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terça-feira, 29 de março de 2011

Resenha do livro "A precarização tem rosto de mulher"*

Por Paula Berbert, graduada em Ciências Sociais
pela Unicamp. Estudante da Usp, professora da
rede estadual  paulista e militante do Pão e Rosas.

Elas são as primeiras pessoas para as quais dou ‘bom dia’, negras, uniforme azul que as diferenciam de todos os outros funcionários da escola estadual onde trabalho. “Tão cedo no batente?” – pergunto às 6h40. “É claro, professora. Tudo precisa estar em ordem pra quando vocês chegarem, não é?” – responde uma das duas terceirizadas que limpam uma escola que atende mais de 800 alunos. Entram todos os dias às 5h da manhã, saem às 16h, param meia hora para o almoço que trazem de casa, zanzeam com vassouras e baldes nas mãos. Sempre juntas, a única coisa que lhes dá identidade é as luvas que usam, que têm seu nome escrito. Ali ninguém fala com elas, nem os alunos, nem os demais funcionários e professores.

Três dias antes de escrever essa resenha tive uma oportunidade de conversar com elas de fato. Numa janela entre duas aulas, folheava um jornal quando entraram na sala de professores. “Precisamos limpar, você se incomoda?” – perguntou com simplicidade. “Claro que não! Aliás, sempre falo com você, mas não sei seu nome”. Começamos a conversar. Trabalham na escola há quatro anos, ali a terceirização começou a partir da cooperativa do bairro, que alistava mulheres para trabalhar na limpeza de escolas e organismos públicos da vizinhança. “Sabe, professora, é sempre com o pessoal daqui de perto, porque eles não pagam vale transporte”. Logo foram transferidas para empresas, com as quais a diretora negocia para mantê-las ali. Assim que começaram a trabalhar eram sete funcionários que cuidavam da limpeza da escola, que funciona nos três períodos, com mais 50 turmas, hoje são apenas duas trabalhadoras. Pergunto se houve aumento do salário, já que o trabalho aumentou mais de três vezes. “Não, professora, eles vão aumentando o trabalho e a gente vai dando conta. Tem que fazer o serviço todo, né?”. Falavam também que terminavam o dia exaustas, com pernas e braços doendo, depois era limpar a casa, fazer o jantar e preparar a própria marmita e também a do companheiro . Tão cansadas que nem a novela dava para ver direito. O salário às vezes atrasa, benefícios não têm nenhum. Eu ouvia aquelas mulheres e me lembrava de outra que conheço, tão parecida com elas – Silvana, resolvi falar do livro. “Vou trazer um presente pra vocês na segunda-feira ...”. “O que, professora? Não precisa se incomodar com a gente!”. “É um livro que fala sobre vocês, sobre mulheres terceirizadas, que dão duro, trabalham limpando um lugar, à noite chegam e casa e trabalham mais ... Acho que vocês vão gostar!”. Mostro a elas o piloto do livro, que estava na minha mochila. Na capa duas terceirizadas, usando uniformes escuros e com vassouras na mão, uma diz para outra: “Olha, podia ser a gente!”.

***

A terceirização faz parte da nossa vida cotidiana, na escola onde trabalho, no metrô que pego para chegar lá, que começa a ser privatizado e terceirizado, na limpeza do meu local de estudo, a Universidade de São Paulo, e em partes dos restaurantes desta universidade, na entrega do livro que lia horas atrás e da pizza que jantei ontem à noite. E como parte daquilo que é corriqueiro, muitas vezes passa por nós de maneira natural e irrefletida. O livro que apresento aqui, A precarização tem rosto de mulher, organizado por Diana Assunção, diretora do Sindicato de Trabalhadores da Usp (Sintusp), membro da Secretaria de Mulheres deste sindicato e fundadora do grupo de mulheres Pão e Rosas, nos mostra essa triste e injusta realidade, e narra uma luta importantíssima, travada em 2005 pelas trabalhadoras e trabalhadores terceirizados da Dima, empresa contratada para limpeza da Usp. Este é um livro militante, escrito de maneira simples e direta, acessível para jovens, estudantes, ativistas, militantes, estudiosos do tema da precarização e, especialmente, para trabalhadores. A partir de entrevistas com uma das principais protagonistas do conflito, Silvana, trabalhadora terceirizada, negra, mãe de família, a quem me referia, reconstruímos a história desta greve, em que os terceirizados se sublevaram contra as péssimas condições de trabalho, contra os assédios morais que sofriam das encarregadas, que chegavam a chamá-los de “escravos”, as humilhações da patronal e contra os atrasos do baixíssimo salário.

Logo que começaram a se organizar, os trabalhadores terceirizados da Dima enfrentaram muitas dificuldades. Estavam divididos em unidades diferentes da Usp, não podiam contar com o auxílio do seu sindicato, o SIEMACO (Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Prestação de Serviços de Asseio e Conservação e Limpeza urbana de São Paulo), constantemente sofriam ameaças de demissão e transferência para locais de trabalho longe da região do Butantã. As dificuldades eram muitas e a solução para elas ficou mais clara quando a organização dos terceirizados encontrou aliados, estudantes trotskistas da Usp, organizados no movimento A Plenos Pulmões, e trabalhadores efetivos da universidade e seu sindicato, o Sintusp. Exibições de filmes foram organizados por estes estudantes, dentre eles A greve, de Sergei Eisenstein, quando uma trabalhadora disse: “Tudo o que queremos fazer está nesse filme!”. Passaram eleger representantes dos trabalhadores terceirizados de cada unidade para compor o que eles chamavam de linha de frente. Eles discutiam semanalmente, debatiam sobre os problemas que aconteciam em cada local, pensando em soluções unitárias e coletivas. A luta contra a patronal se expandia, ganhava contornos mais claros.

