Por Marina Fuser, estudante de Ciências Sociais da PUC-SP
Se a possibilidade de uma crise estrutural do capitalismo gerou controvérsias entre os economistas até meados do ano passado, hoje ela é uma realidade que aparece como um turbilhão, se convertendo em desemprego, fome e miséria. Seu preço recai sobre os setores mais precarizados da população, enquanto os governos injetam grossas fatias de suas reservas nas contas dos verdadeiros culpados pela crise: os capitalistas e os banqueiros. Ou seja, o dinheiro que podia ser aplicado em saúde, educação, na previdência social e, em suma, na melhoria da qualidade de vida da população é entregue de mão-beijada para salvaguardar os interesses dos que geraram a crise. As proporções dessa crise são desastrosas: de acordo com o economista Nouriel Roubini, o sistema já se encontra em bancarrota e prevê para 2009 perdas de cerca de 3,6 trilhões de dólares só nos Estados Unidos.
Enquanto isso, aumenta a carestia de vida, empresas demitem em massa e a situação torna-se insuportável aos extratos mais pauperizados da população. Para falar em números, nos deparamos com o seguinte quadro: a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq por sua sigla), atualmente responsável por 294,7 mil empregos diretos declarou na Folha de São Paulo que será forçada a cortar da própria carne, mas que sem a ajuda do governo haverá uma “carnificina”. Já em dezembro, a Vale tornou público o corte de 1.300 funcionários e 5.500 em férias coletivas. A Volks dispensou nesse mês de janeiro mais de mil funcionários de contrato temporário e deu licença a 900 frente a um prejuízo de 30,9 bilhões.
A escalada dos índices de desemprego assusta e as previsões não anunciam uma luz no fim do túnel. Quanto à situação específica das mulheres, que já ocupam os postos de trabalho mais instáveis, sobretudo os temporários, ou seja, aqueles que não constam nos índices oficiais de desemprego e não outorgam nenhum tipo de benefício trabalhista, o quadro é ainda mais funesto. O comitê de gênero da ONU anunciou no dia 06 de fevereiro em Genebra: “Se bem a amplitude da atual crise seja difícil de medir, prevê-se que as mulheres e as jovens dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento sejam particularmente afetadas pelas potenciais conseqüências econômicas e sociais, como o desemprego, o aumento das responsabilidades no trabalho e em casa, a redução dos rendimentos e o aumento eventual da violência da sociedade e conjugal”.
Os programas assistencialistas do governo Lula para a redução de desigualdades de gênero, que já perfilavam na casa dos paliativos “cosméticos”, não dispondo de vinculações de receitas, proteção constitucional ou benefícios de prestação continuada, sofrerão cortes significativos: dos 13 programas cujas medidas se aludem à questão de gênero dentre suas metas, objetivos, indicadores ou público-alvo, seis sofreram cortes orçamentários.
Em ocasião do Dia Internacional da Mulher, está na hora de dizermos um basta a essa situação de penúria que decai sobre as nossas costas. Não nos basta o feminismo descolado dos setores mais oprimidos e explorados que sofrerão em dobro com esta crise. Não vemos as Cristina Kirchner, Hillary Clinton, Condoleezza Rice e Michele Bachellet como um exemplo a seguir, mas sim as mulheres trabalhadoras e a todas que a cada dia produzem tudo o que existe na sociedade, e ao mesmo tempo são as que vivem da pior maneira. Por isso está na hora de retomarmos os nossos instrumentos de luta: as greves, os piquetes, os comitês de bairro, as manifestações de rua. Está na hora de nossa voz se fazer sentida na luta pelos nossos direitos. Basta de desemprego, que os patrões e os banqueiros paguem pela crise. Exigimos o pão, mas também as rosas.
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