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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Emocionante encontro entre trabalhadoras e estudantes grita: Pão e Rosas!




Rita Frau, Tristán, Virginia Guitzel, Silvana Ramos, Dini Xavier
e Diana Assunção na Plenária Nacional do Pão e Rosas
Neste sábado, 10 de Agosto, realizou-se em São Paulo, a Plenária Nacional do grupo de mulheres Pão e Rosas que reuniu cerca de 200 mulheres e homossexuais entre trabalhadoras, estudantes secundaristas, universitárias, trabalhadoras terceirizadas da limpeza, operárias de fábricas, metroviárias, bancárias, trabalhadoras da USP, professoras de diversos de diversos estados do país (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro).


As trabalhadoras à frente!


Dini Xavier, da Secretaria de Mulheres do Sintusp
A atividade teve início com a abertura de Silvana Ramos, trabalhadora terceirizada linha de frente da luta contra a precarização do trabalho na USP, saudando todas as companheiras ali presentes e contando um pouco de como a luta que travou para receber o salário e os benefícios na greve da USP lhe aproximou da vida política e da necessidade de se organizar. Colocou a importância que se faz hoje as mulheres se organizarem, já que são as mulheres que estão nos piores postos de emprego, são oprimidas pela dupla (quando não tripla) jornada de trabalho e dos abusos (morais e sexuais) que sofrem. Dizia que a lógica que os patrões empregavam para contratar mulheres para esses empregos terceirizados era de que mulher, quando levava bronca, chorava no banheiro. “Eu não. Nós, trabalhadoras na USP, não! Não choramos no banheiro, nós gritamos! Nós lutamos para conseguir nossos direitos”


Silvana também expressou que as mobilizações que tiveram em junho levantadas pela juventude fez “todo mundo ir atrás: os trabalhadores, as mulheres, os homossexuais...” e que agora nesse dia 14 e 30 de agosto, era preciso que as mulheres estivessem presentes levantando suas reivindicações. Em seguida, Dinizete Xavier, da Secretaria de Mulheres do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP, que apoiou ativamente as greves das terceirizadas em 2007, 2011 e 2013) saudou as mulheres que estavam na atividade e apontou de como nossa luta está ligada a um questionamento ao Estado, resgatando em linguagem simples as definições de Engels sobre a origem da família, da propriedade privada e do próprio estado. E de como achamos que nossos inimigos não são os homens, mas sim capitalismo.


A juventude mostra o caminho!


Clismênia, da Unesp de Marília
Tristan, militante do Pão e Rosas no Rio de Janeiro, partiu das mobilizações de junho e do papel que muitos sindicatos poderiam ter cumprido se tivessem forjado uma aliança dos trabalhadores com as centenas de milhares de jovens que saiam as ruas exigindo saúde, educação e transporte públicos, gratuitos e de qualidade. Colocou que essa combinação explosiva, que desde o Pão e Rosas defendemos, é o que a burguesia e os patrões têm mais medo. E que se no dia 11, os sindicatos tinham sido um impeditivo para os trabalhadores, a vontade e os anseios destes só tinha a crescer. Colocou também de como a visita do Papa Francisco ao Brasil foi marcado por muita repressão, tendo manifestantes atingidos com balas de fogo, até bala de fuzil. E também muita hipocrisia, pois enquanto a voz das ruas gritava por serviços públicos decentes, o governo que dizia não ter dinheiro, gastava 118 bilhões dos cofres públicos para trazer o Papa para o Brasil. Relacionou a repressão diretamente com o sumiço de Amarildo, trabalhador negro da rocinha desaparecido pelas mãos da UPP, e de como ele não é o único, mas é parte da realidade também das mulheres morrem cotidianamente seja pela violência domestica, pela polícia, pelos maridos, etc.


Jéssica, Diretora do CAELL USP
Virginia, estudante da Fundação Santo André, discutiu sobre a ilusão que muitas mulheres tinham que com a chegada de Dilma (PT) como presidente da republica seus direitos estariam garantidos. Contou como desde a campanha eleitoral Dilma já demonstrava que não seria capaz de garantir esses direitos, pois sua base de apoio, já nas eleições a fez desistir de defender a legalização do aborto e assim garantir que 200.000 mulheres deixassem de morrer todos os anos. Continuou com o acordo Brasil Vaticano feito por Lula favorecendo a Igreja Católica com isenções fiscais, vetou o kit anti-homofobia que levava para as escolas, desde a infância, a diversidade sexual e a necessidade de respeitá-la. E por fim, abriu espaço para que essa base aliada chegasse na Comissão de Direitos Humanos com Marco Feliciano, e recebeu de braços abertos o Papa da ditadura argentina no Brasil. Por isso, as mulheres não podiam ter nenhuma ilusão em Dilma, ou no PT ou nos patrões. Era preciso nos organizar de forma independente e nos inspirar nos exemplos como as mulheres indianas que se organizaram e foram às ruas em centenas de milhares para lutarem contra o abuso e os estupros que acontecem frequentemente contra as mulheres. Terminou lembrando de Rosa Luxemburgo , revolucionária alemã do século XX, que se colocava a tarefa de lutar por um mundo “onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”.


