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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Mulheres, sejamos milhares na luta pelos nossos direitos!

 Por Iaci Maria, militante do grupo de mulheres Pão e Rosas - BH

No quinto ano da crise econômica que atingiu potências como os EUA e tem hoje seu epicentro na Europa, ao mesmo tempo em que se desenvolvem processos revolucionários como no Egito e se renovam os ventos da chamada primavera árabe como na Tunísia - ventos esses que por um tempo ficaram carregados de apoio da OTAN contra a ação independente das massas -, levanta-se a questão sobre a importância de tratar sobre a opressão às mulheres. Frente à atual situação política, econômica e social do mundo, por que tal tema deve vir à tona?

Ao redor do mundo, temos visto convulsões sociais e mobilizações de trabalhadores, estudantes, setores oprimidos da sociedade, indignados com a crise e com seus governos. Em muitas dessas mobilizações vimos amplos setores de mulheres saírem às ruas, tomando a frente dos processos de lutas e levantando suas bandeiras, como no Egito e na Índia. No Chile, as jovens levantaram pela educação pública, contra a repressão e contra a violência sexual dos agentes do regime herdeiro de Pinochet. Esses movimentos, que necessitam da auto-organização dos trabalhadores e dos estudantes e de direções revolucionárias para seguir avançando até sua vitória, precisam que essas direções guiem também na luta pelas demandas das mulheres, pelo fim das opressões. Para isso, é necessário entender o que significa a opressão da mulher no capitalismo.
  
EXPLORAÇÃO E OPRESSÃO NA SOCIEDADE DE CLASSES

Durante toda nossa formação, educação e construção social, as mulheres estão sujeitas a vários tipos de opressão. Desde a infância, com a divisão sexual entre cores e brinquedos, até o assédio nas casas, ruas, escola e trabalho, violências físicas e psicológicas, a obrigação de ser mãe, esposa e a mulher da tradicional família mineira ou a dona de casa, o salário menor do que o do homem, entre outras expressões da opressão. Várias dessas nos passam despercebidas ao longo da vida, sendo naturalizadas e aceitas sem questionamentos, inclusive sendo reproduzidas muitas vezes pelas próprias mulheres. 

Tudo isso porque vivemos hoje imersos em uma sociedade que tem suas bases consolidadas na exploração e opressão, pois o capitalismo se utiliza dos dois para seguir com seus lucros e sua dominação. Desde uma perspectiva marxista, a exploração tem suas raízes no aspecto estrutural econômico, sendo essa a relação da classe dominante – a burguesia, que se apropria do trabalho alheio – com a classe trabalhadora – a que produz.  Marx e Engels explicam essa relação de exploração entre a burguesia e o proletariado brevemente no Manifesto do Partido Comunista quando coloca:

“Com o desenvolvimento da burguesia, isto é, do capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos operários modernos, os quais só vivem enquanto têm trabalho e só têm trabalho enquanto seu trabalho aumenta o capital. Esses operários, constrangidos a vender-se a retalho, são mercadoria, artigo de comércio como qualquer outro (...)” (Marx, Engels, 1848). [1].

Já a opressão é a relação de submissão de um grupo sobre outro por razões culturais, raciais, étnicas, sexuais ou de gênero, e faz uso da desigualdade. Porém, exploração e opressão se combinam de maneira perfeitamente orquestrada pelo capitalismo, para que sua burguesia consiga seguir em seu posto de classe dominante. Incentivando a divisão entre os trabalhadores, a burguesia sempre buscou as vias para aumentar a mais valia absoluta e relativa e uma de suas armas é a divisão entre homens e mulheres, disseminando a ideologia da submissão das mulheres. Quanto mais explorado é um setor, maior a expressão da sua opressão. Ou seja, mulheres pobres, trabalhadoras precárias, moradoras das favelas e periferias, em sua maioria negras, são as maiores vítimas das opressões. A opressão das mulheres se insere na história da luta de classe e, apesar de não ter surgido no capitalismo, ganha nesse sistema traços particulares, sendo apropriada pelo próprio sistema para a manutenção do status quo. Ainda no Manifesto, os autores mostram o papel que a mulher cumpre para a burguesia:

“‘Vós, comunistas, quereis introduzir a comunidade das mulheres!’, grita-nos toda a burguesia em coro. Para o burguês, a mulher nada mais é do que um instrumentos de produção. Ouvindo dizer que os instrumentos de produção serão explorados em comum, conclui naturalmente que o destino de propriedade coletiva caberá igualmente às mulheres. Não imagina que se trata precisamente de arrancar a mulher de seu papel de simples instrumento de produção.” (Marx, Engels, 1848) [2]