Este livro discute as grandes questões sociais e políticas das últimas décadas a partir de um pequeno exemplo. Nos últimos anos vimos o avanço neoliberal sobre a classe trabalhadora, retirando direitos sociais historicamente conquistados, dividindo-a entre efetivos, terceirizados, temporários, sub-contratados, rebaixando a qualidade de vida de milhões. No plano ideológico, a academia e a ideologia dominante produziram rios de tintas sobre o fim da história e sobre o deslocamento da centralidade operária enquanto sujeito de transformação social. Ouvimos todos os dias que não se pode fazer muito contra o atual estado de coisas e que devemos nos conformar nos dedicando a projetos pessoais e ao nosso desenvolvimento individual. Mas a pequena luta das trabalhadoras e trabalhadores terceirizados da Dima questiona tudo isso. A auto-organização operária se mostrou viável, a necessidade de recomposição da unidade das fileiras da classe se mostrou fundamental e possível, a partir da localização do Sintusp neste conflito. Os avanços da subjetividade dos trabalhadores em luta se concretizou na vida de Silvana, que entendeu ali que se ela lutava contra o patrão da Dima, não podia ter “um patrão em casa”. Com dados sobre a trajetória da terceirização da Usp, o livro mostra que o processo mundial de precarização do trabalho tem sim rosto de mulher, e mostra que a sua superação também tem.

Contando com a apresentação das professoras Claudia Mazzei, da Universidade Federal de Santa Catarina, e Maria Beatriz Costa Abramides, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, esta publicação discute o processo da precarização, e da terceirização como uma de suas facetas, enquanto um processo mundial. A breve explanação sobre este tema em seu prólogo ganha carne nos artigos dos anexos. Um deles sobre a vida e luta de Konstantina Kuneva, trabalhadora terceirizada que sofreu um brutal atentado da patronal por sua organização política na Grécia em 2008, abalada pelas primeiras conseqüências da crise capitalista e também pelas primeiras respostas das massas. O outro é uma entrevista com duas dirigentes operárias do novo sindicalismo de base na Argentina, em que Catalina Balaguer e Lorena Gentile relatam suas lutas em defesa dos direitos das trabalhadoras e no combate contra a terceirização.

A precarização tem rosto de mulher é parte da coleção Iskra Mulher, que já publicou outros títulos, como Pão e Rosas – identidade de gênero e antagonismo de classe no capitalismo e Lutadoras – histórias de mulheres que fizeram história, e foi organizado por militantes da Liga Estratégia Revolucionária (LER-QI) e do grupo latino-americano Pão e Rosas, que organiza mulheres trabalhadoras, efetivas e terceirizadas, estudantes e jovens também na Argentina, Chile e México. Esperamos com essa publicação aportar para a reflexão, estudo, organização e luta daqueles que não naturalizam a divisão e exploração da classe trabalhadora, e que este livro seja um instrumento de combate à terceirização, que como diz a campanha de nosso grupo de mulheres, “escraviza, humilha e divide”.

***

Lançamos o livro no momento histórico em que vemos uma nova “primavera dos povos” na Tunísia, Líbia e Egito, onde as massas se levantam contra governos ditatoriais e pró-imperialistas que durante décadas oprimiram e espoliaram os trabalhadores e o povo pobre, e saem às ruas exigindo a queda destes ditadores e reivindicando também melhorias nas condições de vida, aumento de salários e liberdade de organização política. Estas mobilizações foram antecedidas por conflitos importantes na Grécia, Espanha e França, onde a classe trabalhadora recorreu aos seus métodos históricos de luta como piquetes, paralisações, manifestações de rua e greves gerais para combater as conseqüências da crise econômica, que se manifestam nas políticas governamentais destes Estados endividados, que têm por objetivo descarregar em suas costas o custo da crise capitalista. Vemos essas respostas iniciais das massas questionar o triunfalismo da burguesia, que imperou nas subjetividades dos trabalhadores e da juventude. Ao contrário dos postulados de Fukuyama, a história continua e as massas mobilizadas demonstram nas ruas a sua força.

Por outro lado, no Brasil, onde os “tempos” da crise são mediados por um crescimento econômico baseado na alta dos preços das commodities e no consumo do mercado interno, ainda prima uma subjetividade gradualista e passiva. Apesar do crescimento vertiginoso dos postos de trabalho precário, das enchentes que assolam a população pobre nas favelas, morros e periferias, da violência policial contra a população negra, parte importante do povo tem ilusão de que a eleição da primeira presidenta, Dilma, pode solucionar os problemas que ainda afetam o país. Inclusive um setor importante do movimento de mulheres, que naturalizou a posição escandalosa da então candidata, usando a bandeira histórica da legalização do aborto como moeda de troca nas eleições, para ganhar o apoio de setores católicos e evangélicos.

Com esta publicação também queremos dialogar com essa realidade, em que vemos a crise capitalista se desenvolver e ganhar concretudes desiguais e combinadas no globo. É preciso que nos apropriemos das lutas, ainda que pequenas, que a classe trabalhadora começa a travar no Brasil. Essa é a forma de não partirmos do zero e aprendermos com as lições das vitórias e também das derrotas da classe. Por isso convidamos todas e todos a lerem o livro A precarização tem rosto de mulher e difundi-lo de forma militante, como um instrumento que sirva para fortalecer aqueles que lutam contra este sistema de exploração e opressão.

Resenha publicada na Revista Contra Corrente - revista Marxista de Teoria, Política e História Contemporânea, Nº 5.

domingo, 20 de março de 2011

Gritamos todas: Liberdade imediata aos presos políticos do ato contra Obama no Rio! Fora Obama! Abaixo a militarização do Rio de Janeiro! Não à intervenção na Líbia!

Ontem, 18 de março de 2011, ocorreu no centro do Rio de Janeiro uma manifestação que chegou a contar com cerca de 400 pessoas para dizer Fora Obama. A manifestação ocorreu em meio a uma militarização do Rio de Janeiro que Dilma Rousseff e Sérgio Cabral promoveram para receber o principal representante do imperialismo mundial, o presidente dos EUA, Barack Obama. Manifestantes foram reprimidos pela polícia em frente ao consulado estado-unidense, e 13 pessoas foram presas, e sem direito à fiança, estão sendo levados para Bangu e Água Santa.

