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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Trabalhadoras, vamos juntas lutar contra a dupla jornada!

Sheila Diaféria, militante do Pão e Rosas e servidora do Judiciário Paulista


Olho o relógio e dou um suspiro de alívio. 19 horas, enfim acaba mais um dia de trabalho. Bato o ponto e dirijo-me para a rua com uma sensação boa de ter cumprido minha jornada de trabalho. Durante o percurso até o ponto começam a surgir em minha cabeça as tarefas que me aguardavam em meu lar:
“Preciso preparar o jantar, lavar a louça, colocar a roupa para lavar, verificar o banheiro, recolher o lixo, os brinquedos e tudo o mais que estiver espalhado pelo caminho, conversar com minha neta, saber do seu dia e isto inclui neste curto espaço de tempo brincar um pouco também. Minha filha também cobra sua cota de atenção, quer conversar, contar o seu dia, seus problemas, pois sente necessidade de conversar com um adulto”.

Ao lembrar disso tudo tento criar forças e ânimo, pois são tarefas que não posso deixar para o dia seguinte. E assim, a noite se torna longa.

A classe trabalhadora feminina com toda certeza compreende o que estou falando.

Este trabalho “invisível”, feito majoritariamente pelas mulheres, permite que milhões de assalariadas e assalariados se levantem todos os dias para ir a seu trabalho. Mas a outra parte deste trabalho necessário, o que se realiza gratuitamente entre as quatro paredes da casa – ou seja, no mundo destinado exclusivamente à reprodução da força de trabalho – ninguém percebe.

Em todas as sociedades divididas em classes existem três processos para a reprodução da força de trabalho: em primeiro lugar, certas atividades diárias para re-estabelecer a energia dos produtores como descrito nas primeiras linhas permitindo-lhes voltar a trabalhar; em segundo lugar, a responsabilidade em cuidar dos membros inativos (no sentido capitalista de “não produtivo”) das classes exploradas – crianças, idosos, doentes, desempregados – que cabe exclusivamente às “donas de casa” consideradas também improdutivas; em terceiro, os processos de “substituição” que renovam a força de trabalho, substituindo os membros das classes exploradas que morrerem ou não puderem trabalhar por novas gerações (gerar filhos).

Por tudo que foi explicado até agora, precisamos ter como meta nos reunir para trocar idéias sobre as nossas vidas e sobre tudo o que nos oprime. Ter clareza do que acontece no nosso país e no mundo como um todo, politicamente, socialmente, as tragédias do mundo e procurar explicações para tudo o que acontece. Com isso, veremos que a opressão da mulher foi construída historicamente a partir do estabelecimento da propriedade privada e que nossa luta contra a opressão passa pelo combate ao capitalismo – a burguesia, os governos, o Estado e todas as suas instituições. Com essa perspectiva, lutamos pelas nossas demandas. Pela efetivação das/os terceirizadas com salário e direitos iguais, pelo salário mínimo do DIEESSE para conseguir sustentar nossas famílias, por lavanderias e restaurantes comunitários, por creches e escolas 24 horas.

- A auto-organização para debater nossas dificuldades perante esta sociedade machista e capitalista;

- Unificação das fileiras de trabalhadoras terceirizadas com as trabalhadoras efetivas com salário e direitos iguais. Pelo fim das diferenças salariais entre homens e mulheres.

- Salário mínimo necessário para uma família (conforme cálculos do Dieese);

- Creche-escola 24horas (não apenas para trabalhar, mas para podermos ter uma vida social, cultural, política);

- A decisão de ter ou não filhos depende unicamente da mulher, por isso o direito ao aborto é um direito à vida. Não é certo que só as mulheres com dinheiro possam ter direito a esta escolha, porque têm condições de pagar por uma clínica cara e boa.

- Lavanderias e restaurantes comunitários para que não percamos horas com essas tarefas e tenhamos tempo para nos relacionar com nossas famílias, nossos companheiros e podermos estudar e nos reunir para debater nossos interesses.

Faço um chamado às mulheres que desejam mudar de fato esta sociedade elitista e racista a se reunir no grupo Pão e Rosas para que juntas possamos encontrar saídas para a exploração e opressão que sofremos nesta sociedade capitalista.

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