Contudo, há ainda hoje setores que dizem que as mulheres alcançaram a igualdade com os homens, podendo trabalhar fora, ocupam postos de chefia, são a maioria dentre os que possuem ensino superior completo, e até mesmo chegam a ser presidente. Entretanto, são ainda as mulheres as responsáveis pelos cuidados com a casa, comida, marido e filhos, gerando assim, às mulheres trabalhadoras, a dupla jornada de trabalho; além de ocuparem os postos de trabalho mais precários, estarem mais sujeitas às violências físicas e psicológicas – inclusive institucional em alguns países – e serem as milhares a morrerem em vários países devido à abortos clandestinos, senda essa no Brasil a quarta causa de morte entre mulheres, com aproximadamente 1 milhão de abortos realizados por ano.

Isso mostra como, desde o surgimento da sociedade dividida em classes, a posição de classe ocupada por uma pessoa expressa não só o nível de exploração ao qual ela está submetida como, diretamente ligada a esse, expressa quais os limites da opressão sofrida, estando a mulher trabalhadora submetida à dupla jornada de trabalho desde o início do capitalismo. Por exemplo, uma mulher em dado emprego possui um salário que corresponde a cerca de 66% do salário de um homem que ocupa a mesma posição. Porém, quanto mais precário for o trabalho, mais serão as mulheres quem ocuparão esses postos, tendo ainda necessariamente que, além de trabalhar exaustivamente por salários de miséria, responder pela manutenção da casa e da vida do marido e filhos por não ter condições financeiras de arcar com empregadas domésticas, babás, creches privadas – empregos estes que são também a expressão de como são as mulheres as relegadas aos trabalhos mais precários, ligados à limpeza e cuidados.

Esse trabalho não remunerado que a mulher exerce na casa e na criação e educação dos filhos é a garantia de que o marido – o trabalhador assalariado e explorado – esteja sempre em condições de seguir com seu trabalho, estando alimentado, com as roupas limpas, a casa arrumada. E isso sem que o Estado precise se preocupar com a garantia de nada disso – garantindo creches, lavanderias, e restaurantes públicos – ou seja, é nesse trabalho doméstico não remunerado que está parte do lucro dos capitalistas. O capitalismo se apropria da opressão histórica da mulher para fortalecer a exploração, ampliar seus lucros, além de dividir a classe trabalhadora. E é por isso que a posição de classe faz diferença na opressão, pois são as mulheres pobres e negras as mais afetadas pela segunda jornada não remunerada de trabalho.


A PRECARIZAÇÃO TEM ROSTO DE MULHER!

A precarização do trabalho é mais uma grande expressão da precarização da vida da mulher, sendo cada vez mais frequente e, nos últimos 10 anos no Brasil, cresceu ofensivamente durante os governos Lula e agora Dilma. A atual presidenta mostrou também que ser mulher não significa avanços minimamente democráticos para as mulheres, pois ainda em seu período eleitoral, Dilma rifou os direitos das mulheres em sua campanha em troca de votos. Em sua “carta ao povo de Deus”, ela garantiu aos setores religiosos que não legalizaria do aborto, bandeira essa histórica dos movimentos de mulheres, que a então candidata suprimiu de seu programa. Assim, a atual presidenta ganhou o apoio dos setores mais conservadores e da bancada evangélica do Congresso, aqueles que mais atacam as mulheres e seus direitos. Já o trabalho precário vem crescendo desde o governo Lula, que sob o discurso de fim do desemprego e criação de novos postos de trabalho, fez aumentar o número de emprego precário, terceirizado, e aumentou também a rotatividade do trabalho. 

Basta olharmos ao nosso redor que veremos trabalhadores “invisíveis” trabalhando por salários de miséria, na limpeza, em condições insalubres, sem segurança e sem direitos. Se notarmos bem, a maioria dos que ocupam esses postos são mulheres, em sua maioria negras, as mais precarizadas no trabalho, e na vida. São também as que estão mais sujeitas a sofrer assédio e violência, muitas vezes do próprio companheiro, sem ter condições materiais e econômicas de se desfazer da relação e seguir sozinha, se mantendo e criando seus filhos.

Dentro da Universidade o quadro não é diferente, pois há também a reprodução da opressão entre os próprios estudantes. Exemplos disso são os trotes aos ingressantes; a imposição de um padrão de beleza que, se não seguido, gera humilhações e até violência física; a visão de que o corpo feminino enquanto uma mercadoria, pronta a servir aos interesses de quem quer que seja, o que gera assédios e até mesmo estupros; além dos casos de homofobia, onde os LGBTTI’s são também oprimidos, não podendo se expressar livremente, opressão essa que tem raízes também no machismo.