Ruas inteiras do centro do Rio estão fechadas, manifestações, cartazes e faixas proibidas e todas pessoas com bolsas e mochilas são submetidas a revistas a ponta de fuzil. As crianças da Cidade Deus são obrigadas a andarem em fila indiana, e também lá esse "estado de sítio" é decretado. Enquanto isso Dilma Rousseff discursa agradecendo e dando boas-vindas à Obama, dizendo que a sua presença é uma “honra” ao povo brasileiro, enquanto existem presos políticos por manifestar-se contra a presença de Obama, contra os acordos bilaterais que favorecem este país imperialista, contra as tropas brasileiras no Haiti, contra a intervenção na Líbia. De qual "povo brasileiro" fala Dilma? Dos Eike Batista? Das centenas de manifestantes que foram reprimidos ontem e dos 13 que estão encarcerados por se manifestarem politicamente certamente não é.

Neste mesmo mês que fazem 7 anos da invasão do Haiti por tropas de “paz” da ONU, dos EUA e do Brasil (entre outros), onde nosso país cumpre o papel de direção dessas tropas que reprimem manifestações contra a fome, tropas que violentam homens e mulheres haitianos, manifestantes são presos no Rio de Janeiro por protestarem, são reprimidos, revistados sob a mira de fuzis, e agora o povo do Rio de Janeiro é impedido de circular livremente pela cidade, tanques vão tomar as ruas amanhã, helicópteros e centenas de policiais já rondam o centro da cidade e amanhã serão milhares de policiais para garantir a "segurança" de Obama, contra o povo brasileiro! É do lado de Obama e dos EUA, e não da classe trabalhadora e do povo carioca, que estão o governador Sérgio Cabral e a presidente Dilma.

Exigimos a imediata libertação dos 13 presos políticos: Gilberto Silva, Rafael Rossi, Pâmela Rossi, Thiago Loureiro, Yuri Proença da Costa, Gualberto Tinoco "Pitéu", Gabriela Proença da Costa, Gabriel de Melo Souza Paulo, José Eduardo Braunschweiger, Andriev Martins Santos, João Paulo, Vagner Vasconcelos e Maria de Lurdes Pereira da Silva.

Pelo direito à manifestação seguimos levantando nossas vozes: Fora Obama! Abaixo a intervenção na Líbia! Imediata retirada das tropas brasileiras de Lula e Dilma, das tropas estado-unidenses e da ONU do Haiti! Abaixo a intervenção imperialista no norte da África e no Oriente Médio! Viva a primavera árabe! Sigamos o exemplo das egípcias, tunisianas e líbias! Sejamos milhares nas ruas pra arrancar nossos direitos!

Pela unificação dos atos de amanhã, 20/03, domingo às 10h no Rio! Vamos gritar novamente "Fora Obama" e exigir a libertação imediata dos 13 presos políticos!

19 de março de 2011

Grupo de mulheres Pão e Rosas

sexta-feira, 11 de março de 2011

Saiu o novo jornal do Pão e Rosas! Neste Dia Internacional das Mulheres: Não adianta uma mulher no poder, precisamos ser milhares nas ruas para arrancar nossos direitos!

Clique aqui para ler o jornal na íntegra. 

Chamamos a todas a se juntar neste 8 de março ao bloco anti-governista e anti-imperialista do grupo de mulheres Pão e Rosas!


Sábado, 12 de março, às 9h na Praça Roosevelt 
(em frente à igreja da Consolação)

Por educação sexual nas escolas para decidir, contraceptivos gratuitos para não abortar, direito ao aborto livre, legal, seguro e gratuito para não morrer!
Basta de mulheres mortas por abortos clandestinos!
Abaixo o acordo Brasil-Vaticano!
A Igreja não pode decidir sobre nossas vidas e nossos corpos!

Contra qualquer intervenção imperialista no norte da África, no Oriente Médio e na Líbia! Fora Kadafi! Viva a primavera árabe! Sigamos o exemplo das egípcias, tunisianas e líbias!
Fora tropas brasileiras e imperialistas do Haiti!

Abaixo a precarização do trabalho e de nossas vidas!
Educação pública e de qualidade em todos os níveis de ensino!
Por um SUS 100% estatal controlado por trabalhadoras e usuárias!
Passe livres imediato para todos os estudantes, desempregadas e trabalhadoras!
Combater a violência às mulheres!
Nenhuma confiança na justiça e na polícia! Fora a PM das favelas!
Pelo salário mínimo do Dieese!
Por igual salário para igual trabalho! Fim da terceirização com incorporação imediata das/os trabalhadoras/es sem necessidade de concurso público!


Convidamos todas a conhecer e confraternizar com o Pão e Rosas após o ato do Dia Internacional das Mulheres em São Paulo. Na Casa Socialista Karl Marx, Pça. Américo Jacomino, 49 - em frente ao metrô Vila Madalena
Compareça e convide suas amigas, familiares e colegas de trabalho!


Neste Dia Internacional das Mulheres: 
Não adianta uma mulher no poder, precisamos ser milhares nas ruas para arrancar nossos direitos!

O Dia internacional das mulheres de 2011 ocorre no Brasil com a comemoração de vários setores da sociedade pela eleição da primeira mulher presidenta do país, o que gera distintos tipos de ilusões neste governo, colocado por algumas dirigentes feministas e sindicais, como um governo que permitirá o avanço dos direitos das mulheres. Neste momento achamos de maior importância discutir com as mulheres as contradições do governo Dilma e porque uma mulher no poder, governando para e com os capitalistas, não significa necessariamente uma conquista ás mulheres. Mais que uma mullher no poder somos as milhões de terceirizadas que vivem com salários e condições miseráveis, de negras massacradas pela miséria e a violência policial nas favelas, obrigando-as a viver entre a fome e o enterro dos seus filhos, maridos e companheiros assassinados, as milhões de jovens com empregos precarizados ou sem empregos, exploradas pela prostituição formal e informal, resignadas e sem perspectivas, abandonadas sem assistência sexual e de saúde, constituindo um exército de reserva para empregos precarizados ou as drogas e a prostituição.

