Nos manifestamos dentro de nossas universidades e locais de trabalho por sentir a necessidade de ter um espaço de discussão e ação concreta em torno da questão da mulher na sociedade de classes. Se o fazemos a partir deste ponto de vista é porque entendemos que a opressão a que estão sujeitas as mulheres, apesar de anterior ao capitalismo, sobrevive porque tem funcionalidade e legitimidade justamente na base da sociedade capitalista: a exploração de uma classe pela outra. Por isso, nós somos contra esse sistema.
Nosso nome é uma homenagem à luta das operárias têxteis norte-americanas, que no começo do século XX estavam na linha de frente de uma importante greve, onde exigiam o "pão", que representava não apenas o alimento, mas as condições necessárias para viver, assim como as "rosas", que significava a cultura, a arte e a possibilidade de se desenvolver plenamente enquanto mulheres, o que nos é brutalmente negado na sociedade de opressão e exploração em que vivemos.
Hoje, olhando para casos de personalidades femininas socialmente bem-sucedidas e financeiramente independentes, há quem fale que as mulheres alcançaram pé de igualdade com os homens. Ora, podemos comparar a vida de Condolezza Rice com a situação das mulheres negras haitianas que sofrem com a violência das Tropas da ONU? Não, assim como o único elemento que une Hilary Clinton com a situação das imigrantes nos Estados Unidos é o fato de serem mulheres. Entretanto, mulheres como as senhoras Hilary e Rice são agentes diretos da exploração do imperialismo norte-americano sobre a classe trabalhadora e o povo pobre de todo o mundo.
Por isso, compreendemos que todas as mulheres são oprimidas, mas o limite de tal opressão possui diferentes formas conforme a classe social a qual pertencem. Cabe aos estudantes e à juventude tomar essa questão pelo corte de classe, se colocando ao lado das mulheres trabalhadoras para discutir a realidade em que vivemos e as necessidades de organização, contrariando a idéia de que as mulheres só devem discutir os problemas das mulheres, isoladas da realidade na qual vivemos.
Afinal, nos dizem que somos apenas reprodutoras e que o lar é nosso local por excelência, para assim justificar o fato de fazermos de graça todo o serviço doméstico socialmente necessário à reprodução da força de trabalho. Os capitalistas se desobrigam de garantir creches, lavanderias e restaurantes comunitários que mantenham em condições seus assalariados para continuar explorando-os, sabendo que o trabalho de casa será executado gratuitamente pelas mulheres. E então, quando precisam de mão-de-obra mais barata, somos recrutadas para o mercado de trabalho, ocupando postos precarizados, muitas vezes exercendo a mesma função de um homem por salários menores.
O sistema capitalista construiu, portanto, enormes contradições: nos diz que as mulheres devem ficar no lar cuidando das crianças, mas nos obriga a trabalhar fora de casa, porque com apenas um salário não dá pra sustentar toda a família; nos diz que os homens têm que trazer o sustento, mas depois condena os trabalhadores com o desemprego, provocando depressão e angústia diante da miséria. Nos dizem que devemos criar nossos filhos, mas nem o Estado e nem os capitalistas nos dão creches gratuitas em nossos trabalhos. Condenam o aborto, mas nos demitem quando engravidamos!
Às jovens lhes dizem que devem ser livres, independizar-se de seus pais e progredir, mas depois se encontram com o trabalho precário, a flexibilização, o estágio, os salários de miséria, a instabilidade dos contratos temporários.. . Aí têm que continuar vivendo com os pais por muito tempo! Nos dizem que devemos sonhar com o amor romântico, mas depois nos impõe as horas extras, as folgas 6 por 1, os horários rotativos, o trabalho noturno... E quando teremos tempo para nos encontrar com nosso companheiro ou companheira? Também nos reprimem quando queremos desfrutar de nossa sexualidade, seja com homens ou com mulheres.
