Nós, do grupo de mulheres Pão e Rosas, lutamos por educação sexual em todos os níveis do ensino público desvinculada da fé religiosa para que as mulheres decidam sobre sua sexualidade e seu corpo. Lutamos por contraceptivos gratuitos e de qualidade para que nenhuma mulher necessite recorrer ao aborto. E lutamos pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito para que nenhuma mulher morra pela falta de acesso a uma simples cirurgia que pode evitar uma gravidez indesejada, seja fruto de violência ou não. Mas, ao mesmo tempo, nós lutamos pelo direito pleno à maternidade. Porque nessa sociedade capitalista de miséria, agonia e opressão, ainda que nos digam que somos “mães e reprodutoras por natureza”, o Estado não nos propicia as condições mínimas para desfrutarmos plenamente de uma gravidez, como saúde pública e de qualidade, educação pública, saneamento básico, moradia, alimentação, lazer e cultura.
As mulheres pobres e da classe trabalhadora sentem essas consequências de forma mais abrupta, e sabemos que com a piora da crise econômica, esses problemas sociais tendem a piorar, pois são sempre esses os primeiros orçamentos a serem cortados pelos governos, mesmo que para os capitalistas seja destinado uma quantia muito maior de dinheiro para salvá-los da crise. E isso significa que o capitalismo tenderá a empurrar ainda mais as mulheres ao aborto, enquanto o discurso em “defesa da vida” tomará proporções ainda mais reacionárias para nos obrigar a “desfrutar das alegrias da maternidade” mesmo contra nossa própria vontade. Mesmo que essa gravidez seja fruto de uma violência que marcará nossos corpos e mentes por toda a vida. Mesmo que seja em condições insalubres, e mesmo que possamos morrer. É isso que eles chamam de “defesa da vida”.
Sabemos que os direitos não se mendigam, se conquistam. Por isso rechaçamos o ato do dia 28/03 na Praça da Sé contra nossos direitos, e deve ser parte de nossa luta o enfrentamento com todos esses movimentos chamados “Por um Brasil sem Aborto” ou “Em defesa da Vida”, uma frente-única que vai desde a classe dominante, passando pela Igreja, e inclusive atingindo setores que se dizem de esquerda, como Heloísa Helena do PSOL. É preciso lutar contra a atrocidade dita pelo Arcebispo de Olinda, quando declarou que o “aborto é pior que o estupro”, naturalizando a violência sofrida por muitas jovens em nosso país. Vale lembrar que em 2010 o Brasil sediará o 3° Encontro Mundial Contra a Legalização do Aborto, por ser considerado um país modelo, tanto na mobilização, quanto na legislação, pela “suposta” defesa da vida.
Não aceitaremos. Chamamos as feministas da Marcha Mundial de Mulheres que repudiam os estupros no Pará e a posição escandalosa de Ana Júlia Carepa e que nesse 8 de março levantaram
com força a bandeira da legalização do aborto a levar adiante uma verdadeira campanha pelo direito ao aborto, e também aquelas que rechaçam a CPI do Aborto dos deputados do PT. Chamamos também as companheiras do PSOL que estão contra a posição de Heloísa Helena, assim como as pequenas organizações feministas, os sindicatos, as mulheres perseguidas no Mato Grosso do Sul, os movimentos de direitos humanos, os partidos políticos, as companheiras católicas que têm fé religiosa mas não consideram que a Igreja enquanto instituição pode determinar nossas vidas, assim como todas as organizações que compõem a “Frente Nacional pelo fim da criminalização das mulheres e pela legalização do aborto” e, em especial, chamamos as companheiras do PSTU e da Conlutas, com as quais compartilhamos um ato comum no 8 de março, a impulsionar uma campanha imparável na luta pelos direitos das mulheres. Nós do Pão e Rosas, impulsionaremos uma campanha latino-americana, para combater, em todos os países da América Latina, a onda reacionária que combina governos “progressistas” e pós-neoliberais com a ideologia cristã para fazer retroceder as nossas conquistas e acabar com nossos direitos. Chega de mulheres mortas por abortos clandestinos! Pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito! Pelo direito à maternidade!

No último dia 21/03, nós do grupo de mulheres Pão e Rosas realizamos nossa primeira Plenária, com a presença de Andrea D'Atri, fundadora do Pan y Rosas Argentina. Diana Assunção abriu a Plenária, apresentando o grupo de mulheres à novas estudantes e trabalhadoras que estavam presentes, e colocando a necessidade de se discutir um grupo de mulheres no Brasil que, diferentemente do feminismo já estabelecido, como a Marcha Mundial de Mulheres, se coloque verdadeiramente numa perspectiva anticapitalista, e que num momento de crise, mais do que nunca se faz necessária a luta pelos direitos das mulheres.

Mara Onijá seguiu a discussão resgatando nossas bandeiras no 8 de março, onde participamos do ato da Conlutas, demonstrando os limites que as direções de grupos feministas atrelados ao governo Lula se colocam diante da luta pelos direitos das mulheres. Relembrou da necessidade de uma campanha permanente contra a violência policial que assassina sobretudo a juventude e as mulheres negras.


