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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Serviço Social, marxismo e mulheres | Obituário da Faculdade de Serviço Social | Precarização do trabalho e do ensino | Ibiúna: 1968








boletim especial XXXII ERESS
Encontro Regional de Estudantes de Serviço Social

Serviço Social, marxismo e mulheres
Por Tássia Lins e Bia Michel (texto publicado em 2009 no ENESS)

O Serviço Social, como nós sabemos, teve seu surgimento atrelado às frações da Igreja e depois, às demandas do Estado, num misto de caridade e repressão; para que se mantivesse a “ordem” e o total controle sobre a classe trabalhadora, inclusive, num momento de crise histórica do capitalismo, como na década de 1930, onde o Serviço Social se prestava a um papel, mundo afora, de conter as massas.
Com o passar do tempo, o Serviço Social insere-se no espaço acadêmico, tornando-se curso de graduação e pós-graduação, certamente, para atender as expressões da “questão social”, criada, reproduzida e legitimada pelo capitalismo num país semi-colonial como o nosso. Com isso, a profissão foi se estabelecendo e ganhando peso no Brasil e na América Latina, aonde longe de se conformar com esse conservadorismo apontado, estudantes, professores e assistentes sociais, numa dinâmica de encontros e debates, trilharam um caminho que visava romper com o atrelamento à classe dominante e ligar-se de fato, à classe trabalhadora, a suas lutas e suas demandas reais.
Com a conjuntura dos anos 1961-64, surgem as primeiras repercussões das lutas sociais em curso dentro da profissão, que é forçada a pensar inclusive, novos projetos societários. Com o golpe de 1964, o Serviço Social se vê em dificuldade de atar-se à classe trabalhadora de forma mais orgânica, mas é assentada suas bases sócio-políticas de maneira mais firme, na luta pela redemocratização do país, e em setores mais à esquerda na profissão, com um claro perfil anti-ditatorial.
Os processos que ficaram conhecidos como “movimento de reconceituação” e “intenção de ruptura”, foram as primeiras aproximações importantes que o Serviço Social teve com o marxismo, e é dessa relação que queremos tratar aqui e essa aproximação que iremos defender até o fim. Sem desconsiderar os momentos históricos e os avanços que esses processos significaram para a profissão, acreditamos que esses momentos tiveram falhas, como o estudo de um marxismo desvinculado da necessidade da classe trabalhadora se emancipar, e assim avançar para emancipar toda a humanidade de toda a exploração e opressão.
Para romper com essa herança e avançar no que se convencionou chamar de projeto ético-político da profissão, lutamos pela incorporação do marxismo na grade curricular do Serviço Social, por acreditar que o marxismo é a única teoria capaz de, para além de analisar e interpretar a sociedade de classes, ser ferramenta de transformação para a classe trabalhadora, justamente para a eliminação desse sistema econômico e político, que gera e alimenta miséria, fome, desemprego, violência, machismo, homofobia, racismo e hoje, joga novamente a crise econômica que criou nas costas dos trabalhadores. Para tanto, dizemos desde já, que não nos serve um marxismo acadêmico, que se fecha nas salas de aulas e não busca nem prática nem teoricamente chegar até a população.
É nesse sentido que, como um grupo de mulheres classistas, viemos defender a incorporação de uma disciplina ou núcleo de discussão sobre a questão da mulher desde uma perspectiva marxista na grade curricular, que como já apontamos é a perspectiva que trata o problema da opressão da mulher de forma mais real, concreta e radical (no sentido de ir às raízes). Chamamos todas/os estudantes presentes nesse encontro a debater estas propostas e levá-las para discussão em outros fóruns, como da ABEPSS, e principalmente para suas faculdades.


OBITUÁRIO
1936 + 2009
Faculdade de Serviço Social. Deixa órfãos e órfãs, milhares de ex-estudantes e centenas de estudantes. Professoras (es), funcionárias (os).

Nasce em 1936 uma das primeiras faculdades de Serviços Social do Brasil em São Paulo, após 26 anos esta escola se junta a PUC/SP onde continua como faculdade. Com o passar dos anos, em 2009 a tão conhecida faculdade de Serviço Social encaminha–se ao seu fim! Com a nova reforma estatutária- que passou todo o poder de decisão sobre a PUC para a Igreja- o Serviço Social passa de faculdade a um curso dentro da faculdade de Ciências Sociais, perdendo grande parte de sua autonomia, nos fazendo rever que caráter o curso tomará a partir de agora. Se a estrutura de poder dentro da Universidade fosse democrática, pautada pela democracia direta dos três setores (professores, estudantes e funcionários), nossa Faculdade não deixaria de existir, não teria perdido a autonomia (cujo poder de decisão era somente dos professores, com ínfima presença de estudantes e nem falar de funcionários), poderíamos reestruturar o currículo de modo a não perder importantes conteúdos. Tudo seria diferente. Mas ainda pode ser! Nem tudo morreu! É por isso que viemos nesse ERESS propor que um dos pontos para a luta seja em defesa da Faculdade de Serviço Social aliado à luta pela democracia direta, por uma profunda campanha contra a estrutura de poder dentro das universidades!


