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sexta-feira, 11 de setembro de 2009

"Por que dentro da universidade se permite tamanha exploração?"

Reproduzimos artigo publicado no último Jornal Desatai o Futuro, do Movimento A Plenos Pulmões. Por Lais Soares e Debora Lessa, estudantes de Economia e Ciências Sociais da PUC-SP e integrantes do Pão e Rosas; e Leandro, estudante da USP e militante do Movimento A Plenos Pulmões

A terceirização é uma das expressões da ofensiva neoliberal que passou a vigorar na década de 1990, e a via pela qual grandes empresas deixam de contratar trabalhadores com o piso salarial estabelecido e direitos previstos pela CLT, para estabelecer um contrato com outras empresas, terceirizadoras, as quais admitem trabalhadores por um preço bem menor e com os direitos reduzidos a quase nada.

Hoje, existem estudos afirmando que terceirizar uma atividade nada mais é que repassar a terceiros a sua realização, partindo do princípio de que o problema não é a terceirização em si, mas como ela é feita. O número de trabalhadores terceirizados em empresas privadas aumentou, somente no Estado de São Paulo, sete vezes nos últimos 20 anos e hoje estima-se que existam mais de 400 milhões de profissionais envolvidos diretamente em atividades terceirizadas.

Isso significa que grande parte da classe trabalhadora está dividida entre efetivos e terceirizados. Desta forma, a terceirização é não somente uma das maneiras mais eficazes de atacar os direitos trabalhistas, submeter trabalhadores a péssimas condições de trabalho e salários de fome, mas também uma política consciente de divisão da classe.

As universidades no Brasil seguem a tendência de terceirizar os serviços “não centrais”, tais como limpeza, segurança, central de cópias, setores de atendimento e restaurantes. Quem caminha pelos corredores da universidade os vê; quem usa os laboratórios, salas de aula e bibliotecas também os vê trabalhar. Os funcionários terceirizados, tanto quanto os trabalhadores efetivos, cumprem um papel fundamental no funcionamento de toda a universidade, e ainda assim são dito “seres estranhos à universidade”.

Funcionários da limpeza da Universidade de São Paulo reúnem-se para manifestação em frente à Reitoria, em abril de 1988 (Foto: Eduardo Knapp, retirado do site do Jornal do Campus da USP)

Diariamente sendo super-explorados, os trabalhadores terceirizados recebem metade, ou mesmo um terço, do salário já corroído de um trabalhador efetivo - além de nenhuma garantia de seus empregos – e convivem com condições de trabalho sub-humanas, chegando a ser obrigados a fazer suas refeições em nossos banheiros. Se ao menos pudessem falar... mas não: os trabalhadores terceirizados das universidade são impedidos não somente de se organizar para exigir seus direitos, mas até mesmo de se dirigir às pessoas com quem dividem seu espaço de trabalho. Em geral, é proibido a todo funcionário terceirizado sequer conversar com um estudante com quem cruze num corredor!

É nessas condições que trabalha grande parcela do quadro de funcionários das universidade – freqüentemente cerca de um em cada quatro - e a tendência é que se aprofunde ainda mais este quadro, conforme aumentam as reservas de orçamento das universidades destinadas à contratação de empresas de prestação de serviço, as terceirizadas.

Por que dentro da universidade, local de produção de conhecimento e de avanços que deveriam garantir uma vida melhor a toda a humanidade, se permite tamanha exploração? Porque, além de fragmentar politicamente o conjunto dos trabalhadores, os beneficiários desses métodos são justamente aqueles quem comandam a universidade. A Burocracia Acadêmica têm dentro de si professores que, que por meio de relações escusas, são donos dos restaurantes e empresas de segurança terceirizados, ou trocam favores com essas empresas, repassando os contratos a empresários com quem tem ligação.

A luta por uma universidade que não se sustente pela superexploração é a luta contra essa burocracia acadêmica, que precisa se apoiar no atraso e autoritarismo da estrutura de poder da universidade.

Nós do grupo de mulheres Pão e Rosas e do Movimento A Plenos Pulmões, colocamos a necessidade de que o movimento estudantil forje na prática a aliança operário-estudantil e saia em defesa dos setores mais oprimidos e explorados da classe trabalhadora, reivindicando iguais salários e direitos, para homens e mulheres, negros e brancos, efetivos e terceirizados.

Abaixo a terceirização! Pela efetivação de todos os funcionários terceirizados, sem necessidade de concurso! Direitos iguais para trabalhos iguais! Liberdade de expressão e organização a todos na universidade! Fora burocracia acadêmica corrupta!

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