Hoje na Europa, norte da África e Oriente Médio o povo e a classe trabalhadora se levanta contra as políticas de austeridade (corte de verbas sociais enquanto se garante os lucros capitalistas) e ataques aos direitos da classe trabalhadora em resposta ao endividamento dos estados nacionais para salvar os empresários e banqueiros da crise econômica. No coração do imperialismo, no estado Wisconsin (EUA), professoras junto com estudantes e funcionários públicos, se enfrentam ao governo contra os ataques e pelo direito de organização sindical. Em Oaxaca (sul do México), professora (e)s são reprimidos pela polícia por saírem as ruas contra a precarização da educação e do trabalho, retomando a grande luta de 2006. E no Norte da África o processo revolucionário no Egito e a insurgência do povo e dos trabalhadores na Líbia, Tunísia, Yemen, Bahrein permitem às revolucionárias e às organizações de mulheres, sindicais e estudantis trazerem com força a idéia de revolução. Mais que uma mulher no poder somos as milhões de mulheres árabes, da Líbia e da África do Norte que hoje mostram como podemos lutar por nossos direitos: derrubando governos e lutando contra a pobreza e o desemprego!

É com o espírito de luta e combatividade das mulheres egípcias, líbias, tunísias e de países do mundo árabe que saem às ruas junto com o povo e os trabalhadores para lutarem contra as ditaduras bancadas pelo imperialismo, as condições de misérias, colocando na ordem do dia as demandas das mulheres, que nós do grupo Pão e Rosas chegamos a este 8 de março.

O Brasil da subserviência ao imperialismo, precarização da vida, violência às mulheres e mortes por abortos clandestinos que não aparece no 8 de março nem nas palavras de Dilma

A idéia de um governo promissor de Dilma se dá sobre o discurso de continuidade do governo Lula, que acabou seu mandato com 80% de popularidade e o reconhecimento na política internacional por saber fazer o jogo do imperialismo e cavar seu espaço entre as grandes potências mundiais. Não à toa que Obama disse que Lula era “o cara” e “O presidente mais popular do mundo”. Lula fez direitinho o exercício de casa e com bastante “orgulho” mantém a tropas brasileiras no Haiti chefiando a MINUSTAH que há mais de um ano do terremoto que resultou em milhares de mortes, não garantiu a construção de moradia e saneamento para a população que ficou imersa num surto de cólera e se manteve a repugnante condição de estupros sistemáticos das mulheres haitianas pelas tropas da ONU e a troca de sexo por alimento, além da contenção das revoltas populares e operárias contra o desemprego e a miséria.

Dilma segue na forma o abstencionismo de seu antecessor ao não ter rompido relações com o Estado ditatorial do Egito, Mubarak, governo historicamente apoiado pelos EUA e financiado com um bilhão e meio de dólares pelos ianques! O governo de uma mulher não significa que este estará ao lado da luta do povo e das mulheres do mundo árabe! Ao contrário disso Dilma caminha para continuar contra as mobilizações no mundo árabe quando não denuncia a tentativa de intervenção imperialista na Líbia e conta com seu ministro Patriota fazendo declarações que aceitará intervenções caso a ONU autorize. Todas as mulheres que nos organizamos para lutar por nossos direitos devemos denunciar todo tipo de intervenção imperialista na Líbia assim como nos colocar ao lado da luta pela queda de Kadafi, mais um dos ditadores que historicamente oprimiu e explorou o povo árabe e que nas ultimas décadas também foi um dos amigos dos EUA.

O aumento do número de empregos com carteira assinada no governo Lula se deu em condições de regimes de contratos temporários, terceirizados e precários, ocupados majoritariamente pelas mulheres e a juventude. Para as mulheres, Lula só fez demagogia ao falar sobre o aborto como uma questão de saúde pública, mas assinou o acordo Brasil-Vaticano concedendo mais privilégios para a Igreja católica, enquanto milhares de mulheres morrem por abortos clandestinos e são criminalizadas. A lei Maria da Penha trouxe o debate para a sociedade sobre a violência contra as mulheres, mas é regida pelo mesmo Estado que legitima e reproduz a violência contra as mulheres. Nestes quase 5 anos da existência da lei a realidade das mulheres continua sendo de muita brutalidade com uma mulher violentada a casa dois minutos.

O baixo salário não alcança para garantir os serviços básicos da vida familiar e com o alto preço dos alimentos e das passagens de ônibus que aumentaram por todo o país, obriga as mulheres trabalhadoras a se redobrarem e garantir as tarefas domésticas. Se hoje o número de mulheres chefes de família é um pouco mais de 30%, as mesmas são as que ganham os salários mais rebaixados e continuam vítimas da dupla jornada de trabalho. Por isso exigimos do estado lavanderias, creches, e restaurantes públicos para que as mulheres possam se libertar das tarefas domésticas!

Dilma entra no governo tendo que provar seu potencial, mas não tem a popularidade de Lula e se encontra em um cenário mundial mais instável. Dilma começa a tomar suas medidas e preparar o terreno para quando a crise bater no país muito mais forte, com cortes públicos de 50 bilhões e o mísero aumento de R$ 35 (1,3% de aumento real) no salário mínimo e para os deputados o aumento foi de 62%. A campanha reacionária contra o direito elementar das mulheres que é o aborto e os discursos conservadores em nome da família e da moralidade cristã também são parte da preparação da burguesia para enfrentar a crise, pois reafirmam a opressão às mulheres subjugando-as ao destino da maternidade, refém da dupla jornada de trabalho e da morte decorrente de complicações por abortos clandestinos. Por isso gritamos pelo fim da dupla jornada! Basta de violência e de mulheres mortas por abortos clandestinos!

É sobre essas bases que Dilma diz que seu governo vai acabar com a pobreza e que todas as mulheres poderão ser o que desejarem. Enquanto Dilma aumenta as verbas para o programa social Bolsa Família, o investimento para moradia, saúde e educação vão diminuir. O que realmente aumenta no Brasil de Dilma continua sendo a desigualdade social! Não à toa que o último índice de novos bilionários conta com mais 12 brasileiros todos englobados em cerca de apenas cinco famílias, ligadas a grandes bancos com Itaú, Bradesco e Amil (plano de saúde privado)!

