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domingo, 6 de abril de 2014

Basta de estupros, assédio e violência contra as mulheres! #DilmaTambémÉResponsável


No último dia 27 de março foi divulgada pela mídia uma pesquisa do IPEA que diz que 65% dos 3800 entrevistados concordam que as “mulheres de roupa curta merecem ser atacadas” e que 58,5% concordam que “se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”. No dia 04 de abril, o IPEA divulgou uma errata dizendo que os dados da pesquisa estavam erradas, e não eram 65% e sim 26%, o que concordam. Mesmo com a correção da pesquisa, a realidade de mortes, estupros e violência contra as mulheres é grande no país. Já existem pesquisas que afirmam que a cada 12 segundos, uma mulher é estuprada. Dentre essas, cerca de metade são crianças de até 13 anos, e cerca de 70% dos estupros acontecem por conhecidos, amigos ou parentes da vítima. A realidade de estupro no Brasil e mundialmente é algo gritante e faz parte de uma ideologia patriarcal e burguesa na qual as mulheres servem de propriedade para os homens e, se não satisfazem a vontade dos mesmos, estão sujeitas a sofrerem diversas formas de violências. Tal ideologia é reproduzida e legitimada pelo Estado, governos, Igrejas, empresários e patrões para manter as mulheres como sujeitos submissos e assim oprimí-las e explorá-las de diversas formas. Esta ideologia é a que dá bases para uma visão de que as mulheres não podem usar a roupa que bem entender e decidir sobre seu próprio corpo. Esta opressão histórica é estrutural para a manutenção do sistema capitalista para dividir a classe trabalhadora e poder explorar as mulheres, como mantê-las nos postos de trabalho mais precários, continuarem morrendo por abortos clandestinos, não poderem exercer livremente sua sexualidade, serem mercantilizadas nas propoagandas de cerveja e na redes de prostituição e turismo sexual que enche o bolso de empresários e cafetões, serem violentadas dentro dos vagões de metrô e ônibus e tantas outras formas de violência física, moral e sexual.
Nesse sentido, a campanha #EuNãoMereçoSerEstuprada, iniciada pela jornalista Nana Queiroz, parte de um sentimento progressita de indignação em relação aos estupros que sofrem as mulheres todos os dias, e nos colocamos na defesa intransigente da jornalista contra a série de ataques e ameaças que vem sofrendo. Porém, para nós, esta campanha não se delimita dos principais responsáveis que dão bases para manter esta realidade e ideologia. A violência não pode ser encarada como algo individual e da sociedade em geral, e sim de uma sociedade de classes e como a burguesia se utiliza da opressão histórica para manter a dominação de uma classe sobre a outra.
Não à toa, junto desta campanha está o governo Dilma, que recentemente declarou que a "pesquisa do IPEA mostrou que a sociedade brasileira ainda tem muito o que avançar no combate à violência contra a mulher. Mostra também que governo e sociedade devem trabalhar juntos para atacar a violência contra a mulher, dentro e fora dos lares". A jornalista já expressou na rede que a ministra Eleanora Minecucci marcou uma reunião para debaterem uma campanha em conjunto com o governo. Ou seja, as próprias palavras de Dilma mostram que a presidenta culpabiliza a sociedade e tenta fazer parecer que o governo é consequente pela luta contra a violência contra as mulheres. Este mesmo governo que mantém milhares de mulheres trabalhadoras, pobres e negras morrendo por abortos clandestinos. O mesmo governo que pede respeito as mulheres no Brasil, mantém a “Missão de Paz” no Haiti, onde são milhares de denúncias de casos de estupros por parte dos soldados! O mesmo governo que mandou retirar o kit das escolas que discutia a homofobia. E não podemos esquecer que o Estatuto do Nascituro, mais conhecido como bolsa-estupro, que é também resultado da aliança do governo Dilma com os setores mais reacionários como Marco Feliciano, Bolsonaro, que faz com que esses setores estejam na linha de frente no parlamento contra os direitos das mulheres, negros e homossexuais e legitimando sua violência. O mesmo governo que junto ao governo do estado do RJ mantém as UPPS nas favelas que oprime e violenta cotidianamente mulheres, jovens e trabalhadores pobres e negros. Além disso, a Lei Maria da Penha, apesar de escancarar a violência das mulheres, é uma lei que segue sendo papel molhado, pois mulheres que denunciam nas delegacias de mulheres continuam morrendo e ainda são humilhadas.
Para nós, apenas as mulheres trabalhadoras junto a classe trabalhadora são capazes de por abaixo esta sociedade capitalista e assim acabar com toda forma de violência contra as mulheres, e por isso cada campanha democrática contra a violência as mulheres e os estupros, deve ter um conteúdo de classe e se aliar as mulheres trabalhadoras denunciando os governos, Estado e os patrões. Defendemos a punição e prisão dos estupradores, assassinos, mutiladores das mulheres e crianças, mas nossos inimigos não são a sociedade em geral e nem os homens, e sim os governos, patrões, Estado, polícia e Igrejas e devemos nos organizar independente deles para combater a violência contra as mulheres.
Neste sentido combatemos a estratégia das governistas da Marcha Mundial de Mulheres (MMM) que se colocam contra a violência mas estão do lado do governo. E não concordamos como o PSTU, setor majoritário do Movimento Mulheres, do qual integramos, está encarando esta campanha, pois ao falarem apenas que são parte dos 35% da pesquisa que acham “que as mulheres que usam roupa curta não merecem ser esturpadas” e exigirem do governo Dilma mais verba para a ampliação e aplicação da Lei Maria da Penha, não colocam um conteúdo de classe e de combate ao governo que possa de fato armar as mulheres contra esta realidade de violência. No oito de março lançaram um jornal do MML onde estava na capa “governar para a mulher trabalhadora é investir mais dinheiro para o combate à violência contra as mulheres”. A política unicamente de exigência, como se o governo revertesse mais dinheiro para políticas públicas para as mulheres, do qual também somos à favor, dá a entender que um governo como Dilma, de fato poderá em algum momento atender as demandas e direitos das mulheres e acabar contra toda forma de violência. Diante das respostas que o governo vem dando junto com o movimento e a jornalista Nana Queiroz, cria mais ilusões que o governo pode acabar com a violência contra as mulheres. Nós, mulheres revolucionárias e classistas, achamos fundamental que estejamos em unidade contra os estupros e violência às mulheres, mas não será junto com o governo e nem deixando de denunciar frontalmente o governo, que devemos organizar as mulheres para lutarmos contra esta realidade.

