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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Basta de violência contra as mulheres



Dia 25/11- dia internacional de luta contra a violência contra as mulheres

Rita Frau, professora, militante do Pão e Rosas e da Executiva Nacional do MML

Os casos mais recentes que ganharam a mídia como o caso de Jandira, morta pela máfia do aborto clandestino no Rio de Janeiro e os estupros na Faculdade de Medicina na USP ecoaram o grito entalado na garganta de milhares que sofrem com a realidade da violência contra as mulheres no Brasil. Todos os dias em cada canto do país milhares de mulheres são vítimas de abortos clandestinos  que levam à morte, femicídios, mutilações, estupros, assédio moral e sexual, estupros corretivos, violência policial, exploração e precarização do trabalho.

Á cada 2 dias uma mulher morre por aborto clandestino, a cada 12 segundos uma mulher sofre violência. São ao menos 50 mil mulheres estupradas por ano, sem contar os casos que não chegam à ser denunciados.

As alianças e os lucros são mais importantes que a vida das mulheres



Mais uma eleição se passou e o que vimos foram alianças espúrias com setores reacionários que são coniventes com as milhares de mortes de mulheres por abortos clandestinos. Dilma Rouseff mais uma vez se negou a defender a legalização do aborto em detrimento de suas alianças com setores como Eduardo Cunha do PMDB e da Igreja católica e evangélica que formam a bancada “pró-vida” e mantém a tentativa de passar projetos de leis como o “Estatuto do Nascituro”.

No Rio de Janeiro, a Operação Herodes, conhecida como a maior operação contra a máfia das clínicas clandestinas, arma o palco para a impunidade dos que matam e lucram bilhões a partir do sofrimento de mulheres e sequelas de abortos. A polícia tentou indiciar o ex-marido de Jandira e uma amiga por apoiarem a decisão de Jandira pelo aborto, mas foi negado pelo Ministério Público. Mais uma demonstração da grande hipocrisia das instituições estatais que estão envolvidas nas diversas formas de violência contra as mulheres, como o envolvimento de policiais no crime de estado contra Jandira.

Não esqueceremos jamais dos assassinatos dos filhos e maridos das mulheres negras e pobres das periferias e favelas, como os casos de DG e Amarildo no Rio de Janeiro. E  Claudia, trabalhadora precária negra, pobre e arrastada como um objeto pela polícia nas ruas da Zona Norte do Rio.

No Haiti, o governo do Brasil segue servindo à dominação imperialista norte-americana e beneficiando os lucros das multinacionais que sugam o suor dos trabalhadores haitianos, com a manutenção das tropas brasileiras no Haiti que são recorrentemente acusadas de estupros contra as mulheres haitinas.

A  burocracia acadêmica para abafar os casos de estupros na faculdade de Medicina da USP, finge que nada acontece mesmo diante do sofrimento de jovens estudantes que viviam no silêncio e com medo, comprovando que os privilégios e interesses de uma casta de professores são mais importantes do que o combate à violência que sofriam as estudantes.

A violência contra as mulheres também se expressa na precarização do trabalho quando as mulheres ocupam os postos de trabalho mais precários, na maioria das vezes recebendo salários mais baixos do que os homens, e no caso das mulheres negras mais  ainda. Trabalhos tercerizados, temporários e precários que levam as mulheres a adoecerem e não terem dirireitos trabalhistas garantidos.

A violência à serviço da exploração capitalista

Os assassinatos são o último elo da cadeia de violência que sofrem as mulheres. Toda as outras formas atingem diretamente a forma como nos constituímos como sujeito. Sofremos agressões verbais com o machismo dentro e fora de casa, na escola somos subjugadas e condicionadas à um comportamento, somos vítimas de um padrão de beleza que nos adoece,  nos leva a competição com outras mulheres e nossos corpos são vistos como mercadorias e propriedade que podem ser usados, descartados e violentados.

Esta ideologia surge no desenvolvimento da propriedade privada, que também se expressa nas relações sociais à serviço da dominação da burguesia e manutenção do sistema capitalista que reproduz e se sustenta através da exploração e opressão.  Quando essa ideologia é reproduzida no seio da classe trabalhadora através de preconceitos, machismo, homofobia, racismo, fortalece a exploração da burguesia. Dizemos que quando uma trabalhadora é violentada por um trabalhador, é um passo atrás na luta contra este sistema de opressão e exploração. 

A recente campanha dos trabalhadores da USP contra os estupros na faculdade de Medicina mostram um grande exemplo de como deve ser tomada a luta contra a violência contra as mulheres pelas organizações e a base dos trabalhadores.  A luta contra a exploração e pelos direitos da classe trabalhadora não é separada da luta contra toda a forma de opressão e violência contra as mulheres. 

Esta campanha nos mostra que cada passo da classe trabalhadora em luta contra a violência é um passo para o fortalecimento dos trabalhadores contra a divisão da classe tomando para si a luta contra toda forma de opressão e contra a exploração e deve ser tomada de exemplo por todas as organizações de trabalhadores.

Sejamos milhares de mariposas lutando por nossos direitos

O dia 25 de novembro surgiu em homenagem as irmãs Mirabal, conhecidas como Mariposas, no I Encontro Feminista Latino Americano e Caribenho realizado em Bogotá, contra a Violência contra as mulheres. Patria, Minerva e Maria Teresa Mirabal foram assassinadas dia 25 de novembro de 1960 pela ditadura de Rafale Trujillo. Elas se auto-identificavam como Mariposa 1, Mariposa 2 e Mariposa 3 militando em resitência contra o regime militar e foram assassinadas por serem  valentes lutadoras contra a ditadura. O repúdio ao assassinatos delas abriu o caminho para a caída do ditador Trujillo.

É com espírito e o exemplo dessas lutadoras encaramos mais um dia 25/11. A experiência de 12 anos do governo do PT e a reeleição de uma mulher já mostraram que para as mulheres,  leis como a Lei Maria da Penha e programas sociais, seguem sendo papel molhado,  e que tentativas de responder os setores oprimidos com política reformistas e paliativas não apagam a realidade do trabalho precário, assédios, mortes e sequelas por abortos clandestinos.

Precisamos de um forte movimento de mulheres que não alimente ilusões no governo Dilma pois este só governará para mulheres como Katia Abreu (PMDB) e outras que se beneficiam da miséria e exploração da classe trabalhadora e do povo pobre das cidades e do campo.

Apenas um movimento de mulheres com milhares de Mariposas independentes dos governos, patrões, Igreja e burocracias sindicais e aliando à classe trabalhadora que organize a luta contra a violência as mulheres nos locais de trabalho e de estudos para ganharmos as ruas, será capaz de arrancarmos nossos direitos.

Neste 25 de novembro o grupo de mulheres Pão e Rosas participará em várias cidades da América Latina e Caribe das atividades para exigir um basta de violência contra as mulheres! Pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito! Contra os estupros, feminicidios, a redes de tráfico de mulheres! Por todos os direitos das mulheres trabalhadoras!

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