Não somos uma mulher no poder! Somos milhares nas ruas para arrancar nossos direitos!

Enquanto as direções do movimento de mulheres ligado ao governo, como da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), exaltam a chegada da primeira mulher no poder, dizendo que apenas o fato de ter uma mulher na presidência já é um grande passo para a luta dos direitos das mulheres e pela igualdade social, escondem que Dilma foi eleita através de uma campanha reacionária e se rifam de colocarem com tudo na ordem do dia o direito ao aborto para arrancarmos de uma vez, este direito elementar, do estado e do governo que falam em nome da vida, mas que limpam por debaixo do tapete os rios de sangue de milhares de mulheres mortas.

Essa política continua a moldar uma bancada parlamentar também religiosa e conservadora e até então nenhuma de suas ministras, que ocupam cargos de poder, saiu em defesa aberta dos direitos das mulheres e dos homossexuais. Nos últimos dias os setores religiosos saíram mais uma vez em propagar a campanha contra os homossexuais quando se disseram contrários a que casais homossexuais possam declarar juntos o importo de renda, como qualquer outro casal. O governo Dilma e suas ministras mulheres continuarão a fazer duplos discursos permitindo que os setores mais conservadores continuem pisando em nossos direitos? A cota de 30% para mulheres nos cargos ministeriais não significará o avanços para a vida das mulheres, pois o governo de Dilma segue sendo baseado na exploração da classe trabalhadora e na conciliação com a burguesia brasileira e a Igreja! Será que as feministas que apóiam Dilma continuarão caladas sobre essas questões?

Enquanto isso, ouvimos discursos dos governos que as catástrofes ocasionadas pelas enchentes, como na região Serrana do RJ, é culpa das ocupações irregulares nas áreas de risco, milhares de famílias tiveram seus parentes mortos e ficaram desabrigadas. Sem contar no aumento do investimento do governo Dilma para os grandes empresários do turismo, para sediar a Copa de 2014 e às Olimpíadas de 2016, que contará com uma grande rede de exploração do turismo sexual de mulheres e crianças e com a já atual política de desocupação de comunidades e favelas como já vem ocorrendo em cidades como o rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Sejamos a linha de frente no enfrentamento com os governos, o imperialismo e os empresários!

Ao contrário do que dizem, de que a vitória de Dilma é uma conquista para as mulheres no país ou que a chegada ao poder de uma ou meia dúzia de mulheres que mudará nossas vidas, a conquista de nossos direitos será obra das próprias mulheres, como vem dando exemplo às mulheres tunísias, egípcias e líbias e as dos países do mundo árabe. Neste 8 de março nos inspiramos nessas mulheres e também nas operárias russas que se colocaram as ruas para lutar contra miséria e por melhores condições de trabalho dando o ponta-pé inicial da Revolução Russa de 1917, no dia que ficou conhecido como o dia internacional das mulheres. Prova histórica de que as mulheres se colocam na linha na luta de classes. É nesta perspectiva que chegamos a este dia conformando um bloco antigovernista e anti-imperialista no ato unificado, e queremos discutir com cada mulher.

Diferentemente da política que defendem a Marcha Mundial de Mulheres e a CUT, atreladas ao governo Dilma, que fazem aprofundar as ilusões de que ela avançará nas demandas das mulheres e de que as reivindicações por nossos direitos se fazem pela via institucional, impedindo que as mulheres trabalhadoras e jovens se enxerguem enquanto sujeitos políticos e se organizem independente do governo e do Estado. Acreditamos que, ao contrário disso, é preciso que as organizações de mulheres não fiquem mais a reboque da política do governo, este que se mantêm atrelado ao imperialismo. É hora colocar de pé uma ampla campanha pela legalização e descriminalização do aborto e não mais aceitar a caminhada de mãos dadas do governo com os setores conservadores. Devemos unir nossas forçar para mostrar que estamos ao lado do povo e dos trabalhadores da Líbia pela queda de Kadafi e que somos contrárias a qualquer intervenção imperialista na região. Para tomar posição as organizações de mulheres não podem mais esperar o aval de Dilma. Temos que nos inspirar nas revoltas do mundo árabe e massificar uma luta pelos direitos das mulheres e dos homossexuais no marco de uma luta contra a opressão e a exploração. Chamamos a CSP-Conlutas, Intersindical, a direção majoritária do Movimento Mulheres em Luta e da ANEL (PSTU), e também as companheiras do PSOL a unificarem forças nessa campanha fazendo um chamado que permita aos setores antigovernistas terem uma política ofensiva por nossos direitos e assim influir nas organizações de mulheres e sindicais que apoiaram Dilma para que rompam com seu governo e que juntas façamos uma ampla campanha pela legalização e descriminalização do aborto!

segunda-feira, 7 de março de 2011

Por um 8 de março anti-imperialista e anti-governista: venha marchar junto ao Pão e Rosas!

Por educação sexual nas escolas para decidir,
Contraceptivos gratuitos para não engravidar,
Aborto legal, seguro e gratuito para não morrer!


sexta-feira, 4 de março de 2011

Por um 8 de março anti-imperialista e anti-governista: neste Dia Internacional de Lutas das Mulheres, junte-se ao bloco do grupo de mulheres Pão e Rosas!

*Por educação sexual nas escolas para decidir, contraceptivos gratuitos para não abortar, pelo direito ao aborto livre, legal, seguro e gratuito para não morrer!
Basta de mulheres mortas por abortos clandestinos!
Abaixo a campanha assassina antilegalização do aborto da Igreja, que tem o aval de Dilma!

*Abaixo a intervenção imperialista no norte da África, no Oriente Médio e no Haiti!
Viva a primavera árabe! Sigamos o exemplo das egípcias, tunisianas e líbias!
Fora tropas brasileiras do Haiti!