“Esta é minha 1ª Plenária...”


Adriana, professora da Zona Norte de São Paulo
Dezenas de novas trabalhadoras e estudantes se encontraram nesta Plenária Nacional do grupo de mulheres Pão e Rosas. Com destaque para a delegação de mais de 15 companheiras da Unesp em greve, a voz das mulheres trabalhadoras se fez sentir na intervenção de uma companheira operária de fábricas na Zona Oeste, que iniciou sua fala dizendo que era sua 1ª Plenária, e que na próxima traria mais operárias para se juntar com outras trabalhadoras e com a juventude. Jaciara, trabalhadora do comércio no Rio Pequeno, escancarou o problema da opressão homofóbica e das instituições religiosas que “querem decidir quem eu posso amar”.


Foram dezenas de intervenções de estudantes e trabalhadoras que relatavam suas vidas e a opressão cotidiana que vivem e como combatiam o machismo em casa e no trabalho. Relatos de discriminação por serem lésbicas, por serem negras, por serem trabalhadoras terceirizadas. Se fazia claro que era urgente se organizar para não mais deixar as mulheres morrerem por abortos clandestinos, que era urgente lutar para que as travestis e transexuais tivessem acesso a saúde e educação respeitando sua identidade de gênero e garantindo atendimento qualificado para que a perspectiva de vida não fosse mais de 35 anos.


Jaciara, comerciária
Esteve presente a companheira Patrícia Lessa, do coletivo Maria Lacerda, de Maringá que colocou um relato das atividades do grupo e também interviu Marília Rocha, operadora de trem no Metrô de Sâo Paulo que encabeça como candidata a presidente para as eleições do Sindicato dos Metroviários a Chapa 3 – Pela Base! que está sendo ameaçada de veto pela Diretoria atual do Sindicato e a Comissão Eleitoral.


Uma trabalhadora dos “bandejões” da USP relatava seu cotidiano no local de trabalho e sua revolta com as condições dos terceirizados que nem tinham comida no almoço e eram impedidos de almoçar no próprio bandejão. As estudantes da UFMG relataram como estão organizando o Pão e Rosas em Minas Gerais, Jéssica diretora do CAELL e estudante da Letras retomou a luta contra a ditadura da beleza que nos impõe, Letícia Parks fez um forte relato resgatando a luta de Dandara e muitas outras intervenções transformaram a Plenária Nacional do Pão e Rosas em um emocionante e promissor encontro entre trabalhadoras e estudantes que mostrou o enorme potencial de construção de um forte movimento de mulheres.


Nas fábricas, escolas e universidades: construir o Pão e Rosas!               


Rita Frau, no encerramento
Ao final, Rita Frau, professora da rede estadual de São Paulo em Campinas encerrou fazendo um forte chamado a construir o Pão e Rosas, propondo que nas próximas semanas organizássemos reuniões do Pão e Rosas por local de trabalho e estudo para debater as principais conclusões desta primeira Plenária Nacional. Rita colocou a importância de cada companheira convencer mais mulheres e lutar por nossos direitos junto com o Pão e Rosas. Serão criados grupos de emails para debate entre todas as companheiras de diversos estados que estiveram presentes e debater a organização nos próximos meses de seminários abertos sobre “Gênero e Marxismo” nas universidades avançando em debater nossa estratégia de luta pela emancipação das mulheres. Queremos em breve organizar uma nova e maior Plenária Nacional do Pão e Rosas, preparando nossa forte intervenção no Dia Latino-Americano Pelo Direito ao Aborto bem como nos espaços de mulheres organizados pelos Sindicatos e pela CSP-Conlutas.


Coletivo As Mãos de Jeanne Marie
Ao fim, o recém-formado Coletivo As mãos de Jeanne-Marie apresentou uma performance sobre as mulheres revolucionárias mesclando trechos do poema de Arthur Rimbaud “As mãos de Jeanne Marie” com trechos do livro “Pão e Rosas” de Andrea D’Atri, colocando a necessidade da independência das mulheres trabalhadoras em relação às mulheres burguesas. A atividade continuou com uma grande festa com a DJ Cecília Lara, cerveja e comida, além da exposição artística organizada pela estudante de Ciências Sociais Ravenna Kuneva e outras exposições e colagens. Durante toda a atividade funcionou uma creche com companheiros estudantes e trabalhadores que garantiram o cuidado com as crianças.


Como conclusão, também ficou remarcado que é preciso desde já ir às ruas nesse dia 14 e 30 ao lado da juventude e dos trabalhadores para lutar por transporte público estatal e sob controle dos trabalhadores e contra os escândalos de corrupção entre o governo e o Metrô de São Paulo, construindo também um novo dia de paralisação nacional dos trabalhadores. Venha conhecer e construir o grupo de mulheres Pão e Rosas! Chamamos a nesta semana construir o dia 14 junto com a juventude e os trabalhadores, colocando também a bandeira das mulheres para avançarmos na luta anti-capitalista e arrancar nosso direito ao pão (todas nossas necessidades para viver) mas também o direito as rosas (nosso direito ao lazer, a cultura e a liberdade).

 


  

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