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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Estudantes de Serviço Social : É preciso desde já nos colocar ao lado da classe trabalhadora!

boletim especial XXXII ERESS
Encontro Regional de Estudantes de Serviço Social

A grande mídia diz que 2010 é o ano das mulheres. Isso porque, nesse ano eleitoral, está lançada a possibilidade de termos duas candidatas mulheres à presidência do Brasil. Mas se dermos um giro ao redor do mundo, veremos que as mulheres que estavam e/ou estão no poder público nada fizeram pela maioria de nós, ainda relegadas à fome, miséria, condições precárias de trabalho, desemprego, etc.
A ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, nada fez pelas diversas mulheres que perderam suas casas e famílias com os terremotos que se deram no país no último mês. Enquanto milhares de pessoas morriam, a ex-presidente se preocupava com as eleições que estavam acontecendo.
Da mesma forma, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, foi até o Haiti no começo do ano para levar mais “ajuda humanitária” – mais tropas estado-unidenses – ao povo que se encontrava em uma situação calamitosa após o terremoto que atingiu o país em 12 de fevereiro, deixando milhares de mortos, feridos, desabrigados, milhares de mulheres grávidas sem acesso ao acompanhamento médico necessário, etc. Lula também fez “sua parte” no Haiti: em 2004 mandou suas tropas para a “missão de paz” da ONU no Haiti. Essa missão de paz foi enviada para lá porque as Nações Unidas entendiam que o Haiti tinha um povo muito atrasado que não era capaz de restaurar a democracia em seu país. Esse “povo atrasado” é o mesmo povo negro que em 1791 fez a primeira (e única) revolução de escravos na América Latina, derrotando as tropas mais temidas da época, o exército de Napoleão. Desde a ida dessas tropas que deveriam ajudar o povo “incapaz” do Haiti, todas as notícias que temos são de estupros, assassinatos, e muitas outras barbaridades cometidas pelas tropas da MINUSTAH, comandada diretamente pelas tropas brasileiras. Além disso, um comandante das tropas brasileiras, quando entrevistado por estudantes da UNICAMP que estavam no Haiti, afirmou que essa experiência de estar controlando o povo haitiano serviria de “laboratório” para que o exército, ao voltar para o Brasil, tivesse capacidade de intervir nas periferias e favelas, principalmente as do Rio de Janeiro! Por isso, nós dizemos Fora as tropas brasileiras que comandam a invasão da MINUSTAH do Haiti! Fora imperialismo da América Latina !
Enquanto isso, no Brasil, o governo Lula injetou nos bancos e empresas que estavam prestes a quebrar com a 1ª etapa da crise econômica em 2008, 200 milhões de reais enquanto essas demitiam milhares de trabalhadores, a começar pelas mulheres precarizadas. Esse tipo de ataque vai voltar a acontecer, agora que a crise volta a acometer fortemente os países europeus e tende a atingir também os países da América do Sul.
Lula se utiliza de seus programas sociais como o bolsa família que é entregue apenas para as mulheres, já que 18.5 milhões de famílias são chefiadas por mulheres para camuflar sua política que é de fato, defender os interesses dos grandes capitalistas. Em momentos de crise, a administração da pobreza já recai sobre as costas das mulheres, que são responsáveis por sustentar seus lares. Quando nosso presidente dirige essa miséria para as famílias, enquanto da milhões para os empresários e banqueiros, está fortalecendo esse vinculo da mulher com a dupla jornada e com a responsabilidade de administrar os poucos recursos da família.
Não é apenas o governo federal que ataca brutalmente as mulheres. Em São Paulo, o governador José Serra gasta milhões com obras viárias- como o RODOANEL –para angariar votos, chegando a “inaugurar” obras inacabadas, enquanto milhares de pessoas que perderam suas casas com as enchentes causadas pelas chuvas de mais de 40 dias seguidos, continuam sem assistência, novas moradias, alimentos, etc. Serra privatizou a construção da linha 4 do metrô, enquanto junto com Kassab, aumentou o preço do transporte absurdamente.
Não podemos permitir que o nosso dinheiro continue indo para as mãos de empresas como a Odebrecht enquanto os moradores da periferia e bairros pobres por todo o Estado continuam sofrendo com o descaso do governo.
Hoje, esse mesmo governo ataca os professores do Estado – categoria composta majoritariamente por mulheres-, com um projeto para a educação que precariza ainda mais o trabalho desses educadores, diminui a contratação de professores para esse próximo concurso – sendo que os professores estão sobrecarregados-, o que implica uma educação precária para os filhos da classe trabalhadora. Esse projeto vem pra precarizar uma categoria que já é muito precarizada, já que 50% deles são contratados como temporários, não tendo os mesmos direitos ou salário que os efetivos e tendo que fazer prova anualmente para “provar” ao governo que sabem fazer o que já fazem a 5, 10 ou 20 anos.
Nos solidarizamos com as professoras e professores em greve desde o começo de sua luta, que foi respondida pelo governador com polícia, bombas de gás, spray de pimenta e balas de borracha no último ato, dia 26 de março, além da chantagem de que, só negociaria as justas demandas dos professores se a greve terminasse. Em meio a nuvens de gás, estouros de bombas e tiros, os professores reunidos em assembléia disseram “não!” à proposta absurda do governo e continuam sua greve!
Nós, enquanto futuras e futuros assistentes sociais, devemos nos solidarizar com essas lutas, tanto dos movimentos sociais quanto do movimento operário e nos colocar ombro a ombro com a classe trabalhadora e o povo pobre já que enquanto profissionais, também seremos explorados e devemos saber de que lado temos que estar.
2010 é o ano das mulheres: o ano das mulheres que tiveram seus filhos e filhas mortos pelas tropas no Haiti, o ano das mulheres que perderam a vida nas enchentes em São Paulo e nos terremotos no Chile, o ano das mulheres do MST que são assassinadas pela polícia pela garantia da propriedade privada. Dizemos Basta! É preciso que as mulheres se organizem para barrar os ataques que sofremos cotidianamente, dizer um basta aos trabalhos precários, dizer um basta ao sucateamento da educação nossa e de nossos filhos e mostrar que juntas, organizadas, podemos conquistar muito mais do que qualquer mulher que diz falar em nosso nome nos altos cargos do Estado!

