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quarta-feira, 17 de março de 2010

"Pão e Rosas. Identidade de gênero e antagonismo de classe no capitalismo." Livro de Andrea D'atri

Prefácio
à edição em português

As mulheres chegaram ao poder? Pela primeira vez na história — quando publicamos a edição em português do Pão e Rosas — se conjectura que uma mulher possa ser a próxima presidente dos Estados Unidos da América. Recentemente, na Argentina, Cristina Fernández de Kirchner foi eleita presidente. O Chile é governado por uma mulher, bem como a Alemanha, e o mesmo acontece em países tão remotos como a Libéria. O destino de milhares de iraquianos é decidido (Clara Zetkin e Rosa Luxemburgo) por uma mulher tão poderosa como Condoleeza Rice, e outras mulheres não só ocupam os ministérios da Saúde e Ação Social, como também os de Economia ou de Segurança em distintos governos.

Mas enquanto o mundo assiste a esse acontecimento e os meios de comunicação prognosticam que se inaugura o “século das mulheres”, a vida de milhões de seres humanos, majoritariamente mulheres e meninas, transcorre entre as piores humilhações que se pode imaginar. Aumenta o trabalho precário das mulheres, chegando em alguns casos à escravidão; o negócio da prostituição e o tratamento dado às mulheres e meninas não deixam de crescer, amparados por redes mafiosas que envolvem funcionários, forças repressivas e o Estado. A violência sexista encontrou, inclusive, novas denominações, como a do femicídio, coma qual se tenta descrever o horror dos crimes contra as mulheres, os quais são antecedidos por torturas e violações sexuais, seguidos por impunidade e silêncio. As mulheres terem chegado ao poder não possibilitou que isso deixasse de ocorrer, mostrando uma vez mais — como se fizesse falta — que o problema não é só uma questão de gênero.

A barbárie que ameaça milhões de seres humanos, mas particularmente as mulheres e crianças, é também o resultado da combinação do patriarcado ancestral com a selvageria imposto pelo mais moderno sistema capitalista. Esse sistema econômico funciona, melhor ainda, sob a envoltura dos regimes democráticos, que apenas recentemente dão passos na participação das mulheres nos parlamentos, ministérios, tribunais, exércitos e, inclusive, nos mais altos cargos do poder executivo. Para milhões de mulheres, entretanto, a igualdade nos marcos deste sistema capitalista se apresenta como uma utopia inalcançável. Igualdade com quem? Não há igualdade sequer com o companheiro que, ao nosso lado, sofre também a exploração imposta pela minoria de proprietários dos meios de produção. Jamais se alcançará a igualdade com essa minoria que vive na abundância enquanto existir a propriedade privada, dividindo a sociedade em uns poucos que têm tudo e uma imensa maioria que só possui a força de seus braços para se manter na vida.

Hoje, duas classes se enfrentam para definir o futuro da humanidade: a burguesia imperialista e o proletariado. Como afirmou a revolucionária Rosa Luxemburgo, diante dessa situação só se pode esperar “socialismo ou barbárie”.Mas para construir o socialismo a classe trabalhadora não só necessita de toda a sua força, toda a sua resolução, toda a sua audácia, como também se desfazer das ficções com que a classe dominante encadeia seu pensamento para mantê-la domesticada. Entre as ficções das quais é necessário que a classe operária se liberte, se encontram os preconceitos sexistas que mantêm a submissão, a humilhação e os maus-tratos às mulheres, embrutecendo também os homens explorados que legitimam, justificam e reproduzem tais costumes.

Esperamos que agora, quando se acabam de cumprir os 90 anos da Revolução Russa, e este trabalho é publicado em sua versão em português, as reflexões aqui plasmadas sejam um pequeno incentivo que anime as novas gerações a se incorporar à luta consciente por um mundo liberado das cadeias que hoje pesam, duplamente, sobre as costas de milhões de mulheres.

Andrea D’Atri
Buenos Aires, fevereiro de 2008

Clique na imagem para ler o livro em pdf.

Título Original: Pan y Rosas. Pertenencia de género y antagonismo de clase en el capitalismo
Título: Pão e Rosas. Identidade de gênero e antagonismo de classe no capitalismo
Autor: Andrea D’Atri
Páginas: 200
Ano de publicação: 2008
ISBN: 978-8561474-00-3

Inclui um anexo de declarações, manifestos e documentos da história da luta do movimento feminista e de mulheres trabalhadoras.

Para adquirir um exemplar escreva para: iskra@ler-qi.org

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