Precarização do ensino e do trabalho:
é esse o projeto de educação de Lula, Serra, e da burguesia brasileira
Por Livia Barbosa

Sabemos que hoje o espaço universitário é um ambiente machista, elitista e racista, onde a imensa maioria da população não consegue se inserir por conta do filtro social que é o vestibular. Apenas 20% dos jovens brasileiros conseguem cursar uma graduação, e via de regra, esses jovens não são aqueles que precisaram trabalhar durante o colégio, mas sim aqueles que tiveram condições de cursar colégios particulares. Esse primeiros, são obrigados a pagar absurdas mensalidades em universidades particulares, ou são levados a fazerem cursos ultra precarizados, como os cursos à distância.
Também são exemplos desse projeto de precarização da educação o REUNI e PROUNI de Lula, que apesar de serem implementados junto a um discurso de uma suposta “democratização”, nada mais são do que um claro ataque à educação, onde são criadas milhares de vagas nas universidades de forma totalmente irresponsável, onde o conhecimento transmitido aos estudantes é tecnicista, acrítico e voltado apenas para o mercado. Sem contar as salas de aula abarrotadas de alunos, e a falta de professores e funcionários no ambiente universitário.
Nós mulheres, sabemos muito bem todas as dificuldades que enfrentamos na universidade, como os recorrentes casos de violência contra as estudantes, como nas Moradias Estudantis. Sem contar a falta de creches para os filhos das estudantes, das trabalhadoras efetivas e das terceirizadas dentro da Universidade!
Dizem que as mulheres como nunca antes estão ocupando os espaços de poder e que são cerca de 50% dos que ingressam na universidade. Isso é verdade, mas a verdade não é tão romântica como querem que acreditemos. As mulheres que ingressam na universidade o fazem em redutos historicamente femininos como os cursos de Serviço Social, Letras, Enfermagem, entre outros, já que esses são cursos “voltados para as mulheres” que tem como papel histórico uidar, educar, organizar, etc, tudo isso com paciência, amor, dedicação maternas. Também somos nós mulheres quem recebemos menores salários, sofremos assédio sexual e moral, e ocupamos os postos de trabalhos mais precarizados. Nas universidades, as mulheres são a maioria entre as trabalhadoras terceirizadas, que recebem baixos salários, não tem os mesmos direitos que os efetivos, são humilhadas, muitas vezes têm que trabalhar nos finais de semana e feriados sem receber nada a mais por isso e sem poder dizer não aos seus patrões, sob o risco de perder seus empregos.
A grande questão a se pensar, é que apesar da opressão contra as mulheres ter origens anteriores ao atual sistema em que vivemos, é fato que o capitalismo faz uso das diversas formas de opressão já existentes, sustentando-as e legitimando-as, de forma a se fortalecer. Um dos outros motivos para que se justificasse o rebaixamento dos salários das mulheres (conseqüente de uma menor jornada de trabalho) é o trabalho que foi jogado às suas costas, o que a faz trabalhar duas vezes, uma fora de casa (recebendo menores salários que os homens) e outra dentro de casa, de graça. Isso que chamamos de “dupla jornada de trabalho” que recai sobre as mulheres serve ao capitalismo também porque impede que as trabalhadoras possam ter acesso ao lazer, cultura e qualquer tipo de organização política.
Nós, estudantes de Serviço Social, precisamos lutar contra essa estrutura nada democrática da universidade, de modo que saibamos compreender as origens históricas de seus problemas enquanto reflexos das contradições mais gerais de nossa sociedade, dividida em classes. E para isso, temos que nos unir aos demais estudantes, assim como aos setores mais atacados da classe trabalhadora e do povo pobre, nos colocando desde já contra as medidas de precarização do ensino encabeçadas por Lula e os governos estaduais, e além disso, lutar incessantemente para que os jovens pertencentes à classe trabalhadora possam ter acesso a um ensino de qualidade nas universidades! Temos que nos aliar às trabalhadoras e trabalhadores, colocando nossa campanha de pé mais uma vez pela efetivação dos/as terceirizados, exigindo que as entidades estudantis (DCE´s, DA´s, CA´s) estejam presentes nesta luta, impulsionando uma grande campanha em defesa desses trabalhadores!
Nós do Pão e Rosas fazemos um chamado a todas as estudantes e trabalhadoras, efetivas e terceirizadas, para lutarmos contra todas as formas de opressão às mulheres, seja dentro ou fora da universidade, tendo a compreensão de que é necessário lutarmos juntas como um só punho contra os patrões que nos exploram, contra a estrutura de poder anti-democrática da universidade e o conhecimento que serve para reproduzir a opressão e a exploração, contra esse sistema de exploração que se chama capitalismo!

Mais verbas para uma educação realmente de qualidade!
Pelo fim do vestibular, pela estatização das universidades privadas e pela expansão das vagas presenciais!
Curso de serviço social na USP e Unicamp já!
Pela efetivação das trabalhadoras e trabalhadores terceirizados !

Ibiúna, 1968: "Com muito orgulho e emoção revi minhas companheiras de luta! Muitas já se foram mas muitas continuam aguerridas na batalha..."
Publicamos abaixo o depoimento de Bia Abramides, professora de Serviço Social na PUC-SP, e presidente da APROPUC, sobre a repressão e cerceamento político na ditadura militar, quando era estudante de Serviço Social nesta mesma Universidade onde hoje é professora. Seu relato foi enviado juntamente a um arquivo com as fotos das estudantes presas. Para ter acesso ao arquivo completo escreva para paoerosasbr@gmail.com.
Na recuperação histórica das lutadoras, do direito à memória vão as fotos das estudantes presas em Ibiúna em 1968. Estou na fileira de número 47. Todas jovenzinhas. .. Com muito orgulho e emoção revi minhas companheiras de luta! Muitas já se foram mas muitas continuam aguerridas na batalha por uma sociedade emancipada. (Clique no título para ler o depoimento completo).

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