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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A conquista por nossos direitos caminha junto com a luta por uma saúde pública, de qualidade, e sob controle das/os trabalhadoras/es e usuários!

Núcleo Pão e Rosas da cidade de Marília/SP


Manifestação em 30/08 na cidade de Marília/SP
O cenário aterrorizante no qual se encontra a Saúde Pública brasileira envolve desde a falta de estrutura básica, para atender a população de forma adequada e com qualidade, até um regime de trabalho ultra-precarizado — que não considera minimamente a saúde desta/e trabalhadora/o, pressionando-a/o de diferentes formas: baixos salários, divisão das categorias. Outro problema é que a saúde hoje em dia está cada vez mais privatizada. De um lado, com as políticas neoliberais de sucateamento dos serviços públicos, as verbas para a saúde foram retiradas. Por outro lado, recursos foram sendo repassados para o setor privado, os capitalistas da saúde que sedentos por lucros transformaram, com a ajuda estatal, os serviços de saúde em mercadoria, impõe sobre a saúde pública a mesma lógica produtivista e desumana das fábricas — porém em serviços que podem determinar a vida ou a morte das pessoas. Também não podemos deixar de falar em toda a corrupção que torna os recursos materiais ainda mais escassos.

Esta precarização é mais que vivida e estampada! Na história do Brasil nunca houve de fato uma política de saúde universal e de qualidade para a classe trabalhadora e o povo pobre. A criação do SUS pela Constituição Federal de 1988 teve sua origem na luta dos movimentos sociais, políticos e sanitários iniciados na década de 70, que além de combater a ditadura militar exigiam melhores condições de vida para a classe trabalhadora. Porém, o SUS já nasce degenerado e cheio de contradições devido ao seu processo de implantação que não correspondeu a proposta inicial de radicalização democrática. Afastou-se das bases populares junto ao enfraquecimento e adaptação dos movimentos sociais após a abertura do regime. Os governos não priorizaram o SUS. Pode-se dizer que o SUS é uma reforma parcial, incompleta, que não conseguiu universalizar a atenção à saúde. É necessário ampliar o acesso e qualificar os serviços de saúde, expandir a cobertura da atenção básica e também garantir que exista integração entre esta e os hospitais.

Manifestação FAMEMA no dia 30/08
A panela de pressão do caos na saúde pública já vem estourando em alguns lugares do Brasil, no início deste ano houve uma greve estadual dos trabalhadores do SUS, porém não com toda a força que poderia; basta ligar a tv para ver que constantemente exploram as imagens desumanas dos serviços de saúde e de forma cínica denunciam às “autoridades” o que ocorre. E é o que se passa na cidade de Marília. A situação dos serviços hospitalares do “complexo FAMEMA” (Faculdade de Medicina de Marília), rede de serviços ambulatoriais e hospitalares, que cobre a demanda de 62 cidades da região de Marília, responsável pela assistência ao SUS e pela formação de médicos e enfermeiros na graduação e outros profissionais na pós graduação, está extremamente precária. Faltam materiais básicos para procedimentos, a alimentação para pacientes bem como nos refeitórios está escassa, o salário dos funcionários está defasado em 30%, e o sobre-trabalho se intensifica ainda mais com as horas extras que estes precisam fazer para suprir a insuficiência de funcionários contratados. A biblioteca é extremamente desatualizada e faltam professores, além de vários outros problemas. Ao final de Junho, em meio às históricas e exemplares manifestações das “Jornadas de Junho”, os trabalhadores em ato na cidade denunciaram toda essa situação que já faz parte de reclamações recorrentes dentre a população pobre usuária dos serviços.

A partir daí, exigindo o apoio do sindicato, os funcionários que representam o segundo maior segmento em número de trabalhadores da cidade entraram em greve no dia 26 de agosto. A greve expandiu-se a estudantes, residentes multiprofissionais, residentes médicos e professores. Esta luta desmascara o descaso dos governos estadual, federal e municipal, o sucateamento da saúde pública destinada à população pobre e a precarização do trabalho.