*Abaixo a precarização do trabalho e de nossas vidas!
Moradia, educação, saúde dignas!
 Pelo salário mínimo do Dieese!
Fora a PM das favelas!

Sábado 12 de março às 9h

Concentração na Pça. Roosevelt, em frente à Igreja da Consolação


Após o ato:
Confraternização com bandas para continuarmos as discussões!
Local: Casa Socialista Karl Marx, Pça. Américo Jacomino, 49 - em frente ao metrô Vila Madalena

Por um 8 de março anti-imperialista e anti-governista:

Carta às companheiras da CSP-Conlutas, da Anel e à direção majoritária do Movimento Mulheres em Luta

Hoje, todas nós nos inspiramos no fervor das mulheres egípcias, tunisianas, líbias, que saem às ruas, junto à juventude pobre e aos trabalhadores, para dar um basta aos desmandos das ditaduras desses países e para lutar contra o desemprego, por melhores condições de trabalho e melhores condições de vida. O processo revolucionário no Egito e agora a insurgência dos trabalhadores e do povo da Líbia permitem às revolucionárias e às organizações de mulheres, sindicais e estudantis trazer com força a ideia de revolução. É com esta perspectiva que vemos a importância de abrir uma discussão com as companheiras sobre como podemos unificar as lutas dos setores antigovernistas e anti-imperialistas neste 8 de março.

Nesse ano, o fato da Presidência estar nas mãos de uma mulher instiga ilusões em diversos setores de mulheres a partir da ideia de que se abrem as portas para conquistas de igualdade entre homens e mulheres por dentro da sociedade capitalista, esta que se sustenta, além da exploração, na opressão de mulheres, negros, homossexuais, etc. Sabemos que isso não é possível. Porém, as direções do movimento de mulheres atreladas ao governo Dilma, como a Marcha Mundial de Mulheres, cumprem o papel de aprofundar essas ilusões, impedindo a organização independente das mulheres trabalhadoras e jovens e fazendo-as esperarem por respostas de Dilma às suas demandas. E é exatamente essa estratégia que estão implementando no 8 de março desse ano, ao se negarem a levantar com força a bandeira do nosso direito ao aborto, direito esse atacado diretamente pela presidenta que querem preservar, e ao não denunciar em nenhum momento a política do governo de explorar ainda mais as mulheres, com por exemplo os cortes públicos de R$ 50 bilhões já anunciados por Dilma, que atingirão mais profundamente as mulheres. Algumas delas inclusive vão diretamente exaltar e comemorar o fato de uma mulher ter chegado à presidência, como no bloco de carnaval que estão organizando, no qual desfilarão com faixas de presidenta. Porém, sabemos que esta política também é compartilhada e implementada pelas companheiras do PSOL, que tem uma política mais complacente com Dilma no seio das que nos reivindicamos antigovernistas. Vemos essa como uma estratégia que vai no sentido oposto ao exemplo das mulheres, do povo e dos trabalhadores árabes que começam a mostrar que a luta mais profunda por direitos, e dentre estes os das mulheres, se dá conjuntamente com o combate aos governos que nos oprimem. Ao contrário do que diz Dilma e os grupos de mulheres governistas, o momento histórico das mulheres será obra das próprias mulheres em uma luta independente dos Estados burgueses. Isso não se dará pela via da ascensão de uma ou meia dúzia de mulheres a cargos de poder nesse sistema capitalista. Isso será parte da luta de classes, como estão mostrando as mulheres árabes, no Egito, Tunísia e Líbia, fazendo reviver uma nova primavera dos povos!

Nesse ato unificado do 8 de março, a depender da Marcha Mundial de Mulheres, o que não aparecerá é que esse governo é sustentado também às custas de empregos precarizados, majoritariamente preenchidos por mulheres negras; que é este governo que se elegeu tendo que criminalizar as mulheres por fazerem aborto; que é o governo que mantém o seu exército liderando a invasão militar no Haiti, política forjada pelo imperialismo estadunidense, que estupra as mulheres, massacra o povo negro, e assassina todas e todos aqueles que se levantam contra a miséria que vivem, principalmente depois do terremoto de janeiro de 2010; que é o mesmo que não rompeu relações com o governo de Mubarak, contrapondo-se, assim, às justas demandas das mulheres, do povo e dos trabalhadores egípcios. Assim, defendemos que os setores antigovernistas devem ter uma política independente, com um bloco totalmente delimitado no ato e travando uma luta política para disputar o espaço com as direções governistas. Acreditamos que as mulheres da CSP-Conlutas e da Anel nesse momento devem desmascarar profundamente esse governo, apontando outro caminho para as jovens e trabalhadoras: o da organização independente aliada à classe trabalhadora para lutarmos pelo direito e pela legalização do aborto, contra a precarização do trabalho, pela retirada das tropas brasileiras e imperialistas do Haiti, e levantando a mais ampla solidariedade ao povo árabe pela queda de Kadafi e contra qualquer tipo de intervenção imperialista na região.

No último período, uma campanha gigantesca, liderada pela Igreja Católica, Evangélica, deputados e senadores – para a qual Dilma deu seu aval na sua campanha presidencial – foi impulsionada contra um direito elementar nosso: o direito ao aborto. Com esse tipo de campanha, os espaços que se abrem são para esses setores conservadores e assassinos só avançarem ainda mais sobre nós, dando mais “legitimidade” perante a população para a criminalização das mulheres que fazem abortos, assim como para a morte de muitas destas, em sua maioria mulheres pobres, negras e trabalhadoras (além de preservar os lucros homéricos das clínicas que fazem abortos clandestinos, com os quais se beneficiam, por baixo dos panos, esses mesmos setores antilegalização).