Além disso, hoje as Universidades públicas também se constroem com base na precarização. Grande parte do trabalho estruturante da Universidade é precário, terceirizado e realizado em sua maioria por mulheres. As trabalhadoras da limpeza, as cozinheiras do restaurante universitário, são aquelas que mantêm a Universidade funcionando, mas também são as que recebem os piores salários, sem garantias e direitos, e estando sujeitas a inúmeros acidentes de trabalho. Travar uma batalha contra qualquer tipo de opressão dentro e fora da Universidade deve passar necessariamente por defender esses trabalhadores precários, essas mulheres sujeitas à exploração e opressão diárias, pois é essa exploração e opressão combinadas que garantem os lucros e a manutenção do capitalismo e da burguesia enquanto classe dominante. Por isso o fim  da opressão jamais se dará por dentro do capitalismo, pois esse sistema não permitirá que se acabe com uma de suas bases de sustentação. 

Essa combinação arquitetada de exploração e opressão é a expressão da necessidade de se combinar também a luta das mulheres, estudantes e trabalhadoras, pelos seus direitos e pelo fim da opressão e violência, com a luta da classe trabalhadora pelo fim de sua exploração, da dupla jornada de trabalho e da precarização. Porque as mulheres são diretamente afetadas por esses ataques e, ainda que por dentro do capitalismo vimos alguns avanços, é preciso ter em mente que a opressão não cairá pelas mãos daqueles que dela tanto necessitam.
  
QUANDO UMA MULHER AVANÇA, NENHUM HOMEM RETROCEDE!

Somos todas oprimidas! Mas não somos iguais. Angela Merkel na Alemanha dirige os planos de reajuste na Europa contra os trabalhadores e o povo, sendo uma das principais responsáveis pelo desemprego, demissões e fechamento de fábricas nesses países. Dilma mantém o nível de precarização do trabalho como um dos pilares do antigo crescimento econômico, sendo grande parte destes postos ocupados por mulheres; Heloísa Straling, quando vice-Reitora, permitiu a entrada da tropa de choque e cavalaria na UFMG para reprimir estudantes em 2007. Isso mostra como a luta contra a opressão não está por fora da luta de classes. Há as chefes e burocratas acadêmicas, em grande parte brancas, que são parte dos planos para que sejam os trabalhadores e o povo a pagar por sua crise. E neste feito as mulheres trabalhadoras e pobres são as que mais sofrem. Na luta contra a opressão a classe trabalhadora é a única que pode se colocar à frente da conquista de todas as demandas democráticas do conjunto das mulheres! Entre todas as mulheres as que mais sentem as amarras capitalistas que nos prendem devem ter espaço para tomar à frente de nossa luta: as mulheres trabalhadoras que sofrem com a opressão e exploração e que devem ser acompanhadas pelas mulheres mais oprimidas do povo negro e pobre.

E é por isso que nós, do Grupo de Mulheres Pão e Rosas, reivindicamos que a juventude, como vem se mostrando ao redor do mundo, tem que cumprir o papel essencial de estar à frente dessas batalhas, contra a exploração e todas as formas de opressão. Um Movimento Estudantil combativo, enquanto um movimento de jovens dispostos a lutar e transformar não só a Universidade, mas a sociedade como um todo, deve estar ao lado da única classe capaz de levar a frente essa transformação da sociedade. Para isso as mulheres devem estar a frente desse movimento, levantando suas bandeiras, contra todas as formas de opressão, mas também contra a exploração que, quanto mais aguçada, mais humilha e oprime as mulheres. Cabe às estudantes lutar ao lado das demandas das trabalhadoras, escolhendo seu lado de classe; e às trabalhadoras se auto-organizarem para poder arrancar o fim de sua opressão, e o que lhes é seu por direito. Cabe à classe trabalhadora, organizada independente dos patrões, tomar para si as demandas das mulheres e dos setores oprimidos, travando uma luta unificada pelo fim da exploração e opressão.

- Pelo direito ao aborto livre, legal, seguro e garantido pelo estado!
- Não à precarização do trabalho e da vida! Igual trabalho, igual salário!
- Pelo fim da terceirização e incorporação imediata nas empresas e sem necessidade de concurso público nas instituições públicas!
- Pela aliança operário-estudantil
- Contra todas as formas de opressão!
Que os capitalistas paguem pela crise!


[1] MARX, K., ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista, 1848
[2] Idem

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Pão e Rosas - Campinas chama à conhecer!

