Diversos ataques são direcionados às estudantes, em Araraquara, sob diferentes discursos e ocorrências. Como, por exemplo, quando anos atrás uma estudante foi estuprada e assassinada ao atravessar um terreno baldio por volta das 23h. O fato foi relatado no dia seguinte pelo principal radialista da cidade e região da seguinte forma: “O que aquela estudante fazia na rua depois das 23h? Estava pedindo pra ser estuprada!”.
O caráter conservador e machista o qual predomina no senso-comum e nas relações sociais estende-se até os tempos atuais, como é possível observar no caso de um motorista que ronda as ruas da cidade durante toda a madrugada, sempre próximo de festas e de bairros predominantemente estudantis, abordando estudantes sozinhas oferecendo carona inicialmente e depois de negada a oferta persegue-as insistentemente até que estas consigam despistá-lo, quando não desce do carro e as persegue a pé, indicando os órgãos genitais.
Essa postura também é assumida dentro da própria Universidade através de atitudes grotescas de professores, funcionários ou até mesmo estudantes, pois ocorre que na própria Moradia Estudantil presenciou-se a invasão do quarto de duas estudantes, enquanto todos dormiam, por moradores do sexo masculino que se sentiram na liberdade de desrespeitar sua privacidade e tocá-las.
O que nós mulheres nos propomos a discutir e questionar é o quanto a estrutura antidemocrática e academicista da Universidade contribuem para esses tipos de opressão se perpetuarem. Exemplo disso foi quando, no ano passado, um bolsista FAPESP do Mestrado (o qual mantém relações íntimas com a direção) externalizou seu posicionamento homofóbico e machista perante um casal de lésbicas ao dizer “que duas mulheres juntas não conseguem se satisfazer sem que haja um homem no relacionamento”, justificando essa postura sob o argumento clerical de que “a Igreja não está contra o homossexual, mas sim contra o “Homossexualismo!””.
Essa discussão foi levantada recentemente dentro da Moradia Estudantil de Araraquara em um incidente que revelou o quanto, na maioria das vezes, nós mulheres não podemos contar nem mesmo com nossos órgãos representativos, pois quando foi anunciada à Comissão de Moradia, em reunião extraordinária, os ataques machistas, homofóbicos, racistas e discriminatórios para com movimentos sociais (dirigidos a militantes do Movimento Hip Hop e Movimento Negro), ocorridos dentro de um bloco, a Comissão a priori interpretou a situação como sendo unicamente um “problema de convivência interno e que diz respeito somente aos moradores do bloco”. Destacando -se que uma das intervenções do “acusado” ao interferir a fala de uma das mulheres oprimidas foi a de que “nós (mulheres) fomos influenciadas pelo único homem do quarto.
A falta de representatividade não se restringe somente ao setor estudantil, as trabalhadoras terceirizadas da limpeza também conhecem a ausência de comprometimento do Sindicato dos Trabalhadores da UNESP (SINTUNESP), pois se percebe que com o agravamento da crise e o aumento das demissões acentua -se a descaracterização da classe trabalhadora dentro da Universidade na medida em que o funcionalismo público não compreende os funcionários precarizados como sendo aliados de uma mesma luta. Nós, enquanto agrupação de mulheres Pão e Rosas, chamamos os funcionários efetivos da UNESP para refletir essa questão não somente sob uma perspectiva solidária em relação á terceirização, mas interpretar objetivamente que um funcionário precarizado contratado hoje, equivale a sua vaga estatutária extinta amanhã. Portanto, nos colocamos contra o tratamento humilhante que é direcionado às terceirizadas, pelos funcionários públicos efetivos, dentro da UNESP. Desrespeito este que é praticado também pelos professores e estudantes “carreiristas”. O que se mostra extremamente frustrante para as mesmas que, expondo suas próprias queixas, têm a obrigação de zelar por um espaço no qual não têm a menor perspectiva de encontrar seus filhos, os quais trabalham desde de muito novos, impossibilitando a dedicação central aos estudos (privilégio este que a classe dominante dispõe) e que mesmo quando, por sacrifício dos pais, detém essa centralidade são prejudicados pelo nível de conhecimento adquirido no ensino fundamental e médio da rede pública, sendo, assim, barrados pelo “filtro social” do vestibular, obrigando-os a abrir mão de um curso superior ou se sujeitar a conciliar seus estudos (nas universidades particulares com mensalidades exorbitantes) com todas as responsabilidades provenientes de um cotidiano exaustivo.
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