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domingo, 14 de março de 2010

GREVE DE PROFESSORES EM SP: “Temos que decidir as pautas de reivindicação em nossas escolas e eleger representantes em assembléias”

Entrevistamos Rita Frau, professora da rede estadual de São Paulo, integrante do Movimento CLASSE Contra CLASSE e do Pão e Rosas, sobre a greve dos professores e professoras.

Pão e Rosas: A greve das e dos professores estaduais paulistas teve início exatamente no dia 8 de março, quando fazem 100 anos de luta e resistência das mulheres. Fale-nos um pouco sobre a greve.

É realmente interessante que nossa greve tenha iniciado justamente nesse dia. Numa categoria onde as mulheres são a ampla maioria, e que também é uma categoria bastante precarizada. Recebemos salários muitos baixos, o que nos faz ter que dar aulas em várias escolas num mesmo dia, ir para lá e para cá, salas superlotadas podendo chegar a 50 alunos, e não é à toa que muitos professores tem vários problemas de saúde. Hoje, mais da metade de nós professoras e professores, somos temporários, e além disso, o governo decretou que temos que fazer uma prova obrigatória para continuar dando aulas, com bibliografias super extensas, para “avaliar” o que muitas e muitos de nós já faz por décadas, que é fornecer alguns fundamentos básicos para a educação da juventude. Isso é na verdade jogar nas costas dos professores o custo da precária estrutura do ensino que temos hoje, não só no estado, mas também no municípios, por falta de políticas (investimento) do estado para nosso aperfeiçoamento permanente, pela falta de infra-estrutura, e pelas próprias condições que os jovens tem que estudar, pois grande parte desses jovens também tem que trabalhar. Mas não pára aí, porque por trás disso, o governo Serra, quer precarizar ainda mais o trabalho dos professores efetivos e dos temporários (OFAS), por um lado estendendo a jornada de trabalho dos efetivos que agora com a opção da carga de trabalho de 40h, recebendo um salário muito baixo para o custo de vida de uma família, e fazer com que a nova divisão de categorias entre os temporários acabe com a estabilidade, direitos trabalhistas e que estejam ameaçados à demissão. O tucano secretário da educação Paulo Renato, anunciou concurso de 10 mil vagas, mas isso não chega à nem 1/3 dos professores OFAS, que são em torno de 120 mil. Por mais que vários professores passem na prova, não terá vaga para todos, e muitos ficaram sem trabalho. Hoje, por exemplo, professores que estão na categoria “O”, são contratados em regime temporário, como a relação de um trabalhador com uma empresa privada, e seus direitos são limitados em apenas duas abonadas e dois atestados médicos por ano. Ou seja, esses professores não podem adoecer, se não são ameaçados a perderem seus empregos. Nós do movimento Classe contra Classe, acreditamos que esta greve deve levantar com tudo o problema da precarização e da fragmentação da categoria. Como eu disse, mais da metade dos docentes são OFAS, temos que nos unir entre efetivos e OFAS para lutar contra precarização exigindo a efetivação de todos os professores temporários, que em muitos casos, já estão na sala de aula há mais de 15 anos. Por isso esta greve deve ser por reajuste salarial que não nos é dado há muito tempo, e melhores condições de trabalho como está na pauta elaborada pela direção do sindicato, mas para lutarmos por melhores condições de trabalho temos que garantir que nossos companheiros que há muitos anos atuam por uma educação de qualidade não sejam jogados na rua como se fossem incompetentes, como o Serra que fazer parecer com suas propagandas enganosas nos grande veículos burgueses de comunicação.

PeR: Qual a relação da greve de professores com a luta pela educação gratuita e de qualidade a serviço de toda a população e da classe trabalhadora?