Também dizem que as mulheres são fracas, mas cada vez aumentam mais o número de casas mantidas por mulheres. E, além disso, quando o capitalismo descarrega suas grandes crises sobre as famílias operárias, as mulheres estão na primeira fileira da luta e são de dar medo aos patrões, à justiça, às forças repressivas e aos políticos do regime! Assim mostraram as mulheres pobres de Paris, em 1789, quando se mobilizaram contra os preços do pão e deram início a grande Revolução Francesa. Assim mostraram, também, as operárias têxteis de São Petersburgo, em 1917, quando se mobilizaram reivindicando "pão, paz e liberdade" e deram o pontapé inicial da primeira revolução proletária triunfante, a Revolução Russa. Assim também mostraram diversas mulheres nas últimas lutas, como as trabalhadoras de Bruckman na Argentina e do Wall Mart nos Estados Unidos. E assim temos confiança de que mostrarão as mulheres trabalhadoras e a juventude nos próximos enfrentamentos de classe!
Hoje, a presente crise do capitalismo, iniciada nos EUA e estendida a todo o mundo, mostra a cada dia sua face mais brutal de um sistema de poucos que muito têm sobre muitos que nada têm. Vemos como os banqueiros e os grandes capitalistas são socorridos por bilhões de dólares, enquanto cada vez mais os trabalhadores têm que se enfrentar com o desemprego e a miséria. Isto prova que este sistema merece acabar. O Brasil não é diferente, e apesar do governo Lula nos dizer que estamos "blindados" contra os efeitos da crise, as demissões e as férias coletivas já começaram. Se organizar de forma independente ao lado da classe trabalhadora é a única maneira que as mulheres e a juventude têm de se enfrentar com essa crise que querem descarregar nas nossas costas. Sabemos que sentiremos duplamente esse peso. É preciso começar a resistência. Mulheres organizadas para barrar as demissões, férias coletivas e suspensões!
Não aceitaremos, portanto, a saída que a burguesia quer dar, através do Estado, suas instituições e o governo, pois são esses os que asseguram, reforçam, legitimam e justificam as condições de subordinação e opressão das mulheres. Inclusive, a campanha hipócrita e reacionária da Igreja contra o direito ao aborto se faz eco, lamentavelmente, em setores que se dizem socialistas, como Heloísa Helena do PSOL. E o PT, que por décadas atraiu os setores feministas mais importantes de nosso país, mostrou mais abertamente com o governo Lula seu caráter de protetor dos interesses da burguesia. Portanto, jamais poderá responder aos anseios das mulheres que querem lutar contra a nossa opressão e exploração. Basta ver o caso da governadora do Pará, Ana Julia Carepa, membro da DS (Democracia Socialista), corrente petista que dirige a Marcha Mundial de Mulheres, em cujo Estado uma jovem menor de idade ficou encarcerada com homens por quase um mês. A maneira criminosa como isso foi tratado mostra que não se pode governar para o capital e promover uma política conseqüente para as mulheres. É preciso, portanto, superar esta direção e avançar na construção de uma nova tradição de luta pelos direitos das mulheres! Às companheiras que ainda assim mantém ilusões nesses setores, e também no governo do PT, convidamos a refletir sobre as contradições que estão em xeque hoje.
Também queremos nos apropriar do legado teórico de todas as grandes feministas, sobretudo as que partiram do diálogo com o marxismo, que aportaram com as ferramentas necessárias para o entendimento das bases da condição feminina na sociedade de classes, e as chaves para a transformação a partir da luta revolucionária por nossa emancipação. É preciso que a juventude, ao lado das mulheres trabalhadoras, tenha independência política diante dos exploradores e seus aliados! Fazemos também um chamado especial às mulheres das organizações de esquerda, como a Conlutas, a nos organizarmos em comum!
Este manifesto convida à construção de um forte movimento militante de mulheres trabalhadoras, terceirizadas, donas de casa, desempregadas, estudantes e jovens, chamado Pão e Rosas, que lute pelos nossos direitos e para acabar com esse sistema de opressão e exploração!
Depois de uma jornada de trabalho, as mulheres voltam para casa e encontram... mais trabalho. Quantas vezes não ouvimos que "política não é coisa de mulher"? Isso se justifica pelo fato de que, se as mulheres não estão mais inseridas nos sindicatos é porque estão garantindo a comida, a roupa lavada e o cuidado com os filhos, um trabalho socialmente necessário que não é remunerado, servindo muito para eximir os patrões de aumentar o salário dos trabalhadores. Daí a importância de reivindicarmos creches, restaurantes comunitários e lavanderias em todos os locais de trabalho, nas universidades e nos bairros!
