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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Nota pública sobre o Encontro Nacional do Hip Hop Mulher

Por Bianca, do Pão e Rosas

Nos dias 25 e 26/07 foi realizado o 1° Encontro Nacional do Hip Hop Mulher, evento este que é subsidiado pelo programa da Secretaria de Cultura do Estado, o PROAC, apoiado pelo Centro Cultural da Espanha e pela ONG Ação Educativa. Durante os dois dias de programação as 50 mulheres selecionadas participaram de diversas oficinas e uma mesa de debate. A única e principal mesa de debate foi composta por representantes dos 4 elementos, organização do evento, Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, Centro Cultural da Espanha e Ação educativa. A fala das instituições apoiadoras refletiu bem a limitação a qual a institucionalização e o atrelamento ao Poder Público impõem ao Movimento. Seus discursos giraram em torno da “importância” das Mulheres, e o Hip Hop como um todo, se instruírem e disputarem a verba cedida pelo governo à cultura, com a indicação, inclusive, de que recorram a cursos de formação para edição de projetos de Hip Hop. Na fala do representante da Organização Não Governamental (só no nome), Ação Educativa, foi uma das que mais reivindicou a importância da articulação do Movimento junto ao “Poder Público”, saudando o “espírito empreendedor” que se deve ter ao fazer essa aliança. Os espaços para que se debatessem e questionassem a sagaz “filantropia” governamental foram escassos e o encontro em muitas vezes se viu preso a consigna de um “Hip Hop acima das classes, cores,...” esvaziando por completo a discussão política que se poderia fazer de auto-organização do Movimento Hip Hop, junto às demandas da classe trabalhadora, e do povo preto e pobre.

Vale retomar parte da experiência que o nosso movimento experimentou junto aos governos no Brasil, desde sua marginalização e aversão da burguesia num passado recente, passando pela tentativa (em diversas vezes vitoriosa) de se apropriar deste para manipulação das massas e ilusões eleitoreiras, até a despolitização completa descaracterizando-o enquanto movimento político e atribuindo o estereotipo de mero movimento cultural, da arte pela arte. Essa ofensiva de engessamento do Hip Hop provém de uma estratégia descarada de estancar qualquer tipo de levante da população explorada e oprimida, já que o Hip Hop discute a realidade periférica e reproduz suas maiores contradições raciais, de gênero,...sobretudo de classe.

Ao longo da programação várias situações refletiram estas limitações, como a oficina de Diversidade Sexual que não discutiu o papel que o Estado, seu aparato repressivo (a polícia) e Igreja cumprem para com a comunidade GLBTTI, embora tenho esclarecido muito sobre orientação sexual e identidade de gênero; oficinas com tema centrado em conquista de espaços de poder e direitos dentro da sociedade capitalista, sem pensar além dos muros da exploração e propondo uma adaptação reformista ao sistema vigente.

O encerramento do evento aconteceu com uma Festa a qual abarcava diversos shows com apresentações de Grupos de Rap, uma Crew de DJ’s e Roda de Breakin com mulheres que participaram das oficinas e mesa de debate. Aos poucos as contradições foram se estreitando até chegar no estopim ao final da festa. A princípio as Mestras de Cerimônia da Festa eram Biba e Rúbia, ambas da organização do evento e estiveram presentes em todas as atividades do evento; em certa altura dos shows a, previamente selecionada embora ausente nas discussões, MC Poetiza foi chamada a assumir o microfone. Ao longo das apresentações vários grupos de Rap cantaram muito do que havia sido discutido ao longo dos dois dias de evento, salientando a importância da mulher se valorizar. Denunciaram racismo, machismo, entre outros preconceitos e opressões em suas letras. Após a apresentação dessas mulheres, subiu ao palco Flora Matos, MC patrocinada pela Nike. A única MC a cantar 3 músicas apenas expressa o nível de atrelamento ao qual o Hip Hop se depara não apenas com o setor público mas também às empresas privadas, como a Nike, a qual comercializa e lucra cada par de tênis a partir da exploração, muitas vezes semi-escravista, de trabalhadores em países semi-coloniais. Por fim aconteceu o show da Poetiza o qual consistia em letras egocêntricas e despolitizadas que reproduziam um machismo escancarado em que a única forma para que a mulher seja “valorizada” é através da exposição de seu corpo como um produto de mercado, tal como vemos nos shows de axé e funk carioca. O que se mostrou foi uma imensa incoerência para com o que se havia tido anteriormente como postura assumida pelas demais MCs que se mostravam avessas à banalização e mercantilização do corpo feminino.

