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sexta-feira, 26 de março de 2010

Na universidade, nos livros de história, no mercado de trabalho... A precarização tem rosto de mulher!

Por Pão e Rosas – RJ
(especial para o jornal "Desatai o Futuro" Calourada UFRJ)

Não podemos deixar de relacionar a realidade imposta às mulheres, com a realidade da universidade brasileira atual. Sabemos que hoje o espaço universitário é um ambiente machista, elitista e racista, onde a imensa maioria da população não consegue se inserir através do filtro social que é hoje o vestibular que exclui a imensa parcela da população negra, dos pobres, e reproduz um conhecimento machista e patriarcal. Apenas 20% dos jovens brasileiros conseguem cursar uma graduação, e via de regra, esses jovens não são aqueles que precisaram trabalhar durante o colégio, mas sim aqueles que tiveram condições de cursar colégios particulares. E para nós mulheres, sabemos todas as dificuldades que enfrentamos na universidade, como os recorrentes casos de violência contra as estudantes, assim como nas Moradias Estudantis. Sem contar na falta de creches para os filhos das estudantes, das trabalhadoras efetivas e das terceirizadas do espaço universitário!

Dizem que as mulheres como nunca antes estão ocupando os espaços de poder e que são cerca de 50% que ingressam na universidade. Isso é verdade, mas a verdade não é tão romântica como querem que acreditemos. As mulheres que ingressam na universidade o fazem em grande parte nos redutos historicamente femininos, tendo máxima expressão em cursos como Serviço Social, Letras, Enfermagem, entre outros, que são cursos cujas características remetem ao papel social imposto para as mulheres sobretudo através das tarefas domésticas e na suposta “natureza feminina” em cuidar, educar, organizar, etc, tudo isso com paciência, amor, dedicação maternas. Também somos nós mulheres quem recebemos menores salários, sofremos assédio sexual e moral, e ocupamos os postos de trabalhos mais precarizados. Nas universidade as mulheres são a maioria entre as trabalhadoras terceirizadas, que recebem baixos salários, não tem os mesmos direitos que os efetivos, são humilhadas, muitas vezes têm que trabalhar nos finais de semana e feriados sem receber nada a mais por isso e sem poder dizer não aos seus patrões, sob o risco de perder seu emprego.

Desde a Revolução Industrial, as mulheres e crianças foram empurradas para dentro das fábricas como força de trabalho “inferior” e mão de obra desqualificada para os capitalistas. Porém, com o advento do neoliberalismo e a reestruturação produtiva ocorrida nas últimas décadas do século XX, esta exploração ganha novos contornos. O neoliberalismo, conhecido como um grande projeto de enxugamento do Estado e conseqüentemente uma enorme onda de privatização em diferentes setores que antes eram de responsabilidade do Estado, representou inúmeros e profundos ataques aos trabalhadores, trazendo uma intensa flexibilização de seu trabalho e de seus direitos. Significou também o desaparecimento de milhares de postos de trabalho assim como grande ampliação dos setores terceirizados, trabalhadores informais e temporários, com vínculos empregatícios cada vez menos sólidos e condições de trabalho cada vez mais precárias. A terceirização representa para o capital maiores ganhos: além da obtenção de maiores lucros, a terceirização divide a classe trabalhadora, criando um abismo entre os terceirizados e efetivos.

A grande questão a se pensar, é que apesar da opressão contra as mulheres ter origens anteriores ao atual sistema em que vivemos, é fato que o capitalismo faz uso das diversas formas de opressão já existentes, sustentando-as e legitimando-as, de forma a se fortalecer. Um dos outros motivos para que se justificasse o rebaixamento dos salários das mulheres (conseqüente de uma menor jornada de trabalho) é o trabalho doméstico do qual foi jogado às suas costas, como a criação e educação dos filhos, limpeza da casa, preparação da comida para toda a família, o que a isentaria do direito de maiores salários por parte dos patrões (conseqüente de uma maior jornada). Porém, o que vemos hoje é que além de terem jornadas extenuantes, as mulheres também encontram em suas casas uma segunda jornada de trabalho, impossibilitando assim que as trabalhadoras possam ter acesso ao lazer, cultura e qualquer tipo de organização política.

Atualmente, a classe trabalhadora em geral é extremamente afetada pela precarização e terceirização do trabalho, porém as mulheres são aquelas que ocupam os cargos mais precários, como terceirizados e temporários, sendo ainda mais exploradas se forem negras. As trabalhadoras chegam a ganhar apenas 65% dos salários dos homens mesmo ocupando os mesmos cargos, e além disso sofrem inúmeras outras formas de violência, como assédio sexual ou moral no ambiente de trabalho, falta de creches para seus filhos, e ainda por cima são ameaçada de demissão se engravidarem! Desde o início da crise econômica mundial pudemos ver que foram as mulheres as mais afetadas, tendo seus postos de trabalho cortados e seus salários ainda mais rebaixados.

É preciso lutar contra essa estrutura nada democrática da universidade, de modo que saibamos compreender as origens históricas de seus problemas enquanto reflexos das contradições mais gerais de nossa sociedade, dividida em classes. E para isso, temos que nos unir aos setores mais atacados da classe trabalhadora e do povo pobre, nos colocando desde já contra as medidas de precarização do ensino encabeçadas por Lula e os governos estaduais, e além disso, lutar incessantemente para que os jovens pertencentes à classe trabalhadora possam ter acesso a um ensino de qualidade nas universidades! Temos que nos aliar às trabalhadoras e trabalhadores, colocando nossa campanha de pé mais uma vez pela efetivação dos/as terceirizados, exigindo que o DCE cumpra a resolução aprovada no CNE e na reunião estadual da ANEL, e impulsione uma grande campanha em defesa desses trabalhadores!

Nós do Pão e Rosas fazemos um chamado a todas as estudantes e trabalhadoras, efetivas e terceirizadas, para lutarmos contra todas as formas de opressão às mulheres, seja dentro ou fora da universidade, tendo a compreensão de que é necessário lutarmos juntas como um só punho contra os patrões que nos exploram, contra a estrutura de poder anti-democrática da universidade e o conhecimento que serve para reproduzir a opressão e a exploração, contra esse sistema de exploração e opressão que se chama capitalismo!

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