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quinta-feira, 2 de abril de 2009

Nasce o grupo de mulheres Pão e Rosas no Brasil!


Muitos nos dizem que nós mulheres já conquistamos igualdade com os homens. Que hoje existem muitas mulheres chefes de gabinetes, presidentas, ministras, empresárias... Mas que as mulheres tenham chegado no poder, que tenhamos conquistado alguns direitos que não conhecíamos no século passado, que algumas ocupem cargos nos parlamentos... não impede que a barbárie da pobreza, a opressão e a miséria de milhões de seres humanos siga ocorrendo. Porque nem sequer todo os direitos que ganhamos com nossa luta podem mudar uma ordem baseada na mais profunda das desigualdades: que um punhado de capitalistas se enriqueçam às custas da exploração de milhões de seres humanos.

Sim, estamos contra a corrente. Contra a corrente daqueles que nos dizem que somos apenas mães e reprodutoras e daqueles que nos consideram um mero objeto sexual. Mas escolhemos nos juntar e nos organizar para enfrentar aqueles que nos exploram e agora nos demitem, que nos humilham e nos estupram. Que nos ameaçam, violentam e nos levam à morte. E por tudo isso consideramos urgente construir uma nova tradição de luta das mulheres no Brasil, pois ainda que em nosso país exista uma conhecida tradição feminista, como a Marcha Mundial de Mulheres, hoje está mais claro do que nunca os limites que essa perspectiva apresenta. Afinal, essa tradição comprovou, ao longo dos anos, que seu atrelamento ao governo de Lula e portanto a um governo que salva os ricos e os patrões, não pode fazer com que esse movimento tenha, ao mesmo tempo, uma política consequente para as mulheres.

Hoje, a perseguição de mais de 10 mil mulheres no Mato Grosso do Sul por terem feito abortos clandestinos, a declaração do Arcebispo de Olinda dizendo que o "aborto é pior que o estupro", a Comissão Parlamentar de Inquérito do Aborto impulsionada pelos deputados do PT, o bolsa-estupro para evitar o aborto no caso de violência sexual, a campanha em defesa de fetos sem cérebros, a campanha da Igreja encabeçada, entre outros, pela supostamente "socialista" Heloísa Helena dão ao Brasil o título de "exemplo na luta em defesa da vida". Acreditamos que estar contra o direito ao aborto não significa estar a favor da vida, mas a favor do aborto clandestino com suas terríveis consequências para as mulheres. Por isso defendemos o direito ao aborto e dizemos: basta de mulheres mortas por abortos clandestinos!

Também convivemos com a polícia mais assassina do mundo, que tem como principais vítimas as mulheres negras e a juventude. São essas também as que sofrem com a esterilização forçada, com o modelo de "mulata" para exportação do objeto feminino brasileiro aos estrangeiros, com a morte de seus filhos nos hospitais públicos insalubres. Isso sem falar no sofrimento e na agonia das mulheres negras haitianas, estupradas e assassinadas pelas Tropas "de Paz" do Governo Lula no Haiti. Estamos na defesa incondicional das mulheres negras. E estamos dispostas a enfrentar a violência contra as mulheres que se exerce não apenas no âmbito familiar, mas também no trabalho, nas ruas, na perseguição à mulheres lésbicas e aos homossexuais, violência essa perpetuada pelos patrões, pelas forças repressivas e pelo Estado... E também estamos na luta contra a opressão da mulher, perpetuada pelo conhecimento dentro das universidades e colégios.

Já com a crise econômica aumentam os casos de assédio moral nos locais de trabalho, onde mais da metade têm como vítimas as mulheres. São elas as que quando engravidam são demitidas e perseguidas para não ter os filhos. Ao mesmo tempo se decidem não ter os filhos, correm o risco de morrerem ensanguentadas na clandestinidade do aborto, serem presas ou excomungadas pela Igreja. E ainda assim, não desfrutamos do direito pleno à maternidade. Ao mesmo tempo, cresce a precarização e terceirização do trabalho, que atinge em sua grande maioria as mulheres, relegadas também às mazelas da dupla jornada de trabalho. E por isso defendemos que se dividam as horas de trabalho entre trabalhadoras e trabalhadores, efetivos e precarizados, sem rebaixamento salarial. Exigimos salário igual por trabalho igual, e pelo fim da dupla jornada. Efetivação de todos os trabalhadores e trabalhadoras terceirizadas, lutando pela unidade da classe trabalhadora.

Todos os anos 4 milhões de mulheres e crianças são produtos para o tráfico e para a exploração sexual no mundo inteiro. Não aceitamos que o corpo das mulheres seja apresentado como objeto da escravidão sexual, o que abre espaço para uma propaganda abusiva de modelos de beleza que se espera que possamos alcançar, mesmo com o risco de morrer em cirurgias, lipoaspirações e dietas anoréxicas. Por isso lutamos contra a mercantilização do corpo da mulher. E tudo isso tem nome: se chama capitalismo.

Ainda que no estreito horizonte capitalista, onde muitas vezes parece que nossas vozes não podem ser ouvidas, nos dá mais vontade e força saber que existem mulheres que querem se organizar. Por isso construímos hoje o grupo de mulheres Pão e Rosas e por isso também buscamos atuar em conjunto com as companheiras dos setores da vanguarda antigovernista, que hoje no Brasil tem como principal expressão a central sindical Conlutas. Às mulheres que nunca pensaram em lutar, ou aquelas que há tempos lutam ao lado das direções da Marcha Mundial de Mulheres e hoje começam a se questionar, chamamos a construir o Pão e Rosas. Não permitiremos que os capitalistas descarreguem duplamente a sua crise sobre nossas costas. Porque consideramos que a luta contra a opressão das mulheres é, também, uma luta anticapitalista, e que portanto, é preciso lutar contra essa sociedade de opressão e exploração.

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