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sexta-feira, 12 de junho de 2009

Grupo de Mulheres Pão e Rosas no Congresso Nacional dos Estudantes

Chegamos ao CNE dois dias depois de uma brutal repressão policial na Universidade de São Paulo. Com bombas de gás lacrimogênio e tiros de borracha, a polícia sitiou a USP atacando estudantes, trabalhadores e professores, num conflito que ganhou repercussão nacional. Nós do Pão e Rosas, que temos atuado desde o início da greve de trabalhadores da USP e na mobilização das três estaduais paulistas viemos ao CNE com o objetivo de levantar alto nossas vozes dizendo: Contra a repressão! Fora a PM da universidade! Fora a reitora Suely Vilela!

Como um grupo de mulheres classistas, temos que dizer que Suely Vilela mesmo sendo uma mulher não representa em nada as demandas das mulheres oprimidas. Junto com José Serra no estado de SP, ela leva a cabo o aprofundamento de uma universidade extremamente elitista e racista, e além disso utiliza a Tropa de Choque como seus cães de guarda para reprimir a mobilização em curso. Não nos contentamos apenas em exigir o Fora Suely, pois é preciso questionar profundamente a estrutura de poder da universidade e não somente as figuras que a comandam. É fundamental destruir a atual estrutura de poder em que nada podemos decidir. Enquanto as burocracias acadêmicas ocupam altos cargos com altos salários, os trabalhadores e filhos de trabalhadores são obrigados a despejar boa parte de seus salários para estudar nas universidades privadas. Por isso, lutamos também pela estati zação das universidades privadas e pelo fim do vestibular, esse filtro social que impede o acesso dos trabalhadores e dos negros à universidade pública. Defendemos que o CNE vote um plano de mobilização com o objetivo de nacionalizar a luta que se desenvolve hoje na USP, colocando com tudo uma luta democrática contra a repressão e pelo acesso à universidade.

Pão e Rosas em movimento
Nós, trabalhadoras e estudantes do Pão e Rosas USP temos organizado atividades de greve como a campanha “A Terceirização escraviza, humilha, divide...”, em defesa dos direitos das (os) trabalhadoras (es) terceirizadas (os). Nós nos colocamos de pé contra a repressão à organização sindical, reivindicando a imediata re-integração do diretor sindical Brandão, demitido basicamente por defender as trabalhadoras terceirizadas em uma greve em 2005.
Na UNESP de Marília as companheiras chamam à mobilização, destacando-se em sua intervenção na greve estudantil, questionando o caráter da universidade que reafirma as formas de opressão com sua estrutura autoritária, em que uma minoria decide os rumos de toda a comunidade universitária.

Trabalhadoras da USP na luta contra a polícia na universidade e pela reabertura imediata de negociações
Numa atitude de truculência a Tropa de Choque invadiu a universidade e vergonhosamente atacou estudantes, trabalhadores e professores pelas costas. Era o horário de saída das crianças da Escola de Aplicação, e na avenida da Universidade fomos atacados com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, perseguidos até o prédio da História. Isso tudo pela intransigência de uma Reitora que resolveu desmascarar a ditadura em que vivemos dentro da Universidade. Ditadura de uma casta da burocracia acadêmica que decide tudo por todos. De um ensino para poucos, que conta com o filtro social do vestibular expulsando os filhos dos trabalhadores da universidade. Do trabalho terceirizado que obriga homens e mulheres a comerem nos banheiros. Que demite nossos dirigentes sindicais. Basta! É preciso fortalecer esse novo momento da greve, com a entrada de professores e estudantes, lutando pela retirada imediata da polícia. Fora Suely Vilela! Queremos uma estatuinte livre e soberana já. Reabertura imediata das negociações e toda solidariedade à nossa greve!
Diana Assunção, trabalhadora da Faculdade de Educação da USP, delegada do comando de greve e dirigente da LER-QI

Pão e Rosas Marília chama à mobilização na UNESP!
Diante da deflagração da greve, nós mulheres do grupo Pão e Rosas não podemos deixar de nos posicionar politicamente a favor da pauta de reivindicações. (...) Consideramos de suma importância que as mulheres comecem a se organizar dado que historicamente em momentos de crise como o que passamos, as mulheres donas de casa, trabalhadoras, pobres e estudantes são as primeiras a sentirem o grande impacto e a carestia de vida. Entendemos que neste momento não será diferente! Sabemos que a burguesia, suas instituições e os governos pretendem depositar o ônus desta crise nas costas de milhões de trabalhadores/as. Para nós, as trabalhadoras da USP dão um exemplo de luta, foram ponta de lança das mobilizações das universidades em SP, pois desde o dia 5 de maio se colocaram em greve junto com seus companheiros de trabalho, para barrar os ataques das reitorias e do governo, que entre tantas coisas querem retirar o direito de livre organização sindical via perseguições políticas aos que lutam e no caso mais escandaloso com a demissão de Claudionor Brandão, diretor do SINTUSP.
Defender este trabalhador que se colocou em luta contra a terceirização que faz refém principalmente as mulheres trabalhadoras é lutar por melhores condições de trabalho a nós mulheres. Diante de toda a pressão social que sofrem as mulheres, elas deixaram seus lares para avançarem em suas posições políticas, por isso as saudamos e nos colocamos juntas na luta.
Extratos da declaração “Pão e Rosas Marília chama à mobilização na Unesp” 04 de junho 2009.