O desfecho o qual a festa tomou foi uma indignação quase consensual por parte do público feminino cuja conseqüência foi a invasão do palco por parte de uma dessas mulheres que revoltada se opunha a banalização ostentada naquele show. Houve muita confusão e discussão e prontamente a Polícia foi contatada para averiguar a “baderna” estabelecida pelo Hip Hop no ambiente da Ação Educativa, espaço que NÃO É NADA NOSSO!

Desde já o grupo de mulheres Pão e Rosas gostaria de explicitar como legítima a indignação expressa pela companheira e se colocar incondicionalmente em sua defesa. Colocamo-nos também em defesa de todas as mulheres que se sentiram indignadas com a situação, pois têm a clareza do quanto essa reprodução do machismo dentro do Hip Hop prejudica e retrocede o trabalho de todas as mulheres resistentes e feministas que dentro dele militam. Gostaríamos também de fazer um chamado para que essas mulheres rompam com a institucionalidade e se auto-organizem por um Hip Hop classista, em serviço da classe trabalhadora e independente da camarilha burguesa do Estado, das empresas e das ONGs.

7 comentários:

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  3. Eu POETIZA,

    Venho atraves deste me manifestar.

    É uma lastima ver que uma intenção de confraternização,
    acabe com opiniões tão sem fundamentos e baseadas
    em fatos que foram destorcidos.
    Jamais imaginei que tamanha era a ignorancia de mulheres que
    se dizem tão politizadas e miitantes, chegaria a tamanha atitude de
    falta de respeito.
    Não só comigo mas com varias outras pessoas que estavão ali presentes, e não só
    para o intuito de GUERRA, mas sim para enterternimento.
    O Fato de algumas pessoas que estavão ali presentes para o
    encerramento não estarem presente nos debates, não torna quem esteve
    nos debates melhores do que os demais, até pq os assuntos que foram
    discutidos fazem parte do cotidiano de quase todos presentes no
    encerramento.
    A palavra certa para o ocorrido e para esta carta que recebi é RECALQUE,
    pois vcs estão falando de Min que atendo pelo nome POETIZA e da Flora Matos.
    DE MIN vcs estão falando do Show q nem aconteceu, as letras vcs nem
    chegaram a ouvir, pois eu nem cantei a primeira estrofe, e da Flora pq
    tem apoio da Nike.
    Falar de outros grupos q não são poucos e q tem apoio ou patrocinio da Nike ninguem quer falar não né?
    Mas da Flora que é mulher e ta tomando uma proporção bacana com o trabalho dela
    vcs querem?
    Que Tipo de União é esta?
    Que tipo de revolução é esse?
    Com atitudes de falta de Respeito que geram Guerra?
    Atacarem mulheres que estão conquistando seu espaço e não é atoa
    e que vcs desconhecem a caminhada e estão atacando com argumentos
    incoerentes é certo?

