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segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Um novo feminismo operário?

por Andrea D'Atri
(traduzido de http://www.pyr.org.ar/Un-nuevo-feminismo-obrero)

A greve de fome da lendária Domitila Barrios, na Bolívia, junto aos mineiros e ao Comitê de Donas de Casa, é um dos exemplos mais conhecidos. Também existe uma forte tradição de comitês de apoio de mulheres nos Estados Unidos, desde a mítica greve do Pan y Rosas de 1912, aonde se organizaram reuniões de crianças dentro do sindicato, para lhes explicar por que suas mães e seus pais estavam lutando, combatendo assim a propaganda anti operária feita nas escolas e na imprensa. Nesta luta também se destacou uma grande organização de família solidárias, o que permitiu que enviassem as crianças para distintas cidades, enquanto se desenvolvia o conflito, para que fossem cuidadas por outras pessoas, e para que os grevistas tivessem a tranquilidade necessária para prosseguirem em sua luta.

Nos anos 30, o Comitê Auxilar das esposas dos caminhoneiros norte americanos teve uma importância muito relevante: não somente organizou o plantão de telefones na sede do sindicato, um refeitório para centenas de gevistas e um hospital hospital de campanha para os feridos pela repressão, como também foi crucial para que fossem conhecidas as manobras que preparavam os patrões e os políticos contra os trabalhadores, através de uma rede de secretárias que colaboravam anonimamente com a causa operária.

Nos mesmos anos, a Briga Auxiliar de Mulheres – constituída pelas famílias dos operários das automotoras – conseguiu torcer o braço de que ninguém menos que a General Motors.

Os exemplos são muitos. E se prolongam até nossos dias. Estamos vendo nos últimos meses, na Panamericana, as mulheres trabalhadores e as esposas dos operários despedidos da Lear enfrentando a repressão comandada por Sergio Berni. Vemos estas operárias confraternizando com as mulheres de Kraft-Mondelez, com trabalhadores telefônicas e servidoras estatais, com as professores de suas filhas e filhos que também se solidarizam com a tenda montada em frente a multinacional de auto peças.

E agora os meios de comunicação descobrem a existência da Comissão de Mulheres de Donnelley, uma fábrica aonde quase não trabalham mulheres! Mas aonde as companheiras, irmãs e familiares dos operários gráficos, com o apoio da comissão interna da fábrica, se organizam desde muito tempo.

O novo sindicalismo combativo e classista que enfrenta as direções tradicionais burocratizadas do movimento operário, também se distingue destas velhas direções pela importância transcendental que dá à organização das mulheres.

A Comissão de Mulheres de Donnelley se distingue de outras porque, ainda que hoje se unam para conquistar a estatização da fábrica que já funciona sob controle operário, não se organizaram por este motivo. Sua unidade é o resultado de um longo caminho de confraternização entre as família operárias construído em churrascos, jogos de futebol, brincadeiras e campeonatos, festivais para o Dia da Infância e aniversários. E as mesmas celebrações compartilhadas se convertem em cadeias operárias de solidariedade toda vez que alguma família necessita, enfrentando juntas inundações, incêndios, acidentes, problemas de saúde e outras dificuldades da vida operária.

Além de tudo, o que anuncia a chegada e algo novo é que esta Comissão de Mulheres também debate e se organiza para denunciar as redes de tráfico de mulheres, exige a legalização do aborto, que impediria a morte de centenas de jovens mulheres, e enfrenta a violência machista.

O que fizeram em agosto de 2012 é um exemplo entre tantos. Quando os meios de comunicação anunciaram um triplo feminicídio ocorrido em Benavídez, os operários de Donnelley logo advertiram que o criminoso teria sido, tempos atrás, empregado da fábrica. Então a Comissão de Mulheres conjuntamente à Comissão Interna aproveitaram o clime gerado pela notícia e publicaram uma declaração contra a violência machista. Esse panfleto, distribuído em toda fábrica pelos delegados, dizia: “queremos aportar à organização das mulheres, de nossas esposas, das trabalhadoras gráficas e de toda a classe trabalhadora, para lutarmos juntos contra a violência machista”.

Hoje estas mulheres se dirigem a outras empresas gráficas, buscando a solidariedade das trabalhadoras e trabalhadores do grêmio gráfico. Impulsionam um fundo de luta para que suas famílias possam sobreviver à quebra fraudulenta declarada por Donnelley. Mas também se organizam para comparecer em conferências feministas e nos Encontros Nacionais de Mulheres.

Depois de longas décadas de individualismo e “tolerância” liberal que deixaram aos movimentos sociais alguns  poucos direitos costurados e muita fragmentação, despolitização e assimilação, transformando o feminismo em um objeto de consumo cultural para algumas poucas, será a Comissão de Mulheres de Donnelley o gérmen de um novo feminismo operário que ainda está por vir á luz?



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