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segunda-feira, 21 de julho de 2014

Revista Vexatória: mais uma violação do Estado contra as mulheres

"Ter de agachar, nua, para ser revistada é inadmissível”, uma frase que não costuma ser ouvida ou aparecer em machetes de jornais e revistas, mas que expressa o que acontece todos os dias com milhares de mulheres pobres, negras, trabalhadoras, donas de casa, jovens e idosas que ao menos uma vez por semana se encaminham ao milhares de presídios para visitar seus companheiros, irmãos e filhos. O Brasil é um dos países com maior população carcerária e assim pune essas mulheres ao vexame das revistas.

A luta pela libertação de Fábio Hideki, da qual o grupo de mulheres Pão e Rosas faz parte, deveria trazer à tona um debate democrático para eliminar essa afronta as mulheres dos pretos pobres e dos pobres pretos amontoados nas cadeias, enquanto os ricos, políticos, empresários, altos funcionários do Estado e policiais nas poucas vezes em que são encarcerados gozam de benefícios e tratamento especiais nas prisões. O ministro da justiça Jose Eduardo Cardoso quando da prisão dos mensaleiros descobriu que o sistema penitenciário brasileiro era medieval. Verdade, mas só para os pretos e pobres e para os pobres pretos, e para os que são presos por lutar.

Essa afronta a dignidade das mulheres que visitam os presos não cumpre o falso objetivo de evitar a entrada de itens ilegais. Todos sabemos que celulares, dinheiro, droga e até armas, entram nos presídios não escondidos nas genitálias das mulheres mas livremente por um sistema comercial que envolve os agentes penitenciários, policiais, e diretores de presídios. Pesquisa realizada pela “Rede Justiça e Criminal” entre 2010 e 2013 demonstrou que de cada 10 mil revistas vexatórias só três flagravam algum item proibido. É tão ofensiva e degradante esta revista que até mesmo um juiz da 1 vara de Execuções Penais de Recife decretou em 2014 a proibição da revista íntima. No Senado foi aprovado um projeto de lei que proíbe a revista íntima sendo encaminhado para a Câmara de Deputados. Como se trata de um projeto que é a favor das mulheres, principalmente das mulheres pobres, não podemos esperar que este parlamento de corruptos e aliados dos setores mais reacionários do país aprovem esta medida para fazer valer o mais rápido possível.


A situação vexatória pela qual passou a Helena Harano, 54, mãe do estudante e funcionário da USP, Fábio Hideki, e a sua indignação podem cumprir um grande serviço para que os movimentos democráticos e movimentos de mulheres levem adiante uma forte campanha pela eliminação dessas revistas íntimas em defesa da dignidade das mulheres e dos direitos humanos básicos que são violados principalmente quando se trata da metade da população, as mulheres.

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