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  4. Continuação.....
    EU E A FLORA MATOS FOMOS CONTRATADAS COM O INTUITO
    DE DE APRESENTAR UM POCKET SHOW PARA O INCENTIVO
    A OUTRAS MENINASS QUE AINDA NÂO TEM O ESPAÇO, QUE NOS JA CONQUISTAMOS
    COM MUITO TRABALHO E COM MUITA FORÇA
    E QUE JA SOFREMOS PRECONCEITOS DE DIVERSAR FORMAS E COMBATEMOS E NÃO
    SERIA O PRECOCEITO DE OUTRAS MULHERES
    SEM INFORMAÇÃO SUFICEINTE PARA ESTE DEBATE QUE NOS DERRUBARIA
    OU FARIA AGENTE ACREDITA QUE NOSSA CAMINHADA ATE AQUI SERIA EM
    VÃO....EU PARTICULARMENTE NÃO ESTAVA NOS DEBATES PQ TRABALHO
    MUUUUUUUUUUUITO E NÃO CHEGUEI ATRASADA NÃO....CHEGUEI PONTUALMENTE ÁS
    20H COMO HAVIA CIDO CONTRATADO
    De onde eu venho e conheço bem a militancia isso é tirado de
    IGNORANCIA E FALTA DE PRINCIPIO BASEADAS EM FALSOS FATOS E FALTA DE
    RESPEITO POIS PODERIA TER GERADO UMA DISCUSSÃO POSITIVA DA QUAL VCS
    ARGUMENTARIÃO E RECEBERIM A RESPOSTA DE DIREITO A MINHA PESSOA.VCS
    TRANFORMARAM EM UMA ATITUDE NEGATIVA E DE FALTA DE RESPEITO...
    INVADIRÃO MEU ESPAÇO E AINDA ACHAM A ATITUDE COERENTE....ME POLPEM
    DESTA HIPOCRESIA....VCS ACABARAM COM UM EVENTO QUE EU PARTICIPEI PRA
    ORGANIZAR E SEI O QUANTO FOI DIFICIL CONQUISTAR .COM ESSAS ATITUDES
    VCS SÓ ESTÃO PROVANDO IGNORANCIA E NÃO MILITANCIA...POIS ESTÃO
    DEPRECIANDO O MEU TRABALHO DO QUAL VCS NÃO CONHECEM E ALI NÃO VIRAM
    NADA POIS REPITO Q MEU SHOW NÃO ACONTECEU E VCS NEM OUVIRAM AS LETRAS
    PARA OPINAREM, E O EVENTO ERA PARA TODAS AS MULHERS INDIFERENTE DE
    COR CLASSE OU CREDO E A DEMOCRACIA DEVE SER RESPEITADA E NÃO FOI.
    E DESTA ATITUDE INCOERENTE QUE VCS ESTÃO SE ORGULHANDO?
    Isso é revolução?Isso é ser Revolucionaria?
    Não isso é ser RECALCADA..........pq vcs nem sabem o q nossa letras dizem.....
    vcs nem sabem das nossas origens do q era pra ser apresentado ali e não foi....
    Tudo era baseado nas origens africanas......com influencias da dança
    Dancehall e Crump...q sao baseadas no protesto.....vcs estão tão
    atrasadas na informação que nem sabem q o cunho da nossa arte é o
    protesto a Elevação da Mulher e não o Contrario.....
    Não tem revolução em querer pregar que a mulher tem q se parecer com Homen
    pra ter respeito....A mulher é sensual de natureza e a Vulagaridade é
    outro fato....
    e a sensualidade da mulher é natural e tem q ser elevada...NÂO TEM
    NADA DE FEIO NISOO
    VCS TEM QUE SE ORGULHAR DE SEREM MULHERES E NAÕ TEM Q QUERER PARECER
    HOMENS.NÃO TEM REVOLUÇÃO EM APROVAR QUE OUTRAS MULHERES DEPRECIEM O
    TRABALHO DE QUEM ESTA TRABALHANDO.
    Eu respeitei tooooooooooodas as mulheres ali presente embora ache
    muitas letras pessimas e muitas idéias atrasadas e sem cunho politico
    ou militante.
    Tbm achei inumeras idéias ali apresentadas machistas e nem por isso
    cortei a apresentação na metade para manisfestar a minha opinião
    POIS TENHO A MINHA ARTE E NELA MANISFETO TUDO OQ SOU EM DESACORDO OU
    ACORDO....OQ ACONTECEU COMIGO ALI E AGORA AQUI É UMA FALTA DE RESPEITO
    DA QUAL EU NUNCA FALTEI COM VCS.....
    MAS CADA UM CADA UM E SE VCS ACHAM ISSO CERTO....
    PLANTEM A SEMENTE QUE A MINHA EU ESTOU PLANTANDO...
    ´MÁXIMO RESPEITO A TODAS.....
    QUE CADA UMA ALCANCE O Q ALMEJA.

    POETIZA
    WWW.MYSPACE.COM/POETIZA

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  5. Sai de casa no dia 25//07 embaixo de uma forte chuva rumo ao 1º Encontro Nacional de Hip Hop, evento este que mesmo com todas as limitações e debilidades, como dito no texto fabuloso da companheira Bianca do Coletivo Pão e Rosas, pois não acharia palavras melhor para descrever o evento e seus objetivos, ascreditava ser importante porque era uma inicativa de mulheres, feito para mulheres. Sabia que lá encontraria muitas garotas que compartilham das mesmas, ou quase, aspirações que eu, pelo menos a luta contra o machismo e sexismo.

