda que parcial, de conseguir garantir a continuidade do emprego.
Em frente à Reitoria, com as mulheres trabalhadoras na linha de frente, mostrou-se o quão explosiva pode ser a luta contra as condições precárias de trabalho. Aqueles que permanecem “invisíveis” nos corredores, nos cantos da Universidade, fizeram valer a sua voz, emocionaram os que estavam ali presentes. Diziam que não tinham nada a perder, e que não iam dar nenhum passo atrás. É a USP de excelência mostrando o quanto de precariedade a sustenta. Gritando “Ô Reitoria, cadê você? Eu vim aqui pra receber!” os trabalhadores mostraram até que ponto pode ir a truculência desta Reitoria, que já hoje ataca tantos setores na Universidade, desde demitir os trabalhadores aposentados, até de forma autoritária querer colocar fim no curso de Obstetrícia. Vale também dizer que hoje os trabalhadores entraram nas salas de aula para fazerem ouvir as suas vozes. Junto aos estudantes do Bloco ANEL às Ruas, mais de 30 terceirizados passaram nas aulas da Ciências Sociais, História e Letras para chamar o apoio dos estudantes.
O SIEMACO, Sindicato dos trabalhadores terceirizados, por fora da organização dos próprios trabalhadores se reuniu com a Reitoria pra tentar chegar num acordo. Os trabalhadores, pacientes, aguardaram até o retorno desta Comissão. Enquanto aguardavam, discutiram as causas e conseqüências profundas da terceirização, a necessidade de uma unidade com os efetivos, com os estudantes, com os intelectuais e professores. Discutiu-se como organizar-se desde a base, colocando em prática a democracia operária, onde os terceirizados tomavam suas decisões a partir da decisão da maioria, debatendo as distintas posições, e sem dirigentes sindicais que impunham uma política por cima da opinião dos terceirizados. O Sintusp apresentou aos trabalhadores a necessidade de não lutar apenas pelo pagamento do salário, mas de que é necessário lutar pela efetivação de todos os terceirizados sem a necessidade de concurso público, condição elementar pra unir nas fileiras operárias.
A partir desta experiência, expressou-se o papel fundamental que cumpriu o Sindicato dos Trabalhadores da USP colocando-se a serviço da luta, colocando-se como um sindicato a serviço dos trabalhadores, um sindicato para fazer a diferença na luta de classes. Todos gritavam “Ô Reitoria, vê se escuta. Uma só classe, uma só luta!”. Também, os trabalhadores passaram a questionar o papel que cumpria o próprio SIEMACO, que, demonstrou na prática mais uma vez o papel da burocracia sindical pelega que, em nome de manter seus próprios interesses e os lucros dos patrões toma decisões à revelia dos trabalhadores defendendo descaradamente a conciliação de classes para garantir a “paz social” que perpetua as péssimas condições de trabalho destes companheiros há tanto tempo. Percebendo que não conseguiriam controlar a ira destas mulheres e homens contra a reitoria indicaram a dedo uma comissão que entrasse para tratar com a reitoria sem consultar os trabalhadores e, junto com a Guarda Universitária impediram à força a participação do Sintusp, tudo para ficar com as mãos livres para trair cinicamente os trabalhadores. A tragédia da burocracia sindical que consegue fazer os trabalhadores deixarem de acreditar em suas próprias forças.
Mas nesta sexta-feira, uma sexta-feira de fúria para os terceirizados, prevaleceu o ódio e a indignação. Prevaleceu a vontade de levantar a cabeça contra a humilhação, contra o projeto precário de universidade que nada mais é do que o projeto precário do país onde vivemos, que se sustenta sob o trabalho semi-escravo, sobre a morte do povo nas enchentes, sob a terceirização do trabalho. E é por isso que mesmo depois da Comissão ter informado aos trabalhadores que não chegou-se a nenhum acordo, que a Reitoria suspendeu o pagamento da empresa União por ela estar incluída em cadastro de inadimplentes, e que somente na segunda-feira o Sindicato iria entrar com alguma medida pra que a Reitoria repassasse o dinheiro à empresa.. ainda com todas estas manobras e respostas turvas que apenas demonstram que os de cima estão pouco preocupados com os de baixo, os trabalhadores e trabalhadoras terceirizadas da USP gritavam numa só voz: Acreditar em nossas forças, a paralisação continua na segunda-feira! Nenhum passo atrás!
Por uma grande mobilização na segunda-feira!
A Reitoria quer privatizar a USP e a terceirização do trabalho é um dos pilares fundamentais deste ataque. A importância de que sejam estes trabalhadores os que hoje se levantam é a importância de lutar contra todo o projeto da Reitoria. Todos os efetivos, estudantes, professores, intelectuais, artistas, organizações de direitos humanos devem comparecer a esta urgente manifestação, na segunda-feira, dia 11 de abril, a partir das 7h da manhã em frente a Reitoria. Os estudantes da USP Leste que lutam contra o fechamento de cursos, que lutam contra a precarização do ensino, devem comparecer em peso, e unificar a luta de trabalhadores, estudantes, terceirizados e professores. Enfrentar o governo tucano que quer destruir a universidade significa construir uma mobilização histórica. Sigamos o exemplo dos terceirizados e terceirizadas da União. Porque somos uma só classe, numa só luta!
“A precarização tem rosto de mulher”: história e realidade
Quando explode a mobilização das trabalhadoras e trabalhadores da União, as Edições ISKRA lançam o livro “A precarização tem rosto de mulher”, que conta a história da luta das trabalhadoras e trabalhadores da Dima. Muitas mulheres que hoje lutam, também estiveram nesta luta anterior. Aprenderam como se auto-organizar, aprenderam a diferença entre um Sindicato combativo e um Sindicato pelego, aprenderam que não tem nada a perder e que é necessário acreditar em suas próprias forças. Durante a paralisação, organizou-se uma apresentação do livro, com Diana Assunção, trabalhadora da Faculdade de Educação e organizadora do livro, onde expressou que se a precarização tem rosto de mulher a luta que acontecia naquele momento era uma prova disso, era apenas olhar para os lados e ver a quantidade de mulheres ali presentes. Terminou dizendo “Esse livro não é pra ficar na estante ou dentro das bolsas. É um livro pra luta. É um livro pra essa luta. E a luta de vocês, é a minha luta, a nossa luta”.
*Artigo extraído do site da LER-QI.
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