Todos os dias convivemos com a super-exploração das trabalhadoras. São aquelas que usam uniformes diferenciados dos trabalhadores efetivos. Elas recebem salários menores e constantemente são ameaçadas de demissão devido à instabilidade de seus empregos. Por que convivemos com isso de braços cruzados? Devemos nos colocar frente uma campanha pela efetivação de todos os trabalhadores terceirizados, exigindo os mesmos salários para os mesmos cargos, sejam homens ou mulheres, brancos ou negros!
O Núcleo Pão e Rosas é contra a intervenção que o Estado, a Igreja e a classe dominante têm sobre nossos corpos. Nos dizem o que fazer e nos "obrigam" a buscar um modelo comum de beleza. Não aceitam que nossa sexualidade pode se dar de diversas formas outras, a não ser a convencional, ligada diretamente à reprodução. Queremos decidir por nossos corpos através do acesso à saúde de qualidade, direito à maternidade e atendimento especial. Lutamos pela educação sexual, contraceptivos e aborto legal e gratuito. Acreditamos que apenas a partir de tais conquistas, as mulheres vão parar de darem à luz filhos indesejados e pior, morrer em conseqüência de abortos clandestinos, que já contabilizam a quarta causa de morte feminina no Brasil.
A cada dia a violência se torna a principal causa da morte de mulheres. O próprio sistema capitalista, que reproduz estereótipos de submissão e obediência para as mulheres e dominação para os homens, expõe os corpos femininos como objetos de consumo e desfrute para os demais. Entretanto, na sociedade onde vivemos, diferentemente do que muitas mulheres pensam, a violência não é um assunto privado e individual, e não se dá apenas no âmbito familiar, mas toma diversas formas e contornos, como a violência policial, a proibição do direito ao aborto que resulta na morte de 6 mil mulheres todos os anos na América Latina, a diferença de salários, a precarização do trabalho, as redes de prostituição e tráfico de mulheres, o assédio moral e sexual nos locais de trabalho... O capitalismo, portanto, sustenta e legitima toda a violência que existe. Por isso, é preciso lutar contra todas as formas de violência contra as mulheres! Queremos dizer basta! Que a classe trabalhadora levante essa bandeira!
Passados 120 anos da abolição da escravidão, podemos ver nitidamente que o capitalismo no Brasil incorporou os negros ao trabalho assalariado, destinando-os às funções mais precárias e os salários mais baixos, e sabemos que as mulheres são as mais atingidas por essa opressão. Historicamente, às mulheres negras é negado o direito à maternidade. Durante a escravidão, nossos filhos muitas vezes eram arrancados de nossos braços após o parto. Na atualidade, vemos casos de esterilização forçada que tem como principal alvo as mulheres negras. Sustentamos nossos lares com salários miseráveis e enfrentamos o absurdo das exigências de "boa aparência" nas entrevistas de emprego. Nossos corpos são tratados como mercadorias sob o símbolo da "mulata", que faz do Brasil um dos "campeões" em tráfico sexual. Nossos filhos são mortos pela polícia nessa matança brutal que assola as favelas e periferias, onde ser negro é ser sempre suspeito. Nossas irmãs africanas e haitianas são estupradas por soldados da ONU nas "missões de paz" que espalham terror. Somos a camada mais explorada da classe trabalhadora do nosso país e temos um papel fundamental a cumprir na luta pela libertação do povo negro e da emancipação das mulheres, luta que para nós se insere no marco do combate da luta de classes, contra a burguesia e o imperialismo. Pelo fim da diferença salarial entre brancas/os e negras/os! Pelo direito à maternidade para as mulheres negras! Abaixo às políticas de esterilização forçada! Abaixo a repressão policial ao povo negro!