Por isso, convidamos todas e todos, estudantes de Serviço Social, a se juntarem ao grupo Pão e Rosas e travar uma luta para que o movimento estudantil se alie desde já aos trabalhadores e que lute pela independência política frente aos governos, aos patrões e a burguesia, pois só assim podemos conquistar nossas demandas!


Conheça e faça parte do Pão e Rosas!

Hillary Clinton e Condolezza Rice, Michelle Bachelet, Cristina Kirtchner, e agora, duas presidenciáveis no Brasil: Dilma e Marina Silva. Enquanto meia dúzia ocupa ou deseja ocupar os altos cargos do imperialismo e estados burgueses, milhões de mulheres são submetidas aos diferentes tipos de violência, exploração, repressão e opressão que a sociedade capitalista nos impõe pelas mãos dessas mesmas mulheres e seus aliados da classe dominante. É mais que necessário, que nós mulheres trabalhadoras seguremos firmes em nossas mãos, nossas bandeiras e de nossos companheiros, gritando em bom som: Que essas mulheres não nos representam! Pela independência do governo, dos patrões e dos partidos da burguesia! Tassia Arcenio, assistente social formada pela UNESP Franca e trabalhadora da educação.

Nós, estudantes de Serviço Social, que fazemos estágios com os programas federais como o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, entre outros, e muitas vezes só estudamos por causa do Prouni, não podemos aumentar a ilusão da classe trabalhadora nesse governo que dá migalhas aos trabalhadores e que salva banqueiros e patrões, além de reprimir os lutadores do MST, militarizar o Haiti, não avançar nenhum centímetro no direito das mulheres nem na educação e na saúde publica e de qualidade. Enquanto estudantes e profissionais temos que estar lado a lado com a classe trabalhadora, defendendo ativamente que só com seus métodos de lutas e pelas suas próprias mãos, arrancaremos a sociedade sem classes a que se refere nosso projeto ético político. Carol Zacharias, estudante da PUC-SP, estagiária na habitação e integrante da gestão PAGÚ do CASS.

Tenho dezenove anos, curso Serviço Social pela UNESP e trabalho há dois anos numa empresa de calçados. Há pouco tempo faço parte do grupo Pão e Rosas – Franca, que atua unificando estudantes e trabalhadoras, por exemplo, trazendo à universidade discussões sobre a realidade das sapateiras. Acredito que iniciativas como essa são de fundamental importância, uma vez que, como tenho presenciado no meu dia-a-dia, minhas colegas de trabalho não se dão conta da dupla, ou até mesma tripla exploração à que são submetidas. Mulheres estas, que não apresentam nenhuma perspectiva de independência, e que em muitos casos, já se conformaram com a realidade em que estão inseridas. Sei que não vai ser uma tarefa fácil, visto que, pela necessidade do emprego e medo de perdê-lo, muitos se negam a reivindicar seus direitos, e lutar por melhores condições de trabalho. Mas o que eu tenho aprendido com o grupo, é que não devemos desistir dessas trabalhadoras, planejando os meios corretos para chegarmos a elas, e fazer um processo de conscientização, não só dessas mulheres trabalhadoras, mas dos trabalhadores como um todo. Então, tendo consciência da exploração sofrida, e de que a união e a organização entre eles são indispensáveis para lutar contra tais injustiças, os trabalhadores lutarão por si só, transformando esse projeto do grupo junto às sapateiras, apenas no primeiro passo rumo à vitória da classe trabalhadora. Claudinha – sapateira e estudante de Serviço Social Unesp Franca.

