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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Somos as negras nos morros! Dor estampada nos rostos!

por Pão e Rosas RJ

Nesses últimos dias, houve um estado de pânico instaurado nas ruas do Rio de Janeiro. O que antes eram alguns carros incendiados, culminou em uma verdadeira missão de guerra nos últimos dias, da qual sabemos que o verdadeiro alvo não é o tráfico.

São quase 3.000 policiais dentre civis, militares, polícia federal, CORE, Choque, Bope, convocados para a chamada “Guerra ao terror”, como diz a mídia burguesa. Com o diferencial que, além deles, tivemos agora a presença de soldados já experientes em exterminar negros e pobres. São atiradores de elite, helicópteros da aeronáutica, soldados da marinha junto a seus blindados que são verdadeiras máquinas de destruição e mais 800 soldados do Exército, sendo que grande parte deles compunham as tropas brasileiras enviadas por Lula e a ONU ao Haiti.

A recente militarização ocorrida nos principais morros e favelas da zona norte do Rio (Penha, Complexo do Alemão) significa na verdade um projeto de paz para as áreas mais nobres da cidade (Zona Sul e região Central) enquanto fica reservado aos moradores dos morros mortes, humilhação e subjugação por parte de uma das policias mais assassinas do mundo. Assim como as UPP´s, ou o muro construído ao redor das favelas nas linhas vermelha e amarela, a ação da polícia e dos militares nessa semana tem como um dos intuitos, não deixar chegar à zona sul da cidade os reflexos de um sistema de miséria e violência inerentes ao capitalismo.

O projeto de Lula, Dilma, Cabral e a burguesia carioca frente às Olimpíadas e a Copa sediados no Rio

Desde o dia 21 de novembro, quando foram incendiados os primeiros carros na cidade, a mídia soube muito bem como criar um estado de pavor no cidadão carioca. Assaltos viraram “arrastões” e os carros e ônibus incendiados eram incansavelmente filmados.

Tudo isso nos prova o objetivo de Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro, junto à mídia e burguesia cariocas de fazer ser legitimado seu projeto de limpeza social na cidade, baseado no controle e na dura repressão aos negros e pobres nos morros da cidade que sediará a Olimpíadas em 2012 e Copa em 2014. Com todo esse pânico estampado nas manchetes dos jornais, buscam o aval da população para que continue sendo implantada a pena de morte a essa parte da população carioca.

Lula, que encabeçou o PAC da segurança nos morros cariocas, e esteve por trás também no massacre do Complexo do Alemão em 2007 (do qual foram registrados oficialmente apenas 19 pessoas, mas que seguramente o número é muito maior), embora tenha representado um papel coadjuvante durante toda a operação na semana, já se disse “emocionado” e “orgulhoso” com a “bem sucedida” operação policial e militar, e além disso, deixou bem claro que “a ação apenas começou”. A presidente eleita Dilma, que também já havia declarado total apoio aos apelos de Cabral no “enfrentamento com o mal”, e diga-se de passagem, que já declarou durante as eleições que uma de suas metas era tornar as UPP´s um projeto nacional, elogiou a ação encabeçada por Cabral e disse que no seu governo suas intenções são estreitar a relação do governo federal com o governo do estado do RJ, ou seja, sabemos que isso significará mais negros e pobres mortos nos morros e favelas cariocas.

Portanto, essa é a paz defendida por Lula e Dilma aos 400 mil moradores do Complexo do Alemão, além dos outros milhares nos outros morros e favelas cariocas: uma polícia que esculacha e humilha os moradores, estupra as mulheres, entra nas casas, rouba e quebra os pertences dos moradores e revista até crianças e idosos durante suas operações. Sabemos que além de corrupta, a polícia é a instituição cão de guarda da burguesia e do Estado, e que seu objetivo de manter a ordem a qualquer custo deve ser entendido como brutal violência e repressão as manifestações de resistência por parte do povo, incluindo greves de trabalhadores, protestos e manifestações.

Após vários porta vozes da burguesia carioca escreverem em seus reacionários artigos, conteúdos do tipo do jornalista Guilherme Fiúza de que “o ideal seria que o capitão Nascimento assumisse o lugar do secretário Beltrame e acabasse de vez com a raça dos vilões, cuja vocação é essa mesma, apanhar”, a mídia chega ao absurdo de celebrar o sucesso da ação policial e militar afirmando que não houveram mortos nem sequer feridos nos morros. Porém, mesmo após os dados oficiais divulgados sabemos que o número real de mortos e feridos é muito maior, e conhecemos a recorrente prática tanto da mídia quanto da própria polícia de esconder o número de moradores atingidos, e assim, divulgar o número de mortos como sendo todos de traficantes.
Queremos saber onde estão os mortos durante toda a ação sangrenta da polícia e o exército!!!

O Haiti é aqui!