"Gênero, sexualidade e a precarização do trabalho"

Reunião na Unicamp - IFCH - Sala IH-08
04/04 - às 17h30



Apresentação do grupo de debate "Gênero e Marxismo"

Diana Assunção, dirigente da LER-QI e fundadora do grupo de mulheres Pão e Rosas, participa da apresentação do grupo de debate  "Gênero e Marxismo", em Barcelona, no Estado Espanhol, dia 04 de abril.


Estarão presentes: 
Diana Assunção, diretora do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo (Sintusp) do Brasil e militante do grupo de mulheres Pão e Rosas; que organizou o livro, recentemente editado, “A pracarização tem rosto de mulher”, baseado na luta das trabalhadoras terceirizadas da limpeza na Universidade de São Paulo, do Brasil.
Maria Moreno, operária têxtil da “Terrassa vermelha” desde os anos setenta, que em 1996, junto aos trabalhadores ocuparam a fabrica quando o patrão quis fechá-la. 

Vejam abaixo a entrevista de Maria:


Vozes e relatos da luta das operárias nos anos 70’.Entrevista com Maria Moreno, operária textil de Terrassa



Queremos dedicar este 8 de março às mulheres trabalhadoras que durante as décadas de 60 e 70 no Estado Espanhol protagonizaram uma luta incessante contra a exploração do trabalho, quando ser mulher, operária, imigrante, significava lutar numa situação “diferenciada” dentro de um potente movimento operário em seu auge. Estas perigosas mulheres, enquanto lutavam contra a ditadura patronal, questionavam um Regime ditatorial em suas formas mais misóginas[1]. Porém, num contexto de transformações econômicas sob um processo de industrialização no qual o trabalho feminino estava se reconfigurando: entre 1950 e 1975, o número de mulheres assalariadas aumentava, ao mesmo tempo que outras eram obrigadas a abandonar o trabalho quando tinham filhos. É assim que os conflitos trabalhistas femininos se chocavam com todo um aparato legislativo, educativo e institucional, os quais, junto ao grande peso da igreja, impuseram uma ordem patriarcal que proporcionou às mulheres um destino absolutamente determinado pelo biológico, sob os valores “cristãos e espanhóis” cujo papel obrigatório era submeter-se à tutela dos homens junto à restauração da família como berço do Novo Estado franquista.

Estas perigosas trabalhadoras, neste caso as texteis, teceram os fios de uma potente história. Uma história de grande atualidade para este século submerso numa grande crise, de enorme retrocesso social e dos direitos da maioria das mulheres. E nele que não soa estranho lutar por “igual trabalho, igual salário”, contra a discriminação no trabalho, contra a dupla e, às vezes, tripla jornada de exploração e opressão, lutar contra isso é lutar contra esse sistema patriarcal tão íntimo amigo do sistema capitalista. Queremos expressar estas experiências através da história de Maria Moreno, que chegou a Terrassa (Catalunha) em 1967 com 17 anos vinda do sul da Espanha, de Córdoba, para trabalhar como operária textil. Trabalhou mais de 35 anos na fábrica Hilaturas Castell, lutando incansavelmente, se organizando com suas companheiras, e no ano de 1996 até ocuparam a fábrica para recuperar os postos de trabalho e colocaram-na a produzir sob controle das operárias.
***

Quando da casa para a fábrica as mulheres tornam-se perigosas

Maria era parte dassas milhares de mulheres que, como sua mãe, também operária têxtil, vinham dos povos do sul da Espanha: eram os tempos de grande afluencia de correntes migratórias das regiões mais agrárias para os centros industriais de Madri, Catalunha, País Basco e Astúrias. “Cheguei aqui e comecei a trabalhar no setor têxtil, na fábrica Hilaturas Castell, trabalhei 35-36 anos até que fecharam. Minha mãe trabalhava nesse setor também, na fábrica Torra de Neira. Mal cheguei e entrava às 4:20 da manhã para trabalhar todos os dias menos os domingos, era horroroso, eu vinha de um pequeno povoado, mudou minha vida totalmente. Eu me lembro que dentro da fábrica, com o ruído tão grande que havia, só pensava em cantar canções de meu povo para que não se esquecessem de mim, foi um choque muito forte. Nós imigrantes passavamos muito mal onde quer que fossemos...”