Marina Fuser relembrou as atividades de lançamento do livro Lutadoras. Histórias de mulheres que fizeram história para dizer o quanto essa publicação deveria transcender os limites do possível, e se tornar uma ferramenta política para a atuação na realidade, de tantas mulheres vítimas desse sistema de opressão e exploração.
Andrea D'Atri contou como foi o surgimento da agrupação Pan y Rosas na Argentina, demonstrando a necessidade das estudantes impulsionarem a mais ampla aliança com as trabalhadoras. Falou sobre a situação das mulheres no capitalismo e atuação diante dos primeiros sinais de crise, que já começam a se fazer sentir. Por fim, outras companheiras interviram, ressaltando a necessidade de se discutir mais profundamente todas as questões levantadas, e Diana Assunção fez um chamado à tarefa urgente de construir uma nova tradição no movimento de mulheres, à construir o Pão e Rosas. Foi decidido impulsionar uma campanha latino-americana pelo direito ao aborto livre, seguro e gratuito, conjuntamente com as companheiras do Pan y Rosas da Argentina, e também do Chile. Assim como uma campanha em todas as universidades em defesa das trabalhadoras terceirizadas, exigindo a efetivação imediata. 

Na última quinta-feira, dia 19, mais de 150 estudantes e trabalhadoras (es) participaram da atividade de lançamento da edição brasileira do livro Lutadoras. Histórias de mulheres que fizeram história, segunda publicação da Coleção Mulher das Edições ISKRA. A atividade contou com a presença da profª Beatriz Abramides, do Serviço Social da PUC-SP e diretora da APROPUC, entidade que apoiou e organizou o evento, Vera Vieira, profª do Depto. de História da PUC-SP, Andrea D´Atri, dirigente do PTS argentino e organizadora da edição original, e Diana Assunção, dirigente da LER-QI e integrante do grupo de mulheres Pão e Rosas. Também no dia 20/03 a publicação foi apresentada no Auditório do IFCH com a presença de Andrea D´Atri e Rita Frau, professora da rede estadual de São Paulo, integrante do grupo de mulheres Pão e Rosas e militante da LER-QI.

Diana Assunção abriu a atividade agradecendo aos companheiros que colaboraram com a publicação de Lutadoras, e falou sobre o grupo de mulheres Pão e Rosas, relatando as atividades e manifestações políticas que impulsionam. Aproveitou para denunciar os escândalos que rondam a luta das mulheres no Brasil: “Há que se lembrar que nos últimos dias o Brasil foi palco de uma campanha reacionária da Igreja, levando a suposta ’defesa da vida’ à posições escandalosas, como a declaração do Arcebispo de Olinda, que disse que ’o aborto é pior que o estupro’. E continuou: “Por isso gritamos ‘Basta de estupros, de morte e de dor. A hipócrita Igreja, está com o estuprador’. E aqui na PUC, onde a Igreja tem a palavra final, e nos diz que o conhecimento deve estar aliado à fé cristã, colamos cartazes dizendo ‘Basta de intervenção da Igreja em nossos corpos. Basta de intervenção da Igreja na Universidade. Pelo direito ao aborto legal seguro e gratuito’”. Terminou convidando todas as mulheres, trabalhadoras e estudantes, a construir o grupo de mulheres Pão e Rosas.
A professora Beatriz Abramides, falou sobre as mulheres lutadoras que compõe o livro, demonstrando como há um “fio vermelho” de continuidade em suas histórias, e discutindo a necessidade das mulheres se organizarem ao lado da classe trabalhadora, lembrando que se a revolução proletária não é a condição última para a emancipação das mulheres, é uma condição necessária para nossa emancipação, que se torna impossível nos estreitos marcos do capitalismo. Também apontou que Lutadoras deve chegar ao máximo de mulheres possíveis e por isso era importante repetir atividades como essa. A professora Vera Vieira elogiou o livro, considerando-o um marco na publicação editorial, e relatando a historiografia latino-americano acerca da questão da mulher e sua inserção na luta de classes. Incentivou os estudantes a produzirem conhecimento, inclusive de forma independente da academia, defendendo suas posições.









Sangue nos dedos cortados, marcados / Sem creme, só com o trabalho dobrado, acelerado / Suor no corpo, no rosto 40 graus de sufoco / Correu a lágrima segregadora / Eu sou aquelas opérarias que você trancou / As lutadoras em greve que você incendiou / Sou as mulheres na Rússia no seu domingo sangrento / Eu sou a mãe que ergue a bandeira vendo preso seu filho / Sou palestina em Gaza combatendo o sionista / Sou mexicana em Oaxaca confrontando a polícia / Sou Rosa Parks sentada no banco que é do branco / Que não levanta, não cede, causando tanto espanto / Sou Pão e Rosas / Sou Pão e Rosas / Nosso canto é o espanto dos que nos julgam mortas / Pão e Rosas, Pão e Rosas / O medo aqui já foi tanto, mas será nossa a vitória / Pão e Rosas, Pão e Rosas - Mara Onijá
