O que a mídia reacionária assim como Lula, Dilma e Cabral chamam de “experiência em combates nas favelas haitianas” quando se referem aos soldados presentes no Rio significa na verdade que os mesmos tiveram como escola de extermínio, os 6 longos anos de sangrenta atuação da MINUSTAH no país, primeiro da América Latina a declarar independência, após a revolução negra, em 1804. No fim de 2009, com o grande terremoto que o país sofreu matando mais de 200.000 pessoas e deixando mais milhares de famílias desabrigadas, a miséria que já era gritante se intensificou terrivelmente.

Além da brutal violência perpetrada pelos soldados, os haitianos denunciavam que as doações coletadas em todo o mundo, assim como a água e os alimentos que deveriam ser destinados ao país, simplesmente não chegaram. E a resposta às manifestações foi mais repressão e descaso por parte da ONU e das ONG´s internacionais.

No último mês, com a pouca noticiada epidemia de cólera no Haiti, que rendeu até agora mais de 1.100 mortos, a população haitiana também denunciou o descaso dos governos e entidades internacionais, e mais repressão foi efetuada.

Esse é o histórico do exército que envia estes soldados presentes hoje nos morros cariocas: de negros e pobres massacrados, e negras estupradas, seus currículos estão cheios! Não podemos deixar que esses soldados assassinos continuem violentando e oprimindo nossas irmãs haitianas, assim como não podemos aceitar que reprimam e assassinem essa heróica população em suas manifestações!

Devemos continuar defendendo que a própria população tenha em suas mãos o controle e organização dos suprimentos enviados ao país! Devemos lutar de forma intransigente para a imediata retirada das tropas do Haiti!!!

Violência contra as mulheres cada vez mais legitimada
Estamos frente a uma onda de inúmeros ataques brutais a nós mulheres, homossexuais, negros e nordestinos por parte do estado, dos governos e também da Igreja, em especial a Católica. Desde as eleições presidenciais pudemos ver Serra e Dilma afirmando que não defenderiam o direito ao aborto, bandeira histórica do movimento de mulheres, enquanto grande parte da Igreja fazia uma ofensiva brutal pedindo a seus fiéis que votassem em Serra. Também vimos declarações de Dilma contra a união homoafetiva e contra a concretização da Lei contra a Homofobia.

Inúmeros foram os reflexos absurdos nessa situação onde reacionários ganharam espaço: declarações totalmente racistas contra uma estudante negra da PUC de São Paulo, comentários fascistas na internet contra os nordestinos, os diários assassinatos ou tentativas contra homossexuais como o do militar que baleou um jovem no Arpoador durante a Parada Gay no Rio ou as agressões na Avenida Paulista em São Paulo, a declaração homofóbica do reverendo da Universidade Mackensie e claro, o lamentável “Rodeio das Gordas”, ocorrido no Interunesp em Araraquara.

Essas absurdas violências são por sua vez legitimadas, reforçadas e também perpetradas pelo Estado e Igreja, considerando que temos um Estado que reforça a idéia de que as mulheres não devem ser vistas enquanto sujeitos assim como não são donas dos próprios corpos. A Igreja por sua vez, cria e incita violências homofóbicas quando diz que as mulheres e homossexuais não tem direito a exercer sua sexualidade livremente.

A recente ação policial e militar nos morros cariocas, assim como ações recorrentes de violência, também representam uma afronta aos direitos humanos, onde o principal alvo são os jovens negros e pobres dos morros. Ação esta que recebe o pleno aval de Lula, Dilma e inclusive do próprio Papa. Bento XVI declarou no dia 30 que apóia a ação militar e policial coordenada por Sérgio Cabral e solicita ainda que a ordem seja recomposta na cidade o quanto antes! Sabemos qual é esta ordem defendida pela Igreja: a mesma ordem que defende Cabral quando diz que as mulheres dos morros são máquinas de produzir marginais!!! Não podemos aceitar que nem Estado, nem a Igreja e nem os governos decidam por nós mesmas e muito menos que arranquem nossos direitos! Sabemos que nessas ações policiais somos nós mulheres que pagamos com nossas lágrimas e sangue por nossos companheiros e filhos mortos e presos sem justificativa pela policia assassina!

Essa é a hora em que a esquerda deve se organizar contra todos esses ataques, e não fugir da batalha como aconteceu aqui no Rio de Janeiro no dia 25 de novembro. Neste dia, Dia Internacional da Luta contra a Violência às Mulheres, tínhamos um importante ato marcado para acontecer na UFRJ na região central, mas “devido a situação na cidade” a esquerda simplesmente cancelou o ato!!!

A onda de ataques está colocada e não podemos deixar de responder: Não passarão!!! Vamos lutar com unhas e dentes e é neste sentido que chamamos as organizações de mulheres, direitos humanos, LGBTT e organizações de negros a compor com o Pão e Rosas uma forte campanha contra a militarização dos morros e pela imediata retirada da polícia e dos soldados dos morros e favelas cariocas!!!

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