As práticas de consumo capitalista levaram à reprodução massiva de uma imagem da mulher que mantém relações de poder e geram diversas formas de opressão embasadas em modelos estéticos, políticos e religiosos difundidos pela mídia. O corpo feminino continua operando e ocupando o papel mercantil mais submisso de coisa, objeto. Ele aparece ora contido na exposição da boa mãe, esposa e filha; ora completamente exposto como produto nas propagandas de carros e cervejas, na propagação do machismo de forma massiva: gastando bem, mulher não vai lhe faltar! Mulheres são expostas como carne nas revistas masculinas enquanto, ao mesmo tempo, a mídia voltada ao público feminino sempre coloca o homem como sujeito de sua vida. E inseridas em tal lógica, muitas mulheres tentam adaptar-se a padrões estéticos completamente avessos a si, e não para si, mas para o homem, conforme sua individualidade é banalizada no machismo difundido pelo sistema capitalista. Doenças como a anorexia são também produto dessa ideologia. Por isso, dizemos às mulheres: sejamos sujeito, e não objeto!
Da mesma forma que não existe capitalismo sem machismo e racismo, o mesmo pode-se dizer da homofobia. O Brasil encabeça rankings de violência contra homossexuais na América Latina, com casos extremos como as recém-divulgadas 13 mortes de homens homossexuais em Carapicuíba. Além de sermos alvos de agressão física passamos também por formas de humilhação social e moral, como ao ser alvo de piadas em rodas de bar, diminuindo nossa sexualidade e nossos trejeitos, obrigando-nos a reduzir à guetos quando na verdade somos parte das fileiras de trabalhadores. Em uma sociedade dita democrática, em que nossos direitos são falsamente garantidos por representarmos um mercado potencial em expansão, a mulher lésbica é duplamente oprimida e explorada. Isso porque, o desfrute de nossa sexualidade não é definido por nós mesmas, já que a sociedade onde vivemos reprime qualquer tipo de sexualidade que não esteja diretamente relacionada à reprodução. Na saúde pública não podemos contar com nenhuma espécie de atendimento especializado ou métodos preventivos que considerem nossa sexualidade e, justamente pela homofobia, poucas de nós sequer relatamos aos nossos médicos que nos relacionamos com mulheres. Por isso lutamos pelo direito ao livre exercício de nossa sexualidade! Basta de discriminação e violência contra travestis, lésbicas, transexuais e gays!
Nosso nome é uma homenagem à luta das operárias têxteis norte-americanas, que no começo do século XX estavam na linha de frente de uma importante greve, onde exigiam o "pão", que representava não apenas o alimento, mas as condições necessárias para viver, assim como as "rosas", que significava a cultura, a arte e a possibilidade de se desenvolver plenamente enquanto mulheres, o que nos é brutalmente negado na sociedade de opressão e exploração em que vivemos.
Hoje, olhando para casos de personalidades femininas socialmente bem-sucedidas e financeiramente independentes, há quem fale que as mulheres alcançaram pé de igualdade com os homens. Ora, podemos comparar a vida de Condolezza Rice com a situação das mulheres negras haitianas que sofrem com a violência das Tropas da ONU? Não, assim como o único elemento que une Hilary Clinton com a situação das imigrantes nos Estados Unidos é o fato de serem mulheres. Entretanto, mulheres como as senhoras Hilary e Rice são agentes diretos da exploração do imperialismo norte-americano sobre a classe trabalhadora e o povo pobre de todo o mundo.
Por isso, compreendemos que todas as mulheres são oprimidas, mas o limite de tal opressão possui diferentes formas conforme a classe social a qual pertencem. Cabe aos estudantes e à juventude tomar essa questão pelo corte de classe, se colocando ao lado das mulheres trabalhadoras para discutir a realidade em que vivemos e as necessidades de organização, contrariando a idéia de que as mulheres só devem discutir os problemas das mulheres, isoladas da realidade na qual vivemos.