    Me abstenho te falar sobre os dois dias do encontro, pois como já disse, a companheira foi muito feliz em suas colocações. Porém, minha surpresa foi que em momento algum se discutiu questão racial, fator principal do Movimento Hip Hop, e muito menos classe, isso nem me passou pela cabeça. Mas porque discutiria se nesta sociedade isto já está superado não é? Issa é coisa ultrapassada. Mas, o Encontro refletiu o próprio movimento que está esvaziado de qualquer discussão política e sequer racial. O véu que o rap tirou dos meus olhos quando adolescente, esta flutuando novamente no ar. Digo que o movimento está esvaziando de qualquer conteúdo político, racial, classe e genero, um movimento que está cada vez mais atrelada a uma agenda governamental ou de organizações neo-governamentais, porém há ainda as que resistem como Tarja Preta, Cathiara e muitas outras que cantando suas músicas me fez pensar que realmente não estamos sozinhas. Do outro lado do Brasil tem mulheres gritando: Queremos mudar esta realidade.

    Enfim, vamos ao tão comentado show/festa do final do Encontro. Porra, um show de rap só com mulheres, muito louco, várias garotas dizendo que não aceitamos ser usadas como objetos, ser vistas apenas como carne, sermos subjugadas e oprimidas, quatro Dj's mulheres numa realidade predominantemente masculina, bgirls etantas outras que mesmo não realizando nenhuma destas atividades contribuem muito pra discussão de emancipação. Até que enfim o inesperado aconteceu, num evento de mulheres, as próprias mulheres reproduzindo, conscientemente, o que muitos dos homens que tanto criticamos fazem. Nos colocam sempre como isca pra macho, garotas seminuas no palco rebolando até o chão dizendo vem... vem..., não, não, meninas não era um show de funk, nem axé e muito menos carnaval, mas sim um evento de mulheres no Hip Hop.

    Combater esta droga de sociedade em que vivemos só é possível se você for movido por um grande sentimento de indignação e de amor, indignação frente as mazelas deste mundo e amor pela pessoas. Porém, nem todas(os) são nossas irmãs(os), como dizia Solano Trindade, negros que escravizam e vendem outros negros não são nossos irmãos, retifico: mulheres que vendem outras mulheres para fazer o jogo desta sociedade machista e sexistia não são nossas irmãs. Em meu mundo não cabe artistas e sim pessoas que tem compromissos com causas, se não for assim infelizmente é só lamentos, porém a minha grande indignação é com a organização do evento que permitiu este tipo de atitude, quer dizer "contratou" este tipo de postura.

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  6. Como mulher preta me senti tão ofendida, humilhada e ridicularizada e tenho certeza que não estou sozinha neste sentimento, o problema é que naquele momento meu ato de indignação foi solitário, mas hoje não é mais. a minha ira é contra as organização de um evento na qual participei dois dias das discussões, por mais limitadas que foram, e que o tempo todo as mulheres que lá estavam diziam em alto e bom som: não somos mercadorias. Não vi em nenhum momento a organização se manifestando sobre isto, e ai o que me dizem?

    Minha vivência em um grupo político, que sim está inserido dentro do Movimento Hip Hop, não pra fazer show, nem atividades vazias, pra pra discutir um outro tipo de sociabilidade onde a emancipação da mulher é condição necessária, me fez nãos ser conivente e nem omissa com situações que depreciam a mim ou qualquer outra de minhas irmãs. Não aceito ser usada nem por homens nem mulheres, e foi isso que aconteceu fui usada, fomos usadas, fomos vendidas como carne no açougue pra deleite de alguns, somos sempre expostas como mercadorias.

    Estou cansada de ouvir músicas e ver cenas que falam mal de mim, a TV já faz isso, todas fazem isso, rap, axé, samba, sertanejo, enfim, muitos nunca se comprometeram com nada, mas não o rap, rap é música de protesto. Não aceito. E como o rap, música jamaicana também é música de protesto, não é pra falar de maconha não e nem colocar mulher pra rebolar. Em toda história do povo preto e oprimido a música sempre foi uma forma de resistência.

    Não faço parte disto, minha postura é de combate e avanço não de retrocesso, quer dizer avançamos? Lembrem do dia 26/07, avançamos mulheres?
    Mas, sei que não estou sozinha.

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  7. MULHER INTELIGENTE NÃO USA O CORPO USA A MENTE, ASSIM JÁ DIZ TARJA PRETA

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