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terça-feira, 30 de julho de 2013

Para quem assistiu o vídeo “As 5 contradições da Igreja e do Papa no Brasil”

Por Rita Frau

Em 2 dias mais de 5 mil pessoas assistiram o vídeo “As 5 contradições da Igreja e do Papa no Brasil”, produzido pelo grupo de mulheres Pão e Rosas. Com este texto queremos debater com estas e outras milhares de pessoas sobre a luta pelo direito ao aborto e por um Estado laico, apresentando quais são as ideias do grupo de mulheres Pão e Rosas. 

A vinda do papa ao Brasil teve uma grande repercussão onde a mídia internacional deu grande destaque todos os dias. Nosso intuito com este vídeo não foi questionar a fé religiosa das mulheres e população, e sim, mostrar o que está “por trás” deste grande evento financiado pelos governos municipal, estadual do RJ e pelo governo federal. Ao mesmo tempo, que o papa Francisco[1], aparece mundialmente como uma figura humilde, que construiu sua carreira eclesial “junto aos mais pobres”, discursando por justiça social e reivindicando as mobilizações de junho e julho tendo a juventude à frente, foi aliado da ditadura militar na Argentina, uma das mais sangrentas da América Latina.

Não podemos apagar seu passado com uma borracha diante de uma ditadura que matou 30 mil militantes de esquerda e roubou bebês desses militantes entregando nas mãos das famílias de generais e de empresários vinculados à ditadura militar. Com um pouco mais de 33 anos, o papa Francisco militou em uma organização de direita chamada Guarda de Ferro (Guardia de Hierro) e teve relação estreita com generais da ditadura, como Emilio Massera, responsável pela tortura e mortes de pelo menos 3 mil opositores do regime militar argentino. Além disso, após a ditadura o papa Francisco se colocou contra a anulação das leis de impunidade defendendo a reconciliação com os genocidas da ditadura.

Se no seu discurso de retorno ao Vaticano disse que os homossexuais não devem ser “julgados ou marginalizados”[2], na Argentina se colocou contra a Lei de Matrimônio Igualitário dizendo que era “uma guerra de Deus” contra “uma movimentação do diabo”, além de censurar toda a possibilidade de educação sexual nas escolas e políticas de saúde reprodutiva. E no Brasil, sua Igreja distribuiu mais de 70 mil cartilhas contra o casamento igualitário LGBTTI, contra o direito a adoção de crianças por casais homoafetivos e contra o direito ao aborto.

Esta mesma Igreja que excomungou familiares e médicos que realizaram o aborto de uma criança que havia sido estuprada em Recife, que faz campanha para que o governo deixe de entregar pílulas do dia seguinte às mulheres estupradas no país, é a que está envolvida em escândalos de pedofilia e vive sem trabalhar banhada de ouro e prata. Enquanto foram gastos mais de R$ 118 milhões com a vinda do papa em detrimento de dinheiro público para saúde e educação, o Vaticano tem sua riqueza estimada em US$ 6 bilhões. A população continua sem os mínimos serviços básicos com qualidade, como saúde, moradia, educação e transporte – como se viu com a enorme luta da juventude pela revogação do aumento que teve amplo apoio popular.

É em aliança com este papa e a Igreja católica e evangélica que Dilma vem rifando os direitos das mulheres e homossexuais, e lava a cara do passado do papa Francisco, pois apesar de ter sido torturada pela ditadura, se coloca contra a punição dos torturadores em nosso país, que andam livremente em seus carrões e moram em condomínios de alto luxo enquanto ex-militantes e familiares vivem as sequelas das torturas e mortes. Desde as eleições presidenciais, onde Dilma se calou em relação à defesa do direito ao aborto, por pressão da base aliada (com partidos burgueses e conservadores), abre cada vez mais espaço para ataques e a interferência das Igrejas no Estado. Apesar da constituição de 1988 garantir o Estado laico, cada ano vemos este direito ser jogado no lixo por Dilma através de suas alianças com os setores conservadores. O Acordo Brasil-Vaticano, assinado por Lula (2006), que segue no governo Dilma, é um dos exemplos desta relação íntima entre Estado Brasileiro e Santa Sé. Este acordo além de estabelecer que a Igreja católica seja beneficiada de isenções de impostos para construir seus templos em território brasileiro, estabelece que nas escolas públicas sejam ministradas aulas de ensino religioso.