Nós, mulheres, temos o papel de reverter esse quadro, denunciando a hipocrisia do Estado brasileiro e seu governo atual que falam “em nome da vida”, mas que pisa no sangue de milhares de mulheres que são criminalizadas ou morrem por abortos clandestinos, que não disponibiliza condições dignas de vida às mulheres que decidem ter seus filhos e a seus filhos, com creches, escolas, moradia, alimentação, e que assassina todos os dias a juventude nas periferias, principalmente os jovens e negros – ou seja, as que mais sofrem com a falta desse direito são as trabalhadoras, justamente aquelas que, por conta do veneno ideológico que lhes é injetado, são contra o aborto; e por isso mesmo é que nós temos que mostrar a elas a crueldade do Estado e da Igreja, que além de não garantirem nem o direito ao aborto e nem o direito pleno à maternidade, ainda incutem em nossas mentes a culpa (pecado) por fazê-lo. Nós temos o direito de decidir sobre nossos corpos e nossas vidas, e não ficarmos submetidas à predestinação da maternidade simplesmente porque o Estado e a Igreja querem. Exigimos que a educação seja laica e que inclua a educação sexual nas escolas para decidir, anticoncepcionais gratuitos para não engravidar, e o aborto livre, legal, seguro e gratuito para não morrer, assim como o fim do acordo Brasil-Vaticano. E lançar com toda a força essa campanha hoje, iniciando-a no 8 de março e depois dando continuidade a essa luta, além de ser dela que dependem milhares de vidas de mulheres, é a forma mais concreta para desmascarar esse que é o primeiro governo de uma mulher no Brasil.

Sabemos que essa é uma bandeira fundamental para todo o movimento de mulheres, e por isso propusemos nas reuniões unificadas de organização do 8 de março que fizéssemos desta um dos eixos centrais para a unidade da luta por nossos direitos. A unidade de todos os setores feministas seria um primeiro passo para uma ampla campanha massiva pelo direito ao aborto. Porém, mais uma vez as organizações como a MMM preferiram abrir mão da luta pelo direito ao aborto para manter seus acordos com o governo, a partir da estratégia de um embate puramente parlamentar, e nesse sentido contrapondo-se a uma luta com independência de classe frente ao governo Dilma. Nesse marco, essa unidade não serve para arrancarmos nossos direitos.

No atual cenário de crise econômica, que hoje se abate principalmente sob os países da Europa e do norte da África, se coloca como necessidade para os governos, dentre eles o brasileiro, como forma de prevenção, a redução de custos e ataques aos direitos da classe trabalhadora. A aprovação do salário mínimo no valor miserável de R$ 545 vai nesse sentido, assim como o resgate bilionário de Lula aos banqueiros e grandes empresas em 2009, em detrimento de melhorias reais das condições de saúde, educação e moradia, dando de ombros para a tragédia das enchentes que vemos todos os anos acontecerem; assim como militariza as favelas, com as UPPs, e assassina a juventude pobre e negra para impor uma “paz social” capaz de receber endinheirados turistas para assistirem à Copa de 2014 e às Olimpíadas de 2016, o que traz rios de dinheiro a empresários brasileiros e ao próprio governo, e violência e desocupação de moradias aos pobres e trabalhadores; e assim também Dilma já anunciou um corte de gastos públicos de R$ 50 bilhões. E as mulheres sofrem duplamente com essa situação.

Também consideramos, por esses motivos, bastante importante levantar essas questões como uma das lutas que as mulheres trabalhadoras terão de travar, mas, ao invés de colocar isoladamente a questão do salário mínimo, mostrar como salário mínimo aprovado faz parte de um plano de precarização de todos os âmbitos da vida de trabalhadoras e trabalhadores, da juventude e dos negros. E com isso levantar como reposta a luta pelo salário mínimo do Dieese, que é o que corresponde de fato às necessidades das famílias, boa parte delas sustentadas pelas mulheres.

No entanto, se faz necessário, em primeiro lugar, desmascarar Dilma para que as trabalhadoras não tenham nenhuma ilusão nas promessas do governo de uma mulher, e saiam a lutar com independência de classe. Dizer que sua política não será a de honrar as mulheres e nem de erradicar a miséria, como ela alardeia, e que sua prática já desmente. Dizer que esse é o governo das mortes e criminalização de mulheres por abortos clandestinos, e da precarização da vida das mulheres que não fazem parte da classe dominante e que não estão em cargos de poder.

Frente aos levantes no mundo árabe, o processo revolucionário aberto no Egito e a rebelião popular na Líbia, os imperialistas norte-americanos e da União Europeia tentam se relocalizar. Após estabelecerem bons negócios com o regime líbio durante anos, agora os imperialistas querem criar condições para intervir direta ou indiretamente em defesa de seus interesses econômicos, e por isso tentam se descolar das figuras dos ditadores questionados. Aos que ocupam o Haiti, o Iraque e o Afeganistão cometendo todo tipo de massacres contra povos oprimidos, e que sustentam o Estado de Israel contra o povo palestino, não lhes interessam as reivindicações do povo árabe. Os imperialistas buscam se reacomodar depois da queda de Mubarak e com as fraturas do regime líbio. Temos que ser nós, as mulheres anti-imperialistas, as que nos colocamos ao lado das mulheres, do povo e dos trabalhadores da norte da África e do Oriente Médio que estão protagonizando levantamentos nestes países, e que não devem se deixar seduzir pela fraseologia imperialista, que busca substituir um despotismo por outro, como acontece hoje no Egito com o governo ditatorial da Junta Militar. Da mesma forma, devemos combater qualquer tipo de demagogia do governo Dilma que não rompeu relações com Mubarak, mostrando seu atrelamento com o imperialismo norte-americano, contrário às demandas do povo e dos trabalhadores que derrubaram o ditador, e que agora condena as violações cometidas por Kadafi sem denunciar a intervenção imperialista que se prepara para tentar subjugar ainda mais um povo. Apenas o exercício do poder por parte dos trabalhadores e camponeses pode garantir pão e liberdade aos que se levantam contra Kadafi!

