Por Mara Onijá
No ano passado, no Dia Internacional da Mulher, nós do Pão e Rosas saímos às ruas fazendo eco às palavras das mães de Salvador que denunciavam com protestos a brutalidade com que seus filhos tinham sido assassinados pela polícia. Ser negro e pobre é ser suspeito e muitas vezes é o motivo pelo qual já morreram tantos dos nossos filhos, irmãos, companheiros. Sobre as nossas costas ficam a dor da perda e as duras conseqüências na tarefa de manter de pé mais uma família trabalhadora, alvo da super-exploração, do trabalho precarizado, do desemprego, situação que se agrava com o desenvolvimento da crise capitalista.
Esta não é uma realidade restrita ao Brasil. No último reveillon, um jovem trabalhador negro desarmado, Oscar Grant, foi assassinado por um policial em Oakland (EUA) numa estação de trem. A comunidade negra organizou protestos, onde tiveram destaque mulheres negras com cartazes que exigiam justiça para Oscar Grant e para os palestinos – que viviam mais um ataque genocida de Israel naqueles mesmos dias.
Com a eleição de Barack Obama, muitas pessoas acreditam que a crise capitalista se resolverá e que o imperialismo decadente dos Estados Unidos não mais representará a dura opressão dos anos de George Bush. Mas Obama representa os interesses da burguesia branca imperialista. Por isso, nós mulheres negras, temos que dizer que Obama não representa nossos anseios, assim como Condoleezza Rice ao longo dos últimos anos não pôde representar o avanço da luta negra tampouco das mulheres, mas sim a existência de mais uma no comando dos massacres imperialistas e que deve ser combatida ferozmente.
É parte fundamental da nossa luta a defesa das milhares de mulheres, que vivendo em países sob ocupação, sofrem a opressão do imperialismo tendo suas famílias destruídas, seus corpos violados e seguem resistindo a tudo isso. As mulheres negras saíram às ruas para dizer “Somos Oscar Grant”; nós dizemos o mesmo. E somos também as mulheres iraquianas, palestinas, afegãs, haitianas, congolesas, que vivem sob essa brutal opressão que não muda seu caráter com a mudança da presidência dos Estados Unidos.
Enquanto escrevo esse texto, mulheres negras da Ilha de Guadalupe e da Martinica seguem em mobilizações massivas junto a seus companheiros, resistindo aos efeitos da crise capitalista. Em Guadalupe, segue uma greve geral que se iniciou em 20 de janeiro, mobilizando cerca de 6 milhões de pessoas num conflito que chegou a duros enfrentamentos com a polícia.
Essas são apenas algumas das expressões da realidade em que vivem as mulheres negras atualmente em várias partes do mundo. Nossa agrupação se coloca na mesma trincheira dessas lutas internacionais e que cada combate que daremos aqui estará marcado pela luta contra o imperialismo e o Estado burguês – incluindo aí todos os seus aparatos de repressão.
Não podemos também deixar de resgatar a história das mulheres negras ocultada sistematicamente pela elite branca. Mulheres como Luiza Mahin, Acotirene, Zeferina são parte da história que queremos resgatar na luta pelos direitos da mulher negra e pela libertação do povo negro. Fazemos um chamado às mulheres negras brasileiras a se organizar no Pão e Rosas para carregar conosco esse legado e levar à frente a luta das mulheres negras sem tréguas ao racismo, ao imperialismo e ao Estado burguês!
Fora o imperialismo dos países ocupados!
Fora as tropas brasileiras do Haiti!
Viva a luta do povo negro em Guadalupe!
Abaixo a violência policial que mata a juventude e mulheres negras e pobres!
Punição às empresas que exigem “boa aparência”!
Pelo fim da diferença salarial entre homens e mulheres, brancos e negros!
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