Logo Maria recuperará forças nos convulsivos anos da “Terrassa vermelha”, onde as fábricas têxteis eram muitas, num momento em que a incorporação da mulher ao trabalho assalariado significou uma mudança  de grande transcendência no papel social da mulher. Em Catalunha, a industria têxtil havia sido a mais avançada da economia. Esta se baseava na mão de obra feminina intensiva: em 1968, em todo o Estado as mulheres ocupavam 75% da mão de obra da indústria textil com um grande peso na Catalunha. Então, todas as mulheres de Terrassa em idade de trabalhar estavam metidas no setor têxtil. Havia fábricas muito grandes como Torra de Neira que era um monstro de fábrica, a Anônima, Castell... O setor têxtil teve uma luta histórica em Terrassa, sempre, porque havia muitos trabalhadores. Esta mão de obra feminina gerou uma grande confitividade feminina também. Na indústria têxtil de Maresme, Barcelonés ou Vallés Ocidental entre finais dos anos 50’ e 60’ surgiram conflitos nos quais se juntavam jovens trabalhadoras imigrantes com outras mais maduras, com experiência de trabalho industrial e, às vezes,  de conflitos de décadas anteriores.

Quando Maria chegou, logo seu sentimento de nostalgia é substituido pelo de rebeldia, quando conheceu as “folloneras”[2]“Na fábrica havia um grupo de jovens mais velhas do que eu e quando entrei me apresentaram outras companheiras como  “folloneras”, e disseram que não me juntasse à elas porque sempre causavam probemas e então eu disse: aí não me inclino. Depois fui me unindo às “folloneras” porque ainda que eu não tivesse noção de nada, eu as via mais companheiras. Porque se estávamos fazendo cones, e eu tinha que fazer 50 kg de fio e ao final do dia eu fazia 49kg, me tiravam dinheiro. As “malvadas”, as “folloneras”, quando se deram conta que eu não alcançava a meta e que podia reduzir meu salário, me ajudavam, jogavam cones que elas faziam na minha caixa. Aí comecei a ver que as más não eram tão más... e claro, começaram a lutar pela igualdade entre todas as trabalhadoras. Fui me dando conta de todas essas coisas e cada dia fui me unindo mais a elas...”

Maria era parte dessa nova geração de mulheres que, como um motor impossível de parar, enquanto se enfrentavam com a patronal por seus direitos trabalhistas, estavam se enfrentando sem saber com o modelo de mulher franquista que havia sido imposto durante mais de três décadas, a mulher submissa, decente, “anjo do lar”, e como ela mesma disse “católica, apostólica e romana”. “Claro, eu vinha de um povoado com uma vida tranquila e quando cheguei a Terrassa, meu pai me disse ‘Maria sozinha em Barcelona, mantenha um forte vínculo, hein?’ porque em Barcelona as coisas não eram tão tranquilas, meu pai me prendia tão forte que um pouco mais me asfixiaria! Dizia-me ‘você tem que trabalhar e manter a boca calada’. Mas eu fui desfazendo os vínculos... em frente da fabrica havia um convento. E o gerente da empresa cada dia ia a missa e depois entrava na fábrica e eu no início pensava que bom este senhor... Mas logo, pouco a pouco, fui me dando conta que não... Tínhamos umas máquinas com 300 pinos enormes, barulhentas. Então, na fábrica têxtil o gerente, o mordomo, o chefe de pessoal, por qualquer dinheiro nos vigiavam. E houve um momento que eu me apoiei por um segundo na parede porque sentia muita dor, porque estava menstruada, e nessa hora passou o senhor que ia todos os dias na missa. E veio o encarregado e me disse ‘Que está acontecendo Maria, está passando mal?’. E, claro, disse que não, também porque nesse momento era um tabu falar que estava menstruada. E o encarregado me contestou ‘Bom, só te digo uma coisa, se estiver passando mal, vá pra sua casa, porque seu descanso custa dinheiro ao dono’. Chorei duante três dias até que me senti aliviada. E assim fui tendo consciência, pouco a pouco, de que se um respiro custava dinheiro ao dono, eu queria seguir respirando, lhe custando ou não, queria seguir respirando com mais liberdade da que até agora tive. E comecei a lutas e me senti muito melhor. E, claro, deixei de ser católica, apostólica e romana.

Lembro-me quando veio uma monitora, se dirigia a mim porque eu já não era a menina de antes e estava com as folloneras, queria me fezer limpar seu espaço que era uma mesa com uma papelada. E eu lhe disse não, você vem limpar minha máquina? Então me sancionaram, três dias sem pagamento. Mas no segundo dia, minhas companheiras me meteram dentro da fábrica e eu me coloquei a trabalhar... Ao final do mês me faltavam três dias! Mas entre todas as companheiras cada uma deu um pouquinho e completou o que faltava. E a partir daí eu disse não sou mais tonta nem mais cristã...”

Homens, eram os encarregados, os pesadores e... os chefes de pessoal. Na máquina, eram todas mulheres...