Nós, estudantes de Serviço Social, sempre discutimos, tanto em sala de aula como em encontros como esse, no qual pautamos o tema da revolução, a necessidade de nos colocarmos ao lado da classe trabalhadora. Para que isso essa aliança se realize é preciso que nós, desde o movimento estudantil, busquemos nos ligar às lutas travadas pelos trabalhadores como nós do Pão e Rosas fizemos no processo que se abriu na Philips de Mauá, levando solidariedade e disseminando o exemplo da Philips francesa na qual os trabalhadores ocuparam a fábrica e a colocaram para produzir contra as demissões que a patronal anunciara. Hoje, a greve dos professores do Estado é mais uma luta importante com a qual devemos tentar nos ligar, levando nosso apoio ativo e colocando na prática essa aliança entre estudantes e trabalhadores que tanto discutimos e reivindicamos. Bia Michel, estudante da PUC-SP e integrante da gestão PAGÚ do CASS.

No último período, temos visto que as campanhas contrárias ao direito ao aborto têm conquistado cada vez maior repercussão nos meios de comunicação. Por trás dos discursos “em defesa da vida” que essas campanhas levantam, contrários ao direito ao aborto, segue a realidade em que milhares de mulheres são condenadas a morrer ou a carregar seqüelas para o resto da vida. Isso porque as trabalhadoras e as mulheres pobres não podem pagar os altos preços cobrados pelas clínicas clandestinas, onde as mulheres ricas abortam. Como se não bastasse, a Igreja mantém sua posição contrária ao uso dos contraceptivos. Isso significa que às mulheres caberiam somente duas opções: abrir mão da sua vida sexual ou ter muitos filhos, mesmo sob a miséria a que são condenadas milhões de mulheres que vivem com um salário mínimo. É diante dessa situação que nós estudantes de Serviço Social precisamos também debater sobre o tema. Afinal, sabemos que o Estado deveria ser laico, mas assim como ocorre em nossa profissão, há muita influência religiosa. Devemos, em primeiro lugar, dizer que a liberdade religiosa aos indivíduos é algo que faz parte da individualidade de cada um, e não deve ser uma imposição nem do Estado, nem de suas leis, nem deve interferir na postura profissional. Por isso devemos lutar por Educação Sexual de qualidade em todos os níveis de escolaridade nas escolas públicas e privadas! Acesso gratuito aos métodos contraceptivos para não abortar! Pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito para não morrer! Gabi Borges, estudante da PUC-SP e integrante da gestão PAGÚ do CASS.


Em plena Semana Santa a Igreja Católica e o Vaticano se encontram no meio de uma enorme crise tendo sido alvo de denúncias de milhares de casos de pedofilia e abusos de menores por parte de sacerdotes. Mais do que isso, o Papa Bento XVI tem sido acusado de acobertar grande parte destes casos, o que colocou em questionamento o seu próprio cargo, havendo rumores de uma suposta renúncia. Assim como acontece com a burguesia e com os políticos burgueses, que todos os dias renovam os escândalos de corrupção sem que aconteça nada a eles, o Vaticano também está nadando há anos num mar de impunidade. Esta rede que garante impunidade aos padres pedófilos é a mesma que garante a impunidade a todas as esferas de dominação burguesa. Precisamos exigir a prisão imediata a todos os padres abusadores, pedófilos e os envolvidos com os abusos! Que o governo Lula que assinou em 2008 o Acordo Brasil-Vaticano, rompa as relações com o Vaticano, revogando imediatamente esse Acordo! Fim dos subsídios à Igreja Católica e suas instituições “educativas”! Expropriação de todos os bens e todas as riquezas da Igreja Católica para que sejam colocadas à serviço da população! Diana Assunção, estudante de Historia da PUC-SP, trabalhadora da USP (onde integra a comissão coordenadora da Secretaria de Mulheres do SINTUSP) e organizadora da edição brasileira do livro “LUTADORAS. Histórias de mulheres que fizeram história.

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