Ao contrário do que querem que acreditem e do que a direção do sindicato se propõe, para os/as professores/as esta é uma greve a favor de toda a classe trabalhadora e de todo o povo pobre. Isso porque, uma população deseducada, uma população que não conhece sua história, suas lutas passadas, é uma população mais fácil de ser enrolada e enganada pelos governos, porque tem que partir do zero para lutar por seus direitos. Mas nós, professores, trabalhadores, nós mulheres, não partimos do zero, temos em nossa história diversos exemplos de erros e acertos daqueles que lutaram. Temos a recente história de uma cidadezinha no México, que se chama Oaxaca, que chegou a ser comandada pelos trabalhadores e pelo povo. Isso foi há menos de 4 anos atrás, e sabe como isso aconteceu? Como se iniciou? Foi numa greve de professores. A greve foi reprimida pela policia, e a população se solidarizou, e cada vez mais as ruas foram sendo tomadas. Mas essa história, esses jornais com noticias que pretendem fazer com que nossa greve e nossas reivindicações sejam vistas como corporativistas, essa história de como de uma greve de professores, a cidade, as emissoras de rádios e de TV, as escolas e universidades, hospitais, foram colocados a serviço da população, essa historia não se conta. E as mulheres, estiveram na frente de tudo isso, ao lado de companheiros. É por isso também que não podemos deixar que o governo Serra e o Estado engesse o conteúdo das disciplinas através de um material “didático” centralizador cujo conteúdo é superficial. Assim como a história das mulheres que lutaram é escondida, querem apagar um pouquinho da nossa história, emburrecendo o ensino, para que assim fiquemos calados. Mas a voz dos professores e professoras hoje, têm que ser, assim como em Oaxaca, a voz de toda a juventude, de todas as mulheres que são confinadas nos lares, a voz de todos trabalhadores que assim como nós, também são mal remunerados e explorados.

PeR: Como você acha que os professores e professoras devem se organizar para levar esta greve até a vitória?

Eu vejo que nessa greve se a gente conseguir se organizar em cada escola, não só os professores, chamando inclusive os estudantes, os pais, os funcionários, para juntos debater sobre as condições de trabalho e de ensino, podemos ampliar cada vez mais nossa mobilização e apoio, para fortalecer nossa luta pelo ensino de qualidade. É também importante, não deixar novamente que a direção do nosso sindicato, ligada ao PT, vá negociar os pontos da greve por debaixo da mesa, sem a gente nem saber. Temos que decidir nossas pautas de reivindicação em nossas escolas e escolher os nossos representantes para levar as nossas posições. Afinal, também sabemos que estamos em ano eleitoral, e muitos interesses entram em jogo, principalmente porque nossa greve se coloca diretamente em choque com o governador José Serra, e o partido de Lula, que está à frente em nosso sindicato, pode querer utilizar nossa greve como margem de manobra eleitoral, pois querem eleger sua candidata, a Dilma Roussef, que pelo fato de ser mulher, não vai mudar a situação das mulheres e nem dos trabalhadores, assim como tem feito Lula continuaria governando para os patrões, os grandes empresários, etc. Mas cabe a nós, não permitir que isso ocorra, por isso penso que a Oposição Alternativa, por co-dirigir a categoria deve sair do adaptacionismo em relação à direção do sindicato, e vir a ter um papel importante, e juntos podemos buscar confrontar a diretoria do nosso sindicato, convencendo centenas e milhares de professores a lutarem ao nosso lado. O governo, só tem a ganhar quando estamos separados, por isso é importante que as categorias estatais se unifiquem, para impor uma grande derrota ao governo José Serra, mas também mostrar para o governo federal de Lula, que nós sabemos que seu plano para o ensino, para a saúde, para o conjunto social, não é muito diferente do que de Serra, pois ambos defendem o mesmo Estado capitalista, e vão fazer, a todo custo, que sejam sempre nós as trabalhadoras e trabalhadores a pagarem duplamente pelos interesses de lucro dos patrões cujos governos estão a servir, legislar. Devemos lutar pelo nosso direito a melhores condições de trabalho e contra a precarização do trabalho, que também é ter salário e garantia de emprego, assim como a população deve lutar por um ensino de qualidade, que se por um lado também diz respeito às nossas condições de trabalho, por outro também diz respeito ao acesso ao conhecimento, porque é preciso conhecer nossa história, para a gente transformar nosso presente e nosso futuro e o futuro de nossos filhos.
Para entrar em contato com o movimento Classe contra Classe escreva para: classecontraclasse_prof@yahoo.com.br

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