Por esses motivos, fazemos um chamado para construirmos juntas um bloco antigovernista e anti-imperialista que combata veementemente a estratégia de conciliação de classes das direções governistas e que faça uma denúncia contundente do governo Dilma, e que junto à sublevação das mulheres e dos povos árabes possamos mostrar que a luta das mulheres por seus direitos, aliadas à classe trabalhadora, é parte fundamental da luta de classes. Que por esta via nos colocamos pelo direito ao aborto e sua legalização, por educação sexual nas escolas e preservativos, e pelo fim do acordo Brasil-Vaticano. Que permita colocar nossa solidariedade à luta do povo árabe contra os regimes ditatoriais, assim como contra qualquer tipo de intervenção imperialista, denunciando o governo Dilma que não rompeu relação com Mubarak no Egito e que agora continua calada frente a mais uma tentativa de subordinação de povos oprimidos pelo imperialismo norte-americano e europeu. Fazemos esse chamado para que exista uma clara posição antigovernista e anti-imperialista no ato unificado para disputar a consciência das mulheres trabalhadoras e jovens que estarão no ato porque querem arrancar nossos direitos, e com nossas forças discutirmos também com as companheiras do PSOL para que rompam seus acordos com as governistas e que marchem junto a nós.

Saudações,

Grupo de Mulheres Pão e Rosas

quarta-feira, 2 de março de 2011

EGITO: MULHERES NA REVOLUÇÃO

Relato da ativista política Gigi Ibrahim

Reproduzimos parte do artigo “ Women of the revolution” de Fatma Naib.
tradução de Paula Litcha

A ativista política Gigi Ibrahim desempenhou um papel fundamental em espalhar as notícias sobre os protestos.

"Eu comecei [meu ativismo político] apenas por falar com as pessoas [que eram] envolvidas [no movimento dos trabalhadores]. Então eu me tornei mais ativa e a coisa toda se tornou viciante. Fui a reuniões e participei dos protestos. Aprendi muito rapidamente que a maioria das greves do movimento operário foram iniciadas por mulheres.

Em minha experiência, as mulheres desempenham um papel crucial em todos os protestos e greves. Sempre em que a violência surgir, as mulheres iriam à frente e lutariam contra a polícia, elas seriam espancados tanto quanto os homens. Eu já vi isso durante os protestos de Khaled Said em junho de 2010, quando muitas mulheres foram espancadas e presas. Muçulmanas, cristãs - todos os tipos de mulheres protestaram.

Minha família sempre teve problemas em me ver participando de protestos. Eles me preveniram de ir em relação a minha segurança, porque eu sou uma menina. Eles estavam preocupados com os riscos. Eu tinha que mentir para poder ir aos protestos. Quando a polícia violentamente esvaziou a praça em 25 de janeiro, eu levei um tiro de bala de borracha nas costas ao tentar fugir da polícia enquanto eles nos atacavam com gás lacrimogêneo. Voltei para a praça, assim como muitos outros, no dia seguinte e fiquei lá todo o tempo pelos próximos 18 dias. Como o processo tomou uma escala maior, meu pai ficou cada vez mais preocupado. Em 28 de janeiro , minha irmã queria me trancar em casa. Eles tentaram me impedir de sair, mas eu estava determinado e fui embora. Mudei-me para a casa da minha tia, que é mais próxima da Praça Tahrir, e gostava de aparecer por lá de vez em quando para lavar-me e descansar antes de voltar para a praça. No começo minha família estava muito preocupada, mas como as coisas começaram a aumentar de dimensão, eles começaram a entender e se tornar mais solidários. Minha família não é de forma alguma politicamente ativa.

As condições do dia-a-dia não foram fáceis. A maioria de nós usava o banheiro no interior da mesquita próxima. Outros iam para apartamentos nas proximidades, onde as pessoas gentilmente abriram suas casas para outras usarem. Eu estava na Praça Tahrir em 02 de fevereiro, quando os bandos pró-Mubarak nos atacaram com coquetéis molotov e pedras. Essa foi a noite mais terrível. Fiquei presa no meio da praça. Os arredores da praça eram como uma zona de guerra. Quanto mais as coisas esquentavam, mais determinados em não parar nós nos tornávamos. Muitas pessoas ficaram feridas e muitos morreram, e isso nos levou a continuar e não desistir. Eu pensei que se os bandos armados pró-Mubarak entrassem na praça, aquele seria o nosso fim. Estávamos desarmados, não tínhamos nada. Naquela noite eu senti medo, mas ele se transformou em determinação.

As mulheres desempenharam um papel importante naquela noite. Porque nós estávamos em vantagem numérica, tivemos que defender todas as saídas da praça. Para chegar às saídas entre cada extremidade da praça, pode-se levar até 10 minutos. Assim, as mulheres andavam e alertavam os outros sobre onde havia perigo, certificando-se que as pessoas que estavam lutando trocassem de posições com outras para que elas pudessem descansar antes de entrar na batalha novamente.

As mulheres também foram cuidar dos feridos em clínicas improvisadas na praça. Algumas mulheres estavam na linha de frente atirando pedras com os homens. Eu estava na linha de frente documentando a batalha com a minha câmera. Eu nunca tinha visto ou experimentado algo parecido antes.

Durante os 18 dias, nem eu nem nenhuma das minhas amigas fomos assediadas. Eu dormi em Tahrir com cinco homens ao meu redor que eu não conhecia e eu estava segura. Mas isso mudou no dia em que Mubarak caiu. Os tipos de pessoas que apareceram em seguida, não estavam interessados na revolução. Eles estavam lá para tirar fotos. Eles vieram para o clima de carnaval e então foi quando as coisas começaram a mudar.

Quando o anúncio foi feito, todos nós explodimos em alegria. Eu estava gritando e chorando. Abracei a todos ao meu redor. Eu mudei de um estado de felicidade e choro para um completo choque. Demorou um pouco para acalmar meus ânimos e entender o acontecido.

A revolução não está terminada.

Todas as nossas demandas ainda não foram alcançadas. Temos de continuar. Aqui é onde o verdadeiro trabalho duro começa, mas vai tomar uma forma diferente de organizar ocupações na praça. Reconstruir o Egito vai ser difícil e todos nós temos que participar deste processo. Há greves organizadas exigindo os direitos dos trabalhadores por melhores salários e condições de trabalho, e essas são as batalhas para serem vencidas agora."Texto completo em http://english.aljazeera.net/indepth/features/2011/02/2011217134411934738.html