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sábado, 23 de maio de 2009
O povo inundado, os corruptos de farra com o dinheiro público, as mulheres na prisão...
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Diante do dia 28 de maio, Dia Internacional de Ação pela Saúde da Mulher, é necessário reconhecer que no Brasil a insalubridade tem rosto de mulher. Não somente pelas péssimas condições dos hospitais públicos, mas também porque somos 70% da população pobre, que em regiões como o Norte e o Nordeste compomos uma grande parcela que não tem acesso sequer à água potável e saneamento básico. Não fosse suficiente, mais de 340 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas por conta das enchentes, causadas supostamente pelo excesso de chuvas, se encontrando neste momento em situações insalubres, expostas a todo o tipo de doenças transmissíveis através da água poluída e do lixo das ruas.
Nem o governo e nem a mídia vem dando importância para essa verdadeira calamidade pública, que muitos querem chamar de tragédia natural, acobertando os problemas referentes às obras públicas que deveriam ser garantidos pelo Estado. E ainda que pareça piada, essa situação alarmante acontece no mesmo país em que os políticos do governo de Lula e do PT e da oposição fazem uma grande festa com seus familiares e amigos, às custas do povo, viajando com passagens aéreas garantidas pelo orçamento público. Entretanto, o povo e os trabalhadores continuam vivendo (sobrevivendo!) nas piores condições e as mulheres, como sempre, somos as que carregamos as piores conseqüências desta situação.
Desde o começo do ano acompanhamos através da televisão e dos jornais a quantidade de casos de estupros de meninas e crianças,muitas vezes por parentes próximos. Somente em São Paulo, segundo o Hospital Estadual Pérola Byington, 40% dos abortos legais,no caso de risco à vida da mãe ou em caso de estupro, são feitos em crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. O caso mais escandaloso, em Pernambuco, contou com a declaração de um porta-voz da Igreja Católica, que disse publicamente que o aborto é um crime pior que o estupro. Essa semana uma jovem foi estuprada dentro de uma universidade em Pernambuco e, sobre isso, a Igreja Católica não declarou nada. Ao mesmo tempo, os outros casos de abortos não contemplados pela lei, resultam na condenação de que as mulheres devem se submeter às piores situações de clandestinidade, prática condenada pela justiça de vários países da América Latina, ao passo em que nos negam a possibilidade de fazer uma cirurgia com segurança que pudesse interromper uma gravidez não desejada. A perseguição já toma conta do cenário nacional, como no Mato Grosso do Sul, com o indiciamento de milhares de mulheres acusadas de terem feito abortos clandestinos. Também essa semana, no Amazonas, uma mulher de 20 anos foi presa pela suspeita de ter feito um aborto, e em Belo Horizonte, a jovem Elisanete da Cruz também está presa pela mesma acusação, e poderão pegar pena de 3 anos, enquanto os corruptos estão em liberdade. Não podemos naturalizar esses fatos.
Tudo isso acontece numa sociedade que penaliza o aborto e penaliza a maternidade. Quanto mais o tempo passa, e mais cai a máscara da suposta democracia em que vivemos, mais se torna necessário que as mulheres lutem pelos seus direitos. Não está descartado que conforme se aprofunde a crise econômica, essa crise logo se transforme em crise social, aumentando as mazelas que já conhecemos, o que certamente resultará em mais sofrimentos para as mulheres. Inclusive, médicos de clínicas norte-americanas declararam que seus consultórios estão lotados. Segundo eles, o aumento da procura por abortos tem como principal motivador as preocupações financeiras das mulheres. Isso significa que a crise não somente apresenta um aumento de abortos nos países onde sua prática é legal, mas principalmente nos países onde não é,
possibilitando um aumento dos abortos clandestinos que podem resultar na morte de mulheres.
Portanto, a luta contra a morte de 5 mil mulheres por ano na América Latina, ao lado da luta pela possibilidade de decidir sobre nossos corpos se torna cada vez mais necessária, numa sociedade que nos impede de ser mães, nos negando saúde, alimentação e educação, e
escolher nossos próprios destinos, criminalizando àquelas que fogem das “regras” impostas pela classe dominante e pelos ditames da Igreja Católica, maneira essa de perpetuar uma forma de
propriedade sobre os corpos das mulheres.
À esta campanha, por educação sexual em todos os níveis da educação pública, por contraceptivos gratuitos de qualidade e pelo direito ao aborto legal, livre, seguro e gratuito, garantido pelo Estado, nós do Pão e Rosas chamamos a impulsionar. Ao mesmo tempo, a luta pelo direito ao aborto é uma luta que nos levará a um enfrentamento direto com o sistema capitalista e suas instituições, como a Igreja Católica - que hoje encabeça a campanha “em defesa da vida”. Por isso, desde já é necessário se preparar, e se colocar de pé para enfrentar a crise capitalista que querem despejar sobre nós, colocando a luta pelo direito ao aborto legal, livre, seguro e gratuito como parte desse fundamental enfrentamento. Nós do Pão e Rosas, que integramos a Conlutas, fazemos esse chamado a todas as companheiras e companheiros. Coloquemos de pé uma grande campanha no Brasil e em toda a America Latina!
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