Afinal, nos dizem que somos apenas reprodutoras e que o lar é nosso local por excelência, para assim justificar o fato de fazermos de graça todo o serviço doméstico socialmente necessário à reprodução da força de trabalho. Os capitalistas se desobrigam de garantir creches, lavanderias e restaurantes comunitários que mantenham em condições seus assalariados para continuar explorando-os, sabendo que o trabalho de casa será executado gratuitamente pelas mulheres. E então, quando precisam de mão-de-obra mais barata, somos recrutadas para o mercado de trabalho, ocupando postos precarizados, muitas vezes exercendo a mesma função de um homem por salários menores.
O sistema capitalista construiu, portanto, enormes contradições: nos diz que as mulheres devem ficar no lar cuidando das crianças, mas nos obriga a trabalhar fora de casa, porque com apenas um salário não dá pra sustentar toda a família; nos diz que os homens têm que trazer o sustento, mas depois condena os trabalhadores com o desemprego, provocando depressão e angústia diante da miséria. Nos dizem que devemos criar nossos filhos, mas nem o Estado e nem os capitalistas nos dão creches gratuitas em nossos trabalhos. Condenam o aborto, mas nos demitem quando engravidamos!
Às jovens lhes dizem que devem ser livres, independizar-se de seus pais e progredir, mas depois se encontram com o trabalho precário, a flexibilização, o estágio, os salários de miséria, a instabilidade dos contratos temporários.. . Aí têm que continuar vivendo com os pais por muito tempo! Nos dizem que devemos sonhar com o amor romântico, mas depois nos impõe as horas extras, as folgas 6 por 1, os horários rotativos, o trabalho noturno... E quando teremos tempo para nos encontrar com nosso companheiro ou companheira? Também nos reprimem quando queremos desfrutar de nossa sexualidade, seja com homens ou com mulheres.
Também dizem que as mulheres são fracas, mas cada vez aumentam mais o número de casas mantidas por mulheres. E, além disso, quando o capitalismo descarrega suas grandes crises sobre as famílias operárias, as mulheres estão na primeira fileira da luta e são de dar medo aos patrões, à justiça, às forças repressivas e aos políticos do regime! Assim mostraram as mulheres pobres de Paris, em 1789, quando se mobilizaram contra os preços do pão e deram início a grande Revolução Francesa. Assim mostraram, também, as operárias têxteis de São Petersburgo, em 1917, quando se mobilizaram reivindicando "pão, paz e liberdade" e deram o pontapé inicial da primeira revolução proletária triunfante, a Revolução Russa. Assim também mostraram diversas mulheres nas últimas lutas, como as trabalhadoras de Bruckman na Argentina e do Wall Mart nos Estados Unidos. E assim temos confiança de que mostrarão as mulheres trabalhadoras e a juventude nos próximos enfrentamentos de classe!
Hoje, a presente crise do capitalismo, iniciada nos EUA e estendida a todo o mundo, mostra a cada dia sua face mais brutal de um sistema de poucos que muito têm sobre muitos que nada têm. Vemos como os banqueiros e os grandes capitalistas são socorridos por bilhões de dólares, enquanto cada vez mais os trabalhadores têm que se enfrentar com o desemprego e a miséria. Isto prova que este sistema merece acabar. O Brasil não é diferente, e apesar do governo Lula nos dizer que estamos "blindados" contra os efeitos da crise, as demissões e as férias coletivas já começaram. Se organizar de forma independente ao lado da classe trabalhadora é a única maneira que as mulheres e a juventude têm de se enfrentar com essa crise que querem descarregar nas nossas costas. Sabemos que sentiremos duplamente esse peso. É preciso começar a resistência. Mulheres organizadas para barrar as demissões, férias coletivas e suspensões!
