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quarta-feira, 22 de julho de 2009

"O livro traduz a história de mulheres lutadoras que fizeram história, por mulheres lutadoras que fazem história"

Reproduzimos abaixo resenha do livro "Lutadoras. Histórias de mulheres que fizeram história" escrito por Beatriz Abramides, profa. do curso de Serviço Social da PUC-SP, diretora da APROPUC (Associação de Professores da PUC-SP) e co-autora do livro "O novo sindicalismo e o Serviço Social". A resenha foi publicada na Revista Lutas Sociais, 20-21.

O livro Lutadoras - histórias de mulheres que fizeram história, organizado por Andrea D’Atri foi editado, primeiramente em espanhol, em 2006, na Argentina pela Edições IPS – Instituto do Pensamento Socialista. Em março de 2009, foi lançado em português, pela Editora ISKRA, organizado por Andrea D’Atri e Diana Assunção, acrescido do anexo referente à organização das mulheres, no ascenso do movimento operário no Brasil, no período de 1978 a 1980 Andrea D’ Atri publicou em 2004, na Argentina, Pan y rosas: pertenencia de genero y antagonismo de classe en el capitalismo e, em 2008, traduzido no Brasil, também pela ISKRA, no livro Pão e Rosas – identidade de gênero e antagonismo de classe no capitalismo. Andrea é uma das fundadoras do agrupamento Pão e Rosas, na Argentina, membro do Conselho Assessor do IPS Karl Marx e militante do PTS – Partido dos Trabalhadores Socialistas.

Diana Assunção, jovem estudante do curso de História da PUCSP, militante da Liga Estratégia Revolucionária, é uma das fundadoras do grupo Pão e Rosas no Brasil e responsável pela Coleção Mulher das Edições ISKRA. Lutadoras - histórias de mulheres que fizeram história tem um profundo significado para mulheres e homens que lutam por uma sociedade em que não haja exploração de classe e qualquer tipo de opressão social, de gênero, etnia/raça e orientação sexual.

O livro traduz a história de mulheres lutadoras que fizeram história por mulheres lutadoras que fazem história. Escrito a muitas mãos, é resultado de uma pesquisa realizada por mulheres na Argentina, no Brasil, no Chile e no México: Andrea D’Atri, Diana Assunção, Bárbara Funes, Ana Tossato, Ana López, Jimena Mendoza, Celeste Murillo, Marina Fuser, Virgina Andrea Peña, Adela Reck, Malena Vidal, Gabriela Vino. O livro é apresentado por Claudia Mazzei Nogueira e sua capa de autoria de Ana Tossato a partir da foto de mulheres operárias de Berlim, em 1930. As autoras expressam o convencimento teórico e político de que não haverá emancipação das oprimidas e oprimidos se não for lutando pela revolução socialista”(2008:27).

Trata-se de uma produção coletiva ancorada no materialismo histórico-dialético sob a perspectiva da construção do socialismo. De forma viva, emocionante e apaixonada, nos deparamos com as lições das militantes em lutas e combates, em diferentes momentos da história do capitalismo, por uma sociedade sem exploração de classe e opressão social.

O livro está organizado em:

a - Mulheres Pioneiras: Flora Tristan e Louise Michell, para as quais a luta das mulheres por seus direitos e dos trabalhadores do mundo se vinculavam às tarefas de emancipação da mulher e do proletariado.

b - Mulheres Internacionalistas: Rosa Luxemburgo e Clara Zetkin, que souberam enfrentar a traição do partido social-democrata alemão quando estourou a primeira guerra mundial.

c - Mulheres Rebeldes: Carmela Jeria, Lucrecia Toriz e Marcia Cano. Mulheres lutadoras latino-americanas que estiveram à frente das lutas operárias e populares no início do século XX do Rio Bravo à Patagônia austral.

d - Mulheres Combativas: Marvel Scholl e Clara Dunne e Genora Johnson Dollinger, presentes nas fileiras das greves operárias e referência classista do proletariado estaduniudense.

e - Mulheres Vermelhas: Natalia Sedova, Pen Li Lan, Mika Etchebéhere, que estiveram nas frentes de combate das Revolucões Russa, Chinesa e Espanhola;

f - Mulheres Indomáveis: Nadehzda Joffe, Edith Bonne e Patrícia Galvão. Mulheres que resistiram à prisão e às torturas, sem abdicar de seus ideais quando foram vítimas do terror stalinista na ex-União Soviética e nos países que seguiam suas orientações.

g - Anexo: Refere-se à atuação das mulheres no ascenso do movimento operário - de 1978 a 1980 - no Brasil, com depoimentos de mulheres operárias e sindicalistas nas lutas sociais do período.

De acordo às observações das organizadoras do livro, o papel das mulheres tem sido silenciado, durante séculos, e quando elas aparecem, surgem como “rainhas ou santas” “em obscuros desígnios divinos” e, com raras excessões, por “estranhas aptidões” nas ciências e nas artes (2008:17). Este livro de 325 páginas revela histórias de mulheres aguerridas, rebeldes e revolucionárias que lutaram pela causa das lutas operárias, tendo por fio condutor a questão da mulher do ponto de vista da classe.
Essas lutas imediatas e históricas se referem ao direito à licença-maternidade e ao aborto, contra a subordinação e assédio sexual, pela participação das mulheres em toda a luta do proletariado, pelo trabalho igual para salário igual, pela participação nos comícios de rua, greves operárias, sindicatos, imprensa, movimentos classistas, trincheiras, partidos e revoluções proletárias.

Os elementos do legado marxiano se apresentam neste livro por seus aspectos centrais: o materialismo histórico e dialético, a teoria do valor trabalho e a perspectiva da revolução social, em suas dimensões e relevância histórica, teórica e política.

O livro expõe de que maneira as mulheres são as penúltimas colocadas, no interior da hierarquia das relações de trabalho, e as mulheres negras as últimas. As diversas formas de exploração no trabalho se manifestam em: trabalho igual para salário desigual, trabalho polivalente, dupla jornada de trabalho, ritmo acelerado de trabalho, trabalho em domícílio, trabalho informal, precarizado, terceirizado, ampliação da mais-valia absoluta.

O momento atual da conjuntura internacional, marcado pela crise estrutural do capitalismo, em que se aprofundam as contradições entre o desenvolvimento das forces produtivas e as relações sociais de produção, pode abrir a possibilidade histórica de ampliação da luta de classes. O marxismo revolucionário e as lições das mulheres revolucionárias na história, nos auxiliam para as lutas pelo fim das classes e da propriedade privada dos meios de producão, para a necessária conquista de uma sociedade igualitária dos individuos livremente associados.

O protagonismo das mulheres trabalhadoras apresenta centralidade no processo histórico das lutas de classe no enfrentamento contemporâneo à barbárie para a superação da ordem capitalista. O livro Lutadoras – histórias de mulheres que fizeram história constitui um excelente instrumento de formação teôrica, política e de ânimo às mulheres e homens trabalhadores e à juventude, tão fundamental ao combate do capitalismo, na luta pelo socialismo, para a conquista do projeto de emancipação humana.

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