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quinta-feira, 21 de maio de 2009

Fundação São Paulo, Dirceu de Mello e Higilimp: escravistas do século XXI

“Acho interessante.”
Reitor Dirceu de Mello, sobre a terceirização do trabalho,
na Audiência Pública em 28 de abril deste ano

O último PUCViva publicou a carta de trabalhadoras terceirizadas da limpeza denunciando as condições de trabalho às quais são submetidas pela PUC-SP e pela empresa terceirizadora Higilimp, condições que vão desde comer em meio à baratas até não receberem vale refeição e vale alimentação. Àqueles que consideram que a terceirização do trabalho é apenas uma maneira de “otimizar”, “facilitar” ou “repassar a terceiros a realização de uma atividade” é necessário esclarecer que essa prática, que se aprofundou desde a década de 1990 com o que é conhecido como neoliberalismo, é uma das formas mais profundas de superexplorar trabalhadores e ao mesmo tempo dividi-los em diferentes categorias de trabalho.

A essa prática, empresários e empreendedores gostam de chamar de terceirização, mas é preciso dizer os fatos como eles são. A terceirização é a forma dissimulada da escravidão [1] no século XXI que condena trabalhadores a condições humilhantes de trabalho, sem os direitos conquistados historicamente pela classe trabalhadora e sem a possibilidade de se organizar politicamente. Por isso, enquanto reina a paz na PUC-SP, numa universidade de “excelência”, supostamente com “diálogo amplo e democrático”, com uma história de luta contra a ditadura, mulheres e homens vivem em condições insalubres e com um salário de miséria, sendo, em suas próprias palavras “tratados como cachorro”. E, quando se tratam das mulheres, sabemos que a situação é ainda pior, pois são elas as que seguem trabalhando em casa, com as tarefas domésticas, trabalhando, portanto, mais de 60 horas por semana.

Essa situação é sustentada pelos mantenedores da PUC-SP, Dom Odilo Scherer e sua Fundação São Paulo e o novo Reitor Dirceu de Mello, que na última Audiência Pública disse “achar interessante” o trabalho terceirizado. Provavelmente todos eles vão querer se “safar” dizendo que é culpa da empresa terceirizadora, a Higilimp, que lucra horrores com essa situação. Dirão que vão exigir a troca das supervisoras e encarregadas, por “pessoas mais dignas”. Poderão inclusive dizer que vão trocar de empresa terceirizada, procurar uma que seja mais “humana” com seus funcionários... dirão por fim que vão tomar as “devidas providências”. Mas não serão capazes de assumir que são eles os principais responsáveis por essa situação, pois são os que sustentam uma estrutura de universidade anti-democrática, onde a comunidade não tem voz, onde não sabemos pra onde vai o dinheiro das mensalidades nem porque foi criada essa crise, e tampouco podemos, a grande maioria, sequer conhecer os “segredos” da administração da universidade, que deve esconder relações escandalosas entre burocracia universitária, empresários das terceirizadas, banqueiros, fornecedores e governantes.

E, mais uma vez, cai a máscara da Igreja. Agora é preciso perguntar: porque a Igreja não faz campanha em defesa da vida dos trabalhadores e trabalhadoras terceirizadas? Aonde estão os professores da Teologia que tanto dizem “defender a vida” nesse momento? Bom, talvez a Igreja não considere que é um atentado contra a vida que pessoas sigam comendo bolo mofado e tomando café com sujeira. Sustentam uma instituição (Vaticano) que segue sendo possuidora de um patrimônio calculado em mais de 700 bilhões de euros enquanto a fome aumenta, populações sofrem com a falta de planos de obras públicas diante de enchentes, e são construídos muros nas favelas pra esconder o povo pobre e negro...

Aos escravistas do século XXI, que dissimulam e escondem as péssimas condições de trabalho dos terceirizados dentro da Universidade, é preciso repudiar. Isso passa pela luta incansável na defesa dos mesmos direitos e salários e da efetivação de todos os trabalhadores e trabalhadoras terceirizados da PUC-SP, com a possibilidade de se organizarem sindical e politicamente como funcionários da PUC-SP que são, lutando dessa forma pela unidade das fileiras operárias.

Os estudantes devem se levantar contra essa situação, pois enquanto produzem conhecimento, há barbárie capitalista dentro da universidade, e por isso mesmo há que questionar esse conhecimento que produzimos. Se não está ligado a uma transformação desta sociedade, serve apenas para perpetuar essa mesma ordem. Os funcionários efetivos e professores devem tomar pra si essa luta. Que os 3 setores desta universidade se coloquem de pé numa grande mobilização em defesa dos trabalhadores e trabalhadoras terceirizados que denunciaram suas condições de trabalho, pois assim se fortalecerá a unidade dos trabalhadores puquianos, preparando melhores condições para lutar contra as medidas capitalistas da direção universitária e da Igreja “mantenedora” nesse momento de crise!

Nos colocamos desde já na defesa incondicional destes trabalhadores e trabalhadoras mais explorados, para divulgar amplamente suas humilhantes condições de trabalho, para denunciar seus escravistas civis e clericais, e nos colocando a disposição para tudo que precisarem.

Este artigo foi publicado no jornal PUCViva nº 699. Escrito por Diana Assunção, estudante de História da PUC-SP e trabalhadora da USP. Integrante do grupo de mulheres Pão e Rosas (LER-QI e independentes) onde impulsiona a campanha “A terceirização escraviza, humilha, divide.. pela efetivação de todos os trabalhadores terceirizados!”

[1] A Igreja Católica, desde meados do século XVI, passou a conceituar a escravidão como um “mal necessário”, colaborando com os colonos portugueses para garantir a mão-de-obra indígena escravizada, fundamental para a economia da época. Como as propriedades e rendas da Igreja estavam vinculadas à “normalidade” da economia colonial escravista, portanto, as autoridades eclesiásticas brasileiras passaram a admitir a “guerra justa”, isto é, a escravização dos índios acusados de “recusa à conversão” (catequese) e “práticas de atos hostis contra os portugueses”. Quando a escravização dos índios se tornou inviável economicamente, a Igreja Católica continuou se alinhando com os opressoes colonialistas, fundamentando-se no conceito de escravidão como mal necessário (para os interesses dos colonizadores e do clero). No século XVIII, as missões jesuítas detinham engenhos de açúcar, criatórios de gato, serrarias e outros bens, além de se tornar o principal proprietário urbano nas principais cidades. A escravidão negra foi tanto necessária como funcional para a formação da Igreja Católica e o acúmulo de propriedades.

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