Começava a nascer uma militância operária feminina vinculada diretamente às condições de trabalho. Conscientes ou não, da própria experiencia as levava a questionar os valores conservadores da instituição familiar e sua reprodução na vida pública e no trabalho. Chocavam contra um imaginário coletivo de crenças negativas – baseadas na diferença sexual de natureza universal e inevitável – sobre as mulheres que anulavam assim suas potencialidades para alcançar a igualdade. E desta maneira se justificava a grande discriminação no trabalho e no salário: em 1963, o salário/hora medio das mulheres na industria alcançava 80% dos salários masculinos, mas em 1971 havia piorado para 75%. A luta por “igual trabalho, igual salário” estava na ordem do dia. Maria, como muitas mulheres, começou a “descobrir” que a luta das mulheres operárias tinha suas próprias reivindicações. “Naquele tempo, sinceramente eu e as correntes feministas não percebíamos isso. Não, entre outras coisa, porque eramos todas mulheres e, naquele momento, não se tinha consciência da desigualdade da mulher. Mas sem saber, eu já era feminista, eu já estava trabalhando para as reivindicações das mulheres, não? Dei-me conta disso mais tarde quando vi que pagavam mais aos homens do que às mulheres, eles tinham mais tempo, eram vistos de outra maneira, ninguém os controlavam. E nós, as mulheres, sim! Se íamos ao banheiro e demorávamos já nos controlavam. Homens eram os encarregados, os pesadores e logo eram os chefes de pessoal. Na máquina, eramos todas mulheres... Uma vez nós montamos uma porque queriamos ser pesadoras, por que não podíamos? Se não tinha que carregar nada? Eram carros com rodas. Dizíamos: nós sabemos pesar, apontar o peso. Por que nos colocam em locais, segundo eles, mais inferiores? E logo você se dá conta que se não há quem faça os fios, não pode haver pesadores. Mas isso fomos descubrindo aos poucos e assim começamos a lutar por igualdade salarial, e prontamente começaram a nos atacar dizendo ‘estas mulheres sempre igual!’ Então você se dá conta de que falta algo quando quer reivindicar a igualdade nas condições de trabalho...”

Novas organizações operárias: as comissões de mulheres

As mulheres em luta se dotaram de organizações: as comissões operárias, habituais nas fábricas têxteis, formadas apenas por mulheres e por fora do sindicato vertical, que negociavam e lutavam com a patronal, as forças policiais e com funcionários da OSE. Estes foram os antecedentes do que logo serão as comissões operárias: “começamos a lutar por horas para comer, para trabalhar menos horas e conseguimos 8 horas e não trabalhar aos sábados. Para que houvesse vestiarios e pias em boas condições, não havia refeitório. Éramos 200 trabalhadoras, maioria mulheres e lutamos com muitas greves e paralizações. Tínhamos nossas assembleias e nossos próprios comitês, antes de se formar o sindicato de Comissões Operárias, o sindicato era vertical nesse momento, fazíamos as coisas por fora da fábrica, e nas assembleias decidíamos tudo o que teríamos que fazer dentro da fábrica. Realizávamos reuniões, mas não no sindicato, mas em um local que tínhamos em Terrassa. Nos reuníamos em grupos de trabalhadoras de diferentes fábricas, também vinham estudantes. Mas, claro, essas reuniões eram clandestinas. Eu me lembro a primeira vez que me chamaram... E um dia, e outro, e punições, claro! A que mais se atrevia era punida. Naquele tempo havia uma repressão muito grande. Mas tudo conseguimos com luta.”

Nos anos 70, começava a crise do setor têxtil da lã, onde se deram a maioria dos conflitos e inumeráveis mobilizações e greves contra os fechamentos e demissões. É assim, em uma situação convulsiva e de questionamento do regime e em meio a uma mudança de geração com a incorporação de jovens trabalhadoras, que nascem as comissões operárias junto ao ativismo e à militância de esquerda: “quando as comissões já haviam sido legalizadas, os encarregados de quando eu entrei já haviam ido embora pois eram mais velhos. Foram entrando pessoas novas que se filiavam às comissões e eram de nosso grupo. Então a empresa mudou, tanto, tanto, que fazíamos greve por tudo. É que chegamos a 90% de filiação às comissões operárias... Em todo esse processo, as mulheres, ainda que poucas, começaram a ser delegadas dentro das comissões operárias.” Quando Maria foi delegada, de nove delegados, três eram mulheres: “e quando vieram as eleições sindicais em 77-78, me elegeram como delegada sindical. As coisas eram muito diferentes de agora nas comissões.  Quando se propunha algo na fábrica, era realizada votação, logo chamavam a assembleia geral de comissões e se fazia o que era decidido na base. Logo, rara era a semana que não havia um curso de formação sindical...” Maria lamenta, com dor e raiva, o que são os sindicatos agora das Comissões Operárias.... “então, claro, aquilo sim que era meu sindicato naquele tempo.”

