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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Falam as sapateiras de Franca...

Publicamos abaixo os depoimentos de Débora e Claudinha, integrantes do Pão e Rosas – Franca:

Quando falamos em Franca, logo pensamos: ”Capital Mundial do Calçado”, mas não sabemos o que vem por trás desse titulo. Uma realidade dura pra todos trabalhadores e trabalhadoras que somos explorados diariamente pra construir o império de nossos patrões. Trabalhamos em um ambiente sujo, sob forte calor, com uma carga horária intensa, com barulho quase que insuportável e em condições desumanas.

E a situação se agrava ainda mais para as mulheres. Nós, sapateiras, somos desvalorizadas – a maioria ganha um salário mínimo – trabalhamos em quantidade desproporcional ao que recebemos. Muitas de nós exercemos funções iguais de homens e nem por isso ganhamos o mesmo. E ainda enfrentamos dupla jornada, sim porque as que não são estudantes são em grande maioria mães de família que, além de trabalharem fora, ainda cuidam da casa, dos filhos, do marido, etc.

Quando abordamos a problemática da exploração feminina, das sapateiras, por exemplo, não tratamos de uma guerra de sexos nem de transformar a sociedade em matriarcal, com um feminismo sem nexo. Trata-se apenas de uma luta por melhores condições de trabalho, para nós, de valorização da mulher, de construção de um local de trabalho que não exija de nós a exaustão, que nos permita trabalhar, estudar, cuidar da família, sem esgotar nossas forças, e principalmente, que nos permita sermos MULHERES.
Mulheres que se amam, que se gostam, se valorizam, que gostem de si.
Para que ser sapateira, um dia, possa ser orgulho, não uma decepção.

Débora, sapateira e estudante de História

***
Tenho dezenove anos, curso Serviço Social pela UNESP e trabalho há dois anos numa empresa de calçados. Há pouco tempo faço parte do grupo Pão e Rosas – Franca, que atua unificando estudantes e trabalhadoras, por exemplo, trazendo à universidade discussões sobre a realidade das sapateiras.

Acredito que iniciativas como essa são de fundamental importância, uma vez que, como tenho presenciado no meu dia-a-dia, minhas colegas de trabalho não se dão conta da dupla, ou até mesma tripla exploração à que são submetidas. Mulheres estas, que não apresentam nenhuma perspectiva de independência, e que em muitos casos, já se conformaram com a realidade em que estão inseridas.

Sei que não vai ser uma tarefa fácil, visto que, pela necessidade do emprego e medo de perdê-lo, muitos se negam a reivindicar seus direitos, e lutar por melhores condições de trabalho. Mas o que eu tenho aprendido com o grupo, é que não devemos desistir dessas trabalhadoras, planejando os meios corretos para chegarmos a elas, e fazer um processo de conscientização, não só dessas mulheres trabalhadoras, mas dos trabalhadores como um todo.

Então, tendo consciência da exploração sofrida, e de que a união e a organização entre eles são indispensáveis para lutar contra tais injustiças, os trabalhadores lutarão por si só, transformando esse projeto do grupo junto às sapateiras, apenas no primeiro passo rumo à vitória da classe trabalhadora.
Claudinha – sapateira e estudante de Serviço Social

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