Marco Feliciano como presidente da Comissão de Direitos Humanos com apoio de Dilma, à cada dia tenta passar um novo ataque as mulheres e homossexuais. Este pastor racista, machista e homofóbico é porta-voz dos setores reacionários que querem fazer passar projetos como a “Cura Gay”, “Estatuto do Nascituro” e mais recentemente a tentativa de setores da Igreja tentam passar um projeto que impede a “profilaxia de gravidez” para as mulheres vítimas de estupros. Além desses ataques, a aliança com a Igreja católica e evangélica legitima a discriminação às religiões de origem africanas que são parte da história da população negra e classe trabalhadora de nosso país que vive cotidianamente na pele o racismo e a exploração. Por isso, para garantir que possamos escolher qualquer religião ou ainda não ter nenhuma, é preciso lutarmos pela separação da Igreja do Estado! Fora Papa e Vaticano! Fim do Acordo-Brasil Vaticano que dá isenção fiscal para a Igreja Católica e estabelece o ensino religioso na escolas!

Enquanto esses setores reacionários ganham espaço, a realidade das mulheres, negros e homossexuais é a de violência, miséria e mortes. No Brasil quase 1 milhão de mulheres realizam abortos na clandestinidade, sendo que apenas as mulheres ricas ou que se endividam financeiramente podem pagar por um aborto em uma clínica clandestina, que chega a custar 3 mil  reais para mais. A maioria das mulheres, trabalhadoras, pobres e negras realizam de maneira precária, tomando remédios ou métodos improvisados que chegam a levá-las a morte. O aborto clandestino é uma verdadeira prática de tortura contra as mulheres, e ao contrário do que dizem, não se trata de método anticonceptivo, mas da possibilidade de decidir sobre seu próprio corpo – e não morrer! – numa sociedade que só nos relega miséria e opressão. Como dizia o dirigente da Revolução Russa Leon Trotsky, o aborto é um triste direito.

A criminalização do aborto está relacionada à uma ideologia cristã que considera como  papel fundamental da mulher apenas sua capacidade biológica de reprodução. Esta ideologia dá base à opressão das mulheres e está à serviço da aliança entre Estado, Igreja e patrões para manter a divisão entre homens e mulheres e sustentar este sistema de opressão e exploração onde mulheres, homossexuais, travestis, transexuais e negros são super explorados e discriminados  cotidianamente. Por isso atacam o direito da livre escolha da sexualidade e o direito de decidir sobre o próprio corpo, tratando como vida um embrião e não tratando da vida das mulheres que são estupradas, violentadas e morrem todos os dias na clandestinidade do aborto.

Ao mesmo tempo que o Estado, governos,  patrões em aliança com as Igrejas,  impõem as mulheres o destino da maternidade, não garantem este direito. As mulheres trabalhadoras, pobres, negras, são as que ocupam os postos de trabalho mais precários e recebem salários de miséria, são as que não têm acesso à um sistema de saúde público de qualidade e são obrigadas e enfrentarem filas para serem atendidas e realizarem o pré-natal, são demitidas para que os patrões não paguem os direitos da licença maternidade, não têm acesso as creches públicas para seus filhos e a licença maternidade de 1 ano ainda é um direito a ser arrancado em nosso país. São as que perdem seus filhos todos os dias com a violência policial nas periferias e favelas! Sem contar nos mal-tratos que recebem vítimas de estupros e são obrigadas a carregar em seu corpo o fruto desta violência, e muitas são presas e obrigadas a pagarem suas penas com serviços voluntários em creches, como uma forma de se reconciliarem com a maternidade que “outros” decidiram por nós. Não aceitamos mais a morte de milhares de mulheres por abortos clandestinos. Enquanto as mulheres ricas podem pagar as caríssimas clínicas clandestinas, nós continuamos sendo 200.000 mortas, todos os anos. Não aceitaremos que dedicam mais por nós, o corpo e a mente são nossos! Educação sexual laica para decidir, contraceptivos gratuitos para não engravidar, direito ao aborto legal, seguro e gratuito para não morrer! Arquivamento do Estatuto do Nascituro!

Para nós do grupo de mulheres Pão e Rosas a luta pelos direitos das mulheres deve ser de forma independente dos governos, patrões e das Igrejas pois só assim conseguiremos arrancar nossos direitos. Respeitamos a fé dos trabalhadores e da população, mas denunciamos fortemente a hipocrisia da Igreja, do Papa e do Vaticano. Tirem suas mãos de nossos corpos e vidas! Sabemos que sozinhas é muito difícil e por isso chamamos a todas a construirmos um forte movimento de mulheres pelos nossos direitos e contra esta sociedade de opressão e exploração. Não basta uma mulher no poder, sejamos milhares nas ruas!

Venha conhecer, debater e construir o grupo de mulheres Pão e Rosas! Plenária do Pão e Rosas dia 10 de agosto! Em breve mais informações.

[1] http://www.ft-ci.org/Quem-e-Francisco-I-A-cumplicidade-de-Bergoglio-com-a-ditadura-militar?lang=pt_br

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