Quando fazíamos greve, a fazíamos por todas as nossas reivindicações, mas também em solidariedade com todos os que lutavam...

María nos contava como se coordenavam e se solidarizavam com as demais fábricas: “Se, veja, se em Madrid, por que naquele momento eram os cinzentos, espancassem uma pessoa, nós parávamos. No País Basco teve uma greve muito grande, nós paramos um dia... Quando a Seat, a AEG, faziam greve, nós sempre fazíamos também. Quando nós fazíamos greve, a fazíamos por todas as nossas reivindicações, mas também em solidariedade com todos os que lutavam. E para não nos enfrentarmos com nossos próprios trabalhadores, para fazer os piquetes nós mudávamos de fábrica ou distribuíamos panfletos na hora da refeição. Também como se organizavam contra a repressão, como as mulheres sempre estavam dispostas a fazer o impossível para liberar todos os presos. Nas comissões de trabalhadoras, era normal perceber que as mulheres não sofreriam retaliação de forma tão imediata como os homens. Naquele tempo, havia muita repressão, apanhavam muitas pessoas, então nós mulheres fazíamos caixas de resistência quando havia companheiros presos, e os torturavam. Nas manifestações havia repressão também contra as mulheres, porém era mais contra os homens. Os cavalos nos tiravam. Lembro-me do toque de recolher em Terrasa...”

A ocupação de fábrica: “As máquinas agora são nossas... e vimos que se podiam manter os postos de trabalho...”

María nos conta seu último ano na fábrica, passados 35 anos, quando e por que decidiram ocupar a fábrica e colocá-la para produzir: “Havia rumores de que a fábrica estava em crise... Então pedimos que viessem os economistas das comissões, fizeram um estudo e viram que havia uma grande fraude. E começamos a denunciar a situação, até que quando voltamos de férias, em 12 de outubro, se fechou. Houve um domingo em que uma de nós viu como tiravam coisas de um caminhão. Na segunda, quando chegamos ao armazém e haviam tirado um carregamento, fomos até a direção, pedimos explicações e nos disseram que estavam fechando. Voltamos à fábrica, contamos às trabalhadoras, e logo se formou um protesto...! Vieram as comissões, fizemos assembleia e decidimos que, como havia muito trabalho, as máquinas estavam cheias de trabalho(!), dissemos então que iríamos seguir. Um dia, se apresentam para desalojar a fábrica, com a polícia e a juíza. Nós sabíamos, e estávamos todas as mulheres na porta e os homens atrás. E dissemos a eles: daqui não sairemos, se quiserem nos colocar para fora terão que fazer, mas à força e nos matando. Porque se não vamos poder dar de comer a nossos filhos, então nos mate, e já estão nos matando. E a juíza não colocou resistência nenhuma, nos olhou, olhou para a polícia, e se foram. Desde aquele dia dizíamos, depois de uma assembleia de todas as trabalhadoras e do comitê: aqui há trabalho e ficaremos trabalhando. Primeiro quisemos fazer uma cooperativa, mas não poderíamos, pois teríamos que pagar uma dívida que não era nossa; além do que não tínhamos dinheiro. Porque, claro, como o dono se declarou em crise nós não tivemos indenização depois de 35-40 anos de trabalho ali! Passamos todos ao fundo de garantia. Havia muitos produtos e os armazéns estavam cheios. Então dissemos: as máquinas agora são nossas, aqui ninguém vem leva-los. Então poderíamos vender os gêneros e vimos que se podia manter os postos de trabalho. Estivemos sete meses em ocupação, fizemos três turnos: Manhã, tarde e noite...”

E se hoje ocuparmos as fábricas que fecham?

María nos conta como foram esses meses: “a maioria éramos mulheres. Foi uma grande experiência, ainda que muito difícil. Cortaram a luz, o gás e os credores vinham e nos insultavam e nos cobravam as dívidas. E respondíamos, não, aqui os primeiros credores são os trabalhadores, nós não cobramos nada. Mesmo comtudo isso, ficamos sete meses com a fábrica ocupada. Conseguimos vender tudo e, ao menos, pagar todos os salários que os donos nos deviam e seguir trabalhando esses meses. Mas foi muito duro manter a ocupação. Mas creio que, no final, tudo o que fizemos foi pensando nos demais, mostrando que fazíamos por todos e não por nós mesmos. E as pessoas responderam muito bem, se solidarizaram conosco, faziam guarda, até celebramos um natal ali na fábrica com gente de todos os locais, tecíamos gorros e lenços para eles... Ainda que não alcançamos tudo que queríamos, foi muito bonito também. “