Não aceitaremos, portanto, a saída que a burguesia quer dar, através do Estado, suas instituições e o governo, pois são esses os que asseguram, reforçam, legitimam e justificam as condições de subordinação e opressão das mulheres. Inclusive, a campanha hipócrita e reacionária da Igreja contra o direito ao aborto se faz eco, lamentavelmente, em setores que se dizem socialistas, como Heloísa Helena do PSOL. E o PT, que por décadas atraiu os setores feministas mais importantes de nosso país, mostrou mais abertamente com o governo Lula seu caráter de protetor dos interesses da burguesia. Portanto, jamais poderá responder aos anseios das mulheres que querem lutar contra a nossa opressão e exploração. Basta ver o caso da governadora do Pará, Ana Julia Carepa, membro da DS (Democracia Socialista), corrente petista que dirige a Marcha Mundial de Mulheres, em cujo Estado uma jovem menor de idade ficou encarcerada com homens por quase um mês. A maneira criminosa como isso foi tratado mostra que não se pode governar para o capital e promover uma política conseqüente para as mulheres. É preciso, portanto, superar esta direção e avançar na construção de uma nova tradição de luta pelos direitos das mulheres! Às companheiras que ainda assim mantém ilusões nesses setores, e também no governo do PT, convidamos a refletir sobre as contradições que estão em xeque hoje.
Também queremos nos apropriar do legado teórico de todas as grandes feministas, sobretudo as que partiram do diálogo com o marxismo, que aportaram com as ferramentas necessárias para o entendimento das bases da condição feminina na sociedade de classes, e as chaves para a transformação a partir da luta revolucionária por nossa emancipação. É preciso que a juventude, ao lado das mulheres trabalhadoras, tenha independência política diante dos exploradores e seus aliados! Fazemos também um chamado especial às mulheres das organizações de esquerda, como a Conlutas, a nos organizarmos em comum!
Este manifesto convida à construção de um forte movimento militante de mulheres trabalhadoras, terceirizadas, donas de casa, desempregadas, estudantes e jovens, chamado Pão e Rosas, que lute pelos nossos direitos e para acabar com esse sistema de opressão e exploração!
Depois de uma jornada de trabalho, as mulheres voltam para casa e encontram... mais trabalho. Quantas vezes não ouvimos que "política não é coisa de mulher"? Isso se justifica pelo fato de que, se as mulheres não estão mais inseridas nos sindicatos é porque estão garantindo a comida, a roupa lavada e o cuidado com os filhos, um trabalho socialmente necessário que não é remunerado, servindo muito para eximir os patrões de aumentar o salário dos trabalhadores. Daí a importância de reivindicarmos creches, restaurantes comunitários e lavanderias em todos os locais de trabalho, nas universidades e nos bairros!
Todos os dias convivemos com a super-exploração das trabalhadoras. São aquelas que usam uniformes diferenciados dos trabalhadores efetivos. Elas recebem salários menores e constantemente são ameaçadas de demissão devido à instabilidade de seus empregos. Por que convivemos com isso de braços cruzados? Devemos nos colocar frente uma campanha pela efetivação de todos os trabalhadores terceirizados, exigindo os mesmos salários para os mesmos cargos, sejam homens ou mulheres, brancos ou negros!
O Núcleo Pão e Rosas é contra a intervenção que o Estado, a Igreja e a classe dominante têm sobre nossos corpos. Nos dizem o que fazer e nos "obrigam" a buscar um modelo comum de beleza. Não aceitam que nossa sexualidade pode se dar de diversas formas outras, a não ser a convencional, ligada diretamente à reprodução. Queremos decidir por nossos corpos através do acesso à saúde de qualidade, direito à maternidade e atendimento especial. Lutamos pela educação sexual, contraceptivos e aborto legal e gratuito. Acreditamos que apenas a partir de tais conquistas, as mulheres vão parar de darem à luz filhos indesejados e pior, morrer em conseqüência de abortos clandestinos, que já contabilizam a quarta causa de morte feminina no Brasil.
A cada dia a violência se torna a principal causa da morte de mulheres. O próprio sistema capitalista, que reproduz estereótipos de submissão e obediência para as mulheres e dominação para os homens, expõe os corpos femininos como objetos de consumo e desfrute para os demais. Entretanto, na sociedade onde vivemos, diferentemente do que muitas mulheres pensam, a violência não é um assunto privado e individual, e não se dá apenas no âmbito familiar, mas toma diversas formas e contornos, como a violência policial, a proibição do direito ao aborto que resulta na morte de 6 mil mulheres todos os anos na América Latina, a diferença de salários, a precarização do trabalho, as redes de prostituição e tráfico de mulheres, o assédio moral e sexual nos locais de trabalho... O capitalismo, portanto, sustenta e legitima toda a violência que existe. Por isso, é preciso lutar contra todas as formas de violência contra as mulheres! Queremos dizer basta! Que a classe trabalhadora levante essa bandeira!