Pela organização independente das mulheres, junto à classe trabalhadora!

Temos o direito de utilizar a roupa que quisermos sem precisarmos ser tomadas pelo medo constante de sermos violentadas! Defendemos uma campanha permanente a partir dos sindicatos e locais de trabalho e estudo contra a violência às mulheres, como poderia ser organizado pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo junto aos usuários e usuárias em todos os vagões! Que sejam formadas comissões de mulheres por locais de trabalho e estudo, independentes dos governos e patrões, que apurem cada caso de violência, assédio sexual e moral, ou de discriminação as mulheres onde se debata e inclusive decida quais as punições.
Para que as mulheres possam se defender dos agressores e independizar financeiramente, é necessário lutarmos por casas abrigo e transitórias para todas as mulheres vítimas de violências, que sejam controladas por essas mulheres, familiares e profissionais da saúde, sem a presença da justiça e da polícia. Que as mulheres trabalhadoras efetivas e terceirzadas recebam uma licença remunerada em casos de violência! Basta de superlotação e assédios nos vagões de metrô e nos tranportes, que cada caso de assédio que ocorra, a empresa de trem, metrô e ônibus também seja responsabilizada e dê toda assistência para atender as mulheres. Lutamos pela expansão dos transportes e estatização com controle operário e popular!
Basta de uma educação e escolas que reproduzem o machismo, a homofobia e racismo e ensina esta ideologia para as crianças e jovens. Queremos educação laica e sexual em todos os níveis escolares, que não seja moralista e nem sexista! Queremos o direito ao aborto legal, para que mulheres deixem de morrer e possam decidir! Por um sistema de saúde público estatizado sob controle dos trabalhadores da saúde em aliança com os usuários! Pela revogação do Acordo Brasil-Vaticano! Exigimos a prisão imediata a todos estupradores, assassinos e mutiladores!
Façamos como as mulheres indianas, que frente aos ataques e estupros coletivos, se levantaram conjuntamente para dar um basta! Que as mulheres nos organizemos de maneira independente, junto à classe trabalhadora, desde nossos locais de trabalho e estudo, para travar uma luta consequente contra todos os tipos de violência a que estamos sujeitas, e contra os governos, que são conivente e se calam frente às cotidianas violências estruturais, se colocando ao lado dos patrões e daqueles que nos violentam diariamente!







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