“Nosso canto é o espanto dos que nos julgaram mortas”
Ao contrário da maioria dos grupos feministas, não nos contentamos em discutir somente as questões específicas das mulheres ou em atuar somente nos espaços pré-determinados como encontros feministas e atos do 8 de março. Também nos contrapomos à lógica vigente na esquerda em que somente se reserva um espaço de discussão sobre “opressões” nos encontros e se votam resoluções que depois não são incorporadas na militância cotidiana das entidades estudantis. Entendemos que esta tradição marca não apenas o movimento estudantil, mas toda a esquerda, que separam o que consideram as “discussões fundamentais” das discussões que são tidas como “específicas”. Nós que integramos à Conlutas, viemos ao CNE para levantar alto nossas bandeiras e fazer serem ouvidas nossas vozes, na contra-mão desta tradição, nos posicionando politicamente em todos os espaços.
Como parte de um programa pelas demandas das mulheres nas universidades, defendemos a construção de creches para os filhos das trabalhadoras (efetivas e terceirizadas) e estudantes. Também lembramos aqui da dramática situação a que são submetidas as estudantes que dependem da moradia estudantil quando engravidam – ou seja, este é um problema que ataca diretamente as estudantes mais pobres. Em muitos casos, elas são obrigadas pelas universidades a se retirar da moradia estudantil por conta da gravidez. Na Unicamp, para ter acesso à moradia para mães com filhos, as estudantes têm que comprovar que são casadas ou possuem uma relação estável. O cúmulo do machismo ainda impera na universidade! Por isso, defendemos a garantia de moradia estudantil para as estudantes grávidas e com filhos, sem nenhuma pré-condição.

Os estudantes precisam abrir os olhos para a barbárie capitalista da terceirização!
Todos os dias, enquanto estamos nas salas de aula, trabalhadoras e trabalhadores são super-explorados na universidade, sob as péssimas condições do trabalho terceirizado. Assédio moral constante, ausência de direitos trabalhistas, salários de miséria expressam essa realidade. Recentemente, trabalhadoras terceirizadas da limpeza da PUC-SP denunciaram que no café da manhã lhes oferecem pão mofada, além de que se alimentam num mesa com baratas.
A terceirização está a serviço não só de aumentar os lucros dos capitalistas, mas também de dividir as fileiras operárias. E sabemos que a maioria entre os trabalhadores terceirizados são mulheres e negros, os setores mais oprimidos desta sociedade. Basta! Nós do Pão e Rosas temos desenvolvido uma campanha contra a terceirização e achamos muito importante que os estudantes combativos tomem para si essa bandeira. Por isso, propomos que o CNE vote uma campanha nacional (com cartazes, debates, atividades) pela efetivação dos trabalhadores terceirizados com os mesmos direitos e salários dos trabalhadores efetivos.

Basta de mulheres mortas por abortos clandestinos! Campanha Latino Americana pelo Direito ao Aborto
Hoje, a perseguição de mais de 10 mil mulheres no Mato Grosso do Sul por terem feito abortos clandestinos, a ofensiva da Igreja (como a declaração do Arcebispo de Olinda dizendo que o "aborto é pior que o estupro"), a CPI do Aborto impulsionada pelos deputados do PT, o bolsa-estupro para evitar o aborto no caso de violência sexual, a campanha em defesa de fetos sem cérebros, a campanha por um Brasil sem aborto – que tem como uma de suas figuras a supostamente "socialista" Heloísa Helena – dão ao Brasil o título de "exemplo na luta em defesa da vida". Como consequência disso, o Brasil será o país sede em 2010 de um encontro mundial contra o direito ao aborto.
Estar contra o direito ao aborto não significa estar a favor da vida, mas a favor do aborto clandestino com suas terríveis conseqüências para as mulheres. Impulsionamos atualmente uma Campanha Latino Americana pelo Direito ao Aborto, em países como Brasil, Chile, Argentina e Bolívia defendendo educação sexual para decidir, contraceptivos gratuitos para não engravidar e direito ao aborto seguro, legal e gratuito para não morrer.
Chamamos as entidades estudantis presentes no CNE a aderirem à campanha e propomos que o CNE vote como parte de seu programa o direito democrático ao aborto legal, livre, seguro e gratuito.

Viemos no Congresso Nacional exigir o direito aos nossos corpos
“A mulher é o grande símbolo da opressão no sistema capitalista. Além de produtos muito lucrativos, somos procriadoras. Nascemos para constituir família, para nos tornar mães. Somos aquelas que têm o dever de gerar a vida, sem haver a preocupação em que condições levaremos essas vidas daí em diante. Na sociedade em que vivemos todos podem opinar sobre o que fazer com os nossos corpos, menos nós mesmas! Nessa sociedade o lema é: engravidamos, parimos; absolve-se quem estupra, e também quem humilha e oprime, porém nada se faz com milhares de mulheres morrendo em abortos clandestinos, ao contrário, perseguem as que sobrevivem, mesmo que com seqüelas, a esse processo. Dentro dessa perspectiva, o Pão e Rosas abraça a campanha Latino-Americana pelo direito ao aborto, pois filhos devem ser uma opção e não uma conseqüência! Chega de mulheres mortas em abortos clandestinos! Pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito!
Laís e Ane, estudantes da Unesp – Araraquara

Venha conhecer e discutir com o grupo de mulheres Pão e Rosas
Sábado às 18h na quadra ao lado do Ginásio Verdão - RJ

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