Passados 120 anos da abolição da escravidão, podemos ver nitidamente que o capitalismo no Brasil incorporou os negros ao trabalho assalariado, destinando-os às funções mais precárias e os salários mais baixos, e sabemos que as mulheres são as mais atingidas por essa opressão. Historicamente, às mulheres negras é negado o direito à maternidade. Durante a escravidão, nossos filhos muitas vezes eram arrancados de nossos braços após o parto. Na atualidade, vemos casos de esterilização forçada que tem como principal alvo as mulheres negras. Sustentamos nossos lares com salários miseráveis e enfrentamos o absurdo das exigências de "boa aparência" nas entrevistas de emprego. Nossos corpos são tratados como mercadorias sob o símbolo da "mulata", que faz do Brasil um dos "campeões" em tráfico sexual. Nossos filhos são mortos pela polícia nessa matança brutal que assola as favelas e periferias, onde ser negro é ser sempre suspeito. Nossas irmãs africanas e haitianas são estupradas por soldados da ONU nas "missões de paz" que espalham terror. Somos a camada mais explorada da classe trabalhadora do nosso país e temos um papel fundamental a cumprir na luta pela libertação do povo negro e da emancipação das mulheres, luta que para nós se insere no marco do combate da luta de classes, contra a burguesia e o imperialismo. Pelo fim da diferença salarial entre brancas/os e negras/os! Pelo direito à maternidade para as mulheres negras! Abaixo às políticas de esterilização forçada! Abaixo a repressão policial ao povo negro!
As práticas de consumo capitalista levaram à reprodução massiva de uma imagem da mulher que mantém relações de poder e geram diversas formas de opressão embasadas em modelos estéticos, políticos e religiosos difundidos pela mídia. O corpo feminino continua operando e ocupando o papel mercantil mais submisso de coisa, objeto. Ele aparece ora contido na exposição da boa mãe, esposa e filha; ora completamente exposto como produto nas propagandas de carros e cervejas, na propagação do machismo de forma massiva: gastando bem, mulher não vai lhe faltar! Mulheres são expostas como carne nas revistas masculinas enquanto, ao mesmo tempo, a mídia voltada ao público feminino sempre coloca o homem como sujeito de sua vida. E inseridas em tal lógica, muitas mulheres tentam adaptar-se a padrões estéticos completamente avessos a si, e não para si, mas para o homem, conforme sua individualidade é banalizada no machismo difundido pelo sistema capitalista. Doenças como a anorexia são também produto dessa ideologia. Por isso, dizemos às mulheres: sejamos sujeito, e não objeto!
Da mesma forma que não existe capitalismo sem machismo e racismo, o mesmo pode-se dizer da homofobia. O Brasil encabeça rankings de violência contra homossexuais na América Latina, com casos extremos como as recém-divulgadas 13 mortes de homens homossexuais em Carapicuíba. Além de sermos alvos de agressão física passamos também por formas de humilhação social e moral, como ao ser alvo de piadas em rodas de bar, diminuindo nossa sexualidade e nossos trejeitos, obrigando-nos a reduzir à guetos quando na verdade somos parte das fileiras de trabalhadores. Em uma sociedade dita democrática, em que nossos direitos são falsamente garantidos por representarmos um mercado potencial em expansão, a mulher lésbica é duplamente oprimida e explorada. Isso porque, o desfrute de nossa sexualidade não é definido por nós mesmas, já que a sociedade onde vivemos reprime qualquer tipo de sexualidade que não esteja diretamente relacionada à reprodução. Na saúde pública não podemos contar com nenhuma espécie de atendimento especializado ou métodos preventivos que considerem nossa sexualidade e, justamente pela homofobia, poucas de nós sequer relatamos aos nossos médicos que nos relacionamos com mulheres. Por isso lutamos pelo direito ao livre exercício de nossa sexualidade! Basta de discriminação e violência contra travestis, lésbicas, transexuais e gays!