As mulheres tem sido a maioria na linha de frente da greve. A área da saúde é uma das áreas que mais concentra trabalhadoras mulheres. E, por sua vez, as mulheres, sobretudo as mulheres negras, são a grande maioria que ocupam os postos de trabalho precarizados, ganhando menos que os homens e sofrendo diversos tipos de assédio moral dos patrões até para não engravidarem e, consequentemente não tirarem licença do serviço, ou então pressionando aquelas que desenvolvem lesões em consequência da sobrecarga de trabalho para que peçam demissão.
Roda de debate organizada pelo Pão e Rosas: "A Saúde da
Mulher Trabalhadora"
Com todo esse cenário, o grupo Pão e Rosas de Marília colocou todos seus esforços para solidarizar-se com esta luta. Estivemos em conjunto de trabalhadoras/os, residentes e estudantes junto a manifestação organizada pelo centro da cidade de Marília no dia 30 de agosto. Temos companheiras construindo diariamente esta luta. No dia 12/09/13 realizamos uma roda de conversa com as trabalhadoras, que tinha como objetivo discutir a “Saúde da Mulher Trabalhadora”. Nesta atividade contamos com a presença em grande parte de trabalhadoras e também de alguns trabalhadores dispostos a participar. Durante a apresentação percebemos que era um grupo heterogêneo, haviam trabalhadoras de diferentes setores. As terceirizadas e efetivas discutiram com o grupo os efeitos que a dupla jornada do trabalho precarizado acarretam à saúde, desde problemas relacionados à prevenção ao tratamento dos diagnósticos. Os relatos evidenciaram a negligência dos setores políticos relacionados à saúde da mulher trabalhadora. No entanto a discussão não serviu para desmotivá-las, o rico diálogo sobre a saúde da mulher proporcionou segurança para as trabalhadoras exporem e denunciarem outros problemas vinculados a realidade opressora que vivem, por exemplo: as péssimas condições de trabalho, a falta de projetos de assistência médica e pedagógica a elas e à família e a estrutura de poder antidemocrática dos órgãos de gestão institucional.

Companheira Isabela, residente multiprofissional e militante
do Pão e Rosas
Para o grupo Pão e Rosas – Marília, a experiência foi muito importante neste período de reestruturação do grupo na cidade, o contato com as trabalhadoras, a compreensão da luta das companheiras naquele contexto, gerou importantes reflexões e laços de luta para o grupo na cidade. Nesta semana, novas atividades com as trabalhadoras em greve da FAMEMA foram realizadas. Em geral, foi a união de mulheres em luta por causa das péssimas condições da saúde, do trabalho, da educação, que movem forças para o combate desta realidade capitalista e alienante em que todas fazem parte.
Companheira Thaís, residente multifuncional
e militante do Pão e Rosas
Nesta última terça-feira (24), as trabalhadoras e trabalhadores da FAMEMA novamente foram às ruas reivindicar melhores condições de trabalho e também pelo direito democrático de acesso a uma saúde gratuita e de qualidade a toda a população. Em ato na cidade, mais uma vez denunciaram a situação degradante que se encontra a saúde pública no Brasil e, mais uma vez se esbarraram com a falta de resolutividade do governo local, que no dia seguinte chamou “alguns trabalhadores” para uma reunião, em que alegou que nada pode fazer a não ser “ajudar politicamente”, tentando algum contato com o governador Geraldo Alckimin, seu aliado nas campanhas eleitorais e que, neste momento de greve parece estar tão distante. Para este ato nos organizamos junto à Juventude às Ruas! ajudamos na confecção de cartazes, faixas e camisetas para o ato, além de participarmos ativamente do mesmo!
Por entender que o direito pleno à saúde é uma das importantes conquistas para a emancipação das mulheres e que a luta da FAMEMA agrega diversos elementos do nosso programa (precarização do trabalho, sucateamento da saúde pública, direito à creches públicas, contra o assédio moral, etc) que tudo isso, o grupo de mulheres Pão e Rosas continuará levando toda a nossa solidariedade e apoio ativo a esse movimento. Em meio a precarização total de um direito mínimo básico da população, em meio a milhares de mortes diárias de mulheres e homens da classe trabalhadora que por falta de acesso a remédios gratuitos, atendimentos qualificados, exames adequados e a extrema restrição ao que possuímos de mais avançado na tecnologia em saúde, além da espera por exames e consultas que dura meses ou anos, a luta pela saúde e pelo direito de greve que hoje está sendo ameaçado, deve ser um dos eixos principais de nossas atuações.

Todo apoio a luta dos trabalhadores, professores, estudantes, residentes multiprofissionais e médicos da FAMEMA!
Por um sistema único de saúde 100% estatal, gratuito e sob controle da classe trabalhadora!
Basta de mulheres sem acesso a exames e informações preventivas sobre sua saúde e direitos.

Basta de mulheres sem tratamento adequado para suas enfermidades! Chega de demoras nas filas! Por condições reais de recuperação para a mulher trabalhadora e pobre!











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