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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

"Pra ter o destino nas mãos a resistência não se esgota, sou negra haitiana pela saída das tropas"

O grupo de mulheres Pão e Rosas, impulsionado por militantes da LER-QI e independentes, lança neste mês a campanha Somos as negras do Haiti. Ao mesmo tempo em que gritamos pelas mulheres e homens que são hoje assassinados pela polícia no Brasil, com destaque para a ofensiva repressiva nos morros e favelas do Rio de Janeiro, gritamos pelas mulheres haitianas que seguem vivendo sob a ocupação das tropas da ONU há cinco anos. Além de ter seus filhos, companheiros, familiares assassinados pela polícia haitiana ou pelas tropas da ONU – quando não são elas mesmas assassinadas –, as mulheres haitianas vivem sob o drama da violência sexual, em grande parte promovida pelos soldados da dita “missão de paz”. Dados de 2006 de uma pesquisa revelaram um número de 35 mil mulheres e crianças violadas em dois anos, incluindo aí 32 mil estupros. No carnaval de 2007, a própria Ministra da Condição Feminina, Marie Laurence Jocelyn Lassegue, declarou que "a polícia nacional recebeu denúncias a respeito de 800 casos, entre as quais muitas vítimas de violência carnal" (Folha On Line, 01/03/2007). Na mesma ocasião, verificou-se que a idade das vítimas ia de 3 a 65 anos de idade. E a impunidade segue vigente. Em 2007, o Sri Lanka deixou a MINUSTAH depois das denúncias contra 108 soldados de ter abusado sexualmente de mulheres e crianças. O que deveria ter se tornado um escândalo internacional, foi silenciado pelas instituições imperialistas, pelos governos e pela imprensa. Além disso, enquanto a ONU informa que o prazo da manutenção das tropas tem por objetivo garantir a segurança nas fronteiras do país, sob o argumento de combater o tráfico de armas e drogas, crianças e mulheres seguem sendo traficadas para outros países. Somente de janeiro a abril de 2008, foram registradas 1353 crianças traficadas do Haiti para a República Dominicana – que sabemos que é um número que sequer corresponde ao total. Quando gritamos Somos as negras do Haiti queremos dar voz a mulheres como Esterlin Marie Carmelle, uma jovem haitiana, moradora de Cité Soleil – imensa favela de Porto Príncipe – que perdeu seu filho assassinado numa ofensiva de repressão da polícia e das tropas da ONU. Seu filho de dois anos dormia dentro de casa, abraçado com ela e recebeu uma bala na cabeça. Basta de discursos humanitários da ONU e do governo Lula! Não podemos nos calar frente a tamanha repressão ao povo negro haitiano. Fora as tropas do Haiti!


O invasor não aceitou ser expulso da terra
Mesmo arrando a riqueza, só deixando miséria
Pra França milhões, pro haitiano grilhões
Fome às multidões
Igualdade e fraternidade, o discurso
Que só tem validade em outro canto do mundo
Aos que possuem a riqueza daqui arrancada
São Domingos produziu, em suas mãos não se manteve nada
Quem possui hoje o poder tentar brecar o rebelados
Quem quer cadeira na ONU manda arma, manda soldado
Todos se escondem atrás da máscara das Nações Unidas
Missão de paz: exterminar quem luta é o que está na lista
Vão mandar caderno pra criança que perdeu o pai ou o irmão
Atingido pelas balas das tropas da missão
Falando que os haitianos não se entendem sozinhos
Menosprezam, jogam fora a história dos negros jacobinos
Pra ter o destino nas mãos a resistênca não se esgota
Sou negra haitiana pela saída das tropas
Trecho do rap Livre Haiti, Mara Onijá

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