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sábado, 24 de abril de 2010

VATICANO: No "abençoado" reino dos abusos e da pedofilia reina também a impunidade

Publicamos abaixo o artigo de Diana Assunção publicado no jornal Palavra Operária nº66

A cada dia que passa aumenta o número de denúncias de abusos sexuais de crianças por parte de padres e sacerdotes. As capas dos jornais nos últimos dias retrataram a história das 8 vítimas abusadas sexualmente por padres durante a década de 1980 em Malta. Sobre este caso o Papa Joseph Ratzinger chegou até mesmo a chorar publicamente. Mas esse é apenas mais um episódio da enorme crise que atinge a Igreja Católica, em particular o Vaticano, dessa vez com denúncias de que o próprio Papa tenha acobertado muitos destes casos. No início da crise, o Vaticano declarava que todas as acusações não passavam de “fofocas” se tratando de uma “grande conspiração” contra a Igreja Católica. Hoje, ainda que persistam declarações como essas, a realidade é que já não é mais possível tapar o sol com a peneira. Tanto é que o Vaticano publicou na última semana um “manual” sobre o procedimento da Igreja Católica para os casos de abusos sexuais no mundo inteiro.

Ainda assim, fomos obrigados a ouvir a declaração do Secretário de Estado do Vaticano,Tarcisio Bertone, que afirmou “Ouvi dizer recentemente que há uma relação entre homossexualidade e pedofilia”. Essa declaração já resultou na suspensão de 3 padres homossexuais no Paraguai de Fernando Lugo, coincidentemente um ex-bispo. Enquanto neste abençoado reino o abuso sexual e a pedofilia são permitidos, mantendo padres e sacerdotes sobre um manto de impunidade, a Igreja mesmo num momento de fragilidade busca reforçar a perseguição sobre homossexuais,assim como o faz com as mulheres quando são obrigadas a recorrer a abortos clandestinos.

O Brasil não está atrás...

No Brasil, que é o maior país católico do mundo, também estão surgindo uma série de denúncias. No momento, a principal denúncia é contra o monsenhor Luiz Marques Barbosa, 82, de Alagoas. Excoroinhas fizeram uma denúncia num programa de TV mostrando inclusive um vídeo onde o monsenhor fazia sexo oral num dos jovens.Também, em Franca, interior de São Paulo, há denúncias contra o Padre José Afonso Dé, 74, da Paróquia São Vicente de Paulo. Até agora já foram ouvidas cerca de 6 crianças, entre 6 e 12 anos, que teriam sofrido abusos nos meses de janeiro e fevereiro deste ano.

Vale ressaltar que sobre esta crise, Dom José Cardoso Sobrinho nada comentou.Para quem não lembra, foi ele o famigerado autor da frase “o aborto é um crime pior que o estupro”, se referindo ao caso de uma menina de 10 anos que estava grávida de gêmeos fruto de um estupro de seu padrasto. Talvez ele já estivesse se preparando pra defender a Igreja das denúncias de estupro. Hoje, Pernambuco passa pela mesma situação, com mais uma menina de 10 anos estuprada por seu padrasto. As atitudes de Dom José Sobrinho, que excomungou todos os envolvidos no caso do aborto, como os médicos e a mãe da menina, deixando livre apenas o estuprador, servem como incentivo para que casos de estupros continuem existindo em Pernambuco.

Esta crise tem ainda como pano de fundo o acordo feito pelo governo Lula com o Vaticano, no final de 2008. Tudo ocorreu de forma silenciosa e até mesmo sem nenhum tipo de debate na sociedade. Mas o fato é que, como nunca antes, o governo Lula avançou em conceder privilégios para a Igreja Católica e aprofundou um atrelamento entre o Estado Brasileiro e o Vaticano. Diante desta situação é necessário exigir a imediata revogação do acordo Brasil-Vaticano. É necessário expropriar todas as riquezas da Igreja Católica e destiná-las ao cuidado médico e psicológico de jovens e crianças abusadas sexualmente, assim como destinar este dinheiro para as questões mais sentidas nacionalmente, como a ajuda às vítimas das enchentes no Rio de Janeiro e na Bahia. Os padres devem deixar de ter privilégios às custas da fé dos trabalhadores e do povo pobre, e portanto devem ir trabalhar.Todos os acusados devem ser devidamente punidos.

Não ao 1º de maio com a Igreja e os bispos de São Paulo!

No ano passado, lamentavelmente, a maioria da esquerda que constrói o 1º de maio na Praça da Sé o fez em aliança com a Igreja, não somente convocando os trabalhadores e trabalhadoras a participar de uma missa antes do ato, mas abrindo o microfone para o Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer. Naquele momento já denunciávamos o quão absurdo é que justamente a esquerda busque disseminar ilusões entre os trabalhadores sobre o papel da Igreja Católica, tudo em nome da unidade com a Pastoral Operária. Entretanto, hoje, se coloca ainda mais na ordem do dia que toda a esquerda organizasse um grande ato classista neste 1º de maio, com verdadeira independência de classe, e denunciasse junto aos trabalhadores e trabalhadoras a aberrante situação da Igreja Católica e do Vaticano, que enquanto dizem defender a vida abusam sexualmente de centenas e até milhares de crianças! É necessário que principalmente a Conlutas e o PSTU se coloquem na linha de frente desta denúncia, repudiando todos os padres pedófilos e a toda a Igreja que os acoberta, exigindo punição aos culpados e contribuindo para que a classe trabalhadora e o povo pobre possam avançar em sua consciência de classe e enxergar que esta instituição burguesa, que é a Igreja, está a serviço da manutenção da sociedade de classes e da exploração, e portanto estes escândalos que hoje saem à tona são nada menos do que a expressão de uma instituição ultrapassada, conservadora e reacionária, que concentra uma enorme riqueza em detrimento da miséria da maioria da população. Por um 1º de maio com verdadeira independência de classe!

Diana Assunção é dirigente da LER-QI, membro da comissão coordenadora da Secretaria de Mulheres do SINTUSP e integrante do Pão e Rosas.

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