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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Somos as negras do Haiti | Fora as tropas brasileiras de Lula! Fora as tropas da ONU e dos Estados Unidos!

Boletim Especial Calourada 2010
Fora as tropas brasileiras de Lula!
Fora as tropas da ONU e dos Estados Unidos!

O Haiti, um dos países mais miseráveis do mundo, atualmente é cenário de uma grande tragédia causada por um forte terremoto que atingiu o local com conseqüências catastróficas. O envio de soldados pelo Brasil e EUA é apresentado como uma suposta “ajuda humanitária”, porém, nós do grupo de mulheres Pão e Rosas, iniciamos no ano passado uma campanha chamada Somos as negras do Haiti, denunciando o verdadeiro papel das tropas da ONU, comandadas há quase seis anos pelo exército brasileiro de Lula. Passado um mês do terremoto, reafirmamos a necessidade de colocar de pé uma ampla campanha pela retirada imediata de todas as tropas presentes no Haiti, que têm significado cada vez mais repressão ao povo haitiano.

Muito se fala sobre a miséria neste país, porém, pouco é questionado a respeito de suas origens. Alguns, respaldados pela mídia, atribuem a situação do Haiti à incapacidade dos haitianos de se organizarem, colocando-os como um povo atrasado e selvagem. Mas ao buscarmos os aspectos históricos do Haiti encontraremos uma colônia francesa, escravista e explorada, a qual rendia grandes lucros à metrópole com sua larga produção de açúcar. Colônia esta, a primeira da América Latina, em 1804, a se tornar independente por meio do triunfo de uma revolução dos negros escravizados, abolindo a escravidão e estabelecendo uma república negra. Uma grande história de luta capaz de aterrorizar as nações escravocratas que passaram a temer acontecimentos semelhantes. Ao contrário do que nos faz crer a mídia, os haitianos lutaram, se organizaram e derrotaram exércitos poderosos desafiando as grandes potências da época e, justamente por isso, para que seu valioso exemplo não fosse seguido pelos demais povos explorados, sua história foi silenciada e seu grito de libertação, sufocado!

Mas o povo haitiano não se calou. Diante de tais condições desumanas de vida, organizaram diversos protestos que se intensificaram ao longo dos anos. Isto fez com que os EUA e, logo em seguida a ONU, enviassem tropas militares ao país supostamente a fim de manter a ordem “democrática” e garantir os direitos humanos. Sob este pretexto, as tropas armadas da ONU, lideradas pelo Brasil, em operação denominada MINUSTAH, seguem reprimindo, assassinando manifestantes e cometendo abusos grotescos contra a população haitiana. Afinal, sua real missão não é “de paz”, como é chamada, mas sim, cumpre a suja missão de ocupar o país, controlar uma população que vive sob condições miseráveis e, desse modo, garantir a continuação da exploração imperialista.

Sob este clima de opressão e violência vivem as mulheres haitianas, as maiores vítimas dessa ocupação. Condenadas pela pobreza e pela falta de recursos, na maioria das vezes chefes de família, chegam a fazer bolachas de barro para alimentar a si e a seus filhos. Submetidas às mais perversas violências, elas perdem seus maridos e filhos assassinados pelas tropas, quando não são elas mesmas assassinadas, além de violentadas sexualmente muitas vezes pelos próprios soldados da dita “missão de paz”, havendo inúmeras denúncias a respeito de violência sexual contra mulheres e crianças, somando, em 2006, conforme dados recentes, 35 mil mulheres e crianças, em idade entre 3 a 65 anos, violadas em dois anos. Além disso, há denúncias de redes de tráfico de mulheres e crianças e prostituição forçada em troca de moradia e alimentos. Amparadas pela impunidade por serem estrangeiras, as “forças humanitárias” seguem seus abusos sem serem punidas, acobertadas pela mídia que se omite ante os fatos, e pela própria ONU, apesar das várias denúncias de violação contra os direitos humanos.

Diante de tanto abuso e impunidade, é um crime permanecermos calados, assistindo em silêncio o massacre e o esquecimento de um povo, permitindo dessa forma que seus algozes saiam como heróis! Enquanto agrupação de mulheres, nós do Pão e Rosas, viemos não apenas declarar nossa solidariedade ao povo haitiano, mas também denunciar em alto e bom som o papel do imperialismo e das tropas, divulgar a realidade da Haiti, de suas mulheres e mostrar o processo histórico que forjou a atual situação de extrema pobreza no país.

Por tudo isso, nós do Pão e Rosas lançamos uma declaração internacional de mulheres e feministas exigindo a retirada das tropas e que os recursos recebidos sejam controlados pelas organizações operárias, populares, de mulheres, etc. A declaração já recebeu cerca de 200 adesões de 14 países da América Latina e Caribe, de agrupações e ativistas. Há poucos dias, nossa companheira Sofia Yáñez, enviada especial do Pan y Rosas México, chegou ao Haiti reafirmando: “Continuemos levantando a voz, porque as tropas têm que ir embora".

Em alguns dias, as mulheres sairão às ruas em referência ao 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Fazemos um chamado às organizações do movimento de mulheres, feministas, às organizações da esquerda e do movimento negro a fazer desse 8 de março um dia para sair às ruas em defesa das mulheres haitianas, dizendo em alto e bom som: Basta de violência contra as mulheres e o povo haitiano! Pela retirada imediata de todas as tropas! Fora as tropas de Lula! Fora as tropas da ONU e dos EUA!

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