Maria já conhecia muito bem a experiência da fábrica de Zanon na Argentina, ocupada e posta a produzir sob controle dos trabalhadores. Há alguns anos, fomos com ela a uma fábrica que estava correndo risco de fechar, a DERBI, onde María contou sua experiência de ocupação como uma possibilidade real, enquanto explicávamos junto a dezenas de estudantes que haviam levado sua solidariedade aos operários, a grande experiência de Zanon. Refletimos com María, sobre se a ocupação de fábrica, posta sob controle dos trabalhadores, pode ser uma saída à crise, diante das centenas de empresas que fecham e milhares de demissões: “Sim, claro! Eu lhes digo que não resistam à primeira oportunidade de mudar as coisas quando lhes disserem ‘esta fábrica já está fechada’, não. É preciso lutar, é preciso resistir e fazer todo o humanamente possível para trabalhar e para que teu trabalho tenha um sentido, demonstrando que podemos trabalhar sem os empresários. Tudo o que temos feito e conseguido lutando não pode desaparecer porque um funcionário deseja. Não se render, lutar e lutar. Agora mesmo vamos, à nossa maneira, nos colocar contra os desalojamentos, temos que demonstrar sempre que ‘sim é possível’.  Porque tudo o que temos ganhado tem sido com a luta dos trabalhadores. Se ocuparmos as fábricas quando os empresários querem fechá-las, além de impressionante, os empresários se assustariam! Porque se eles perceberem que os trabalhadores podem tomar a fábrica, iriam pensar um pouquinho. Seria impressionante num momento em que estão fechando fábricas sistematicamente... ainda mais as empresas que têm benefícios! Como nos contavam no debate de ontem os trabalhadores da Seat. Ontem lutávamos com medo, mas contra a ditadura de Franco, hoje acredita-se na democracia, mas o que há é uma ditadura patronal...”

Notas
[1] Que tem aversão às mulheres.
[2] “folloneras” era a forma pejorativa como chamavam as mulheres que se colocavam em luta, “rebeldes descontroladas”. Depois elas se apropriam deste termo de forma não pejorativa.





Trabalhadoras do Brasil e da França falam de gênero e luta de classes


Por Diana Assunção


Na última terça-feira, dia 26 de março, os Coletivos Feministas Garçes e ROSA, junto ao Coletivo de Estudantes Solidários aos Trabalhadores em Luta, organizaram na Escola de Ciência Política de Paris, França, um importante debate com o tema « Mulher e Trabalho: a luta segue! ».

Na mesa estavam Severine, trabalhadora demitida do grupo 3 Suisses e militante do Coletivo Licenci’elles, Diana Assunção, diretora do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo (Sintusp) do Brasil e militante do grupo de mulheres Pão e Rosas ademais de Sarah do Coletivo de Estudantes Solidários aos Trabalhadores em Luta e do grupo feminista francês ROSA.

As intervenções de Severine e Diana colocaram experiências concretas de luta das trabalhadoras para pensar o tema de gênero na luta de classes. Severine relatou todo o processo de organização das mulheres do grupo 3 Suisses e a necessidade que encontraram de unir-se a outros trabalhadores em luta, como os operários da Goodyear e da PSA Aulnay.

Diana, a partir da experiência das trabalhadoras precárias no Brasil, que está retratado em seu livro « A Precarização tem rosto de mulher », defendeu uma visão marxista revolucionária sobre o tema da opressão e a necessidade de lutar de forma combinada contra a exploração capitalista. Com mais de 70 pessoas passando pelo debate, fez-se uma importante discussão que expressa os principais debates do fmeinismo francês: há uma classe burguesa e uma operária, ou há uma classe de mluheres e uma classe de homens? Severine, a partir de sua luta, demonstrou como a unidade concreta entre mulheres e homens trabalhadores, lutando contra todos os preconceitos na própria classe operária, é o caminho para levar as lutas até a vitória.

Diana colocou categoricamente que o que define uma classe é sua localização na produção, e que portanto há uma classe que é dona dos meios de produção, e que essa classe não é formada somente por homens. As feministas burguesas que defendem a unidade d einteresses entre todas as mulheres teriam que explicar como, por exemplo Hillary Clinton poderia fazer uma aliança com as mulheres do Oriente Médio que vivem sob a intervenção imperialista de seu país. Diana terminou dizendo que era utopia pensar na emancipação das mulheres enquanto se mantinha uma sociedade baseada na exploração, e que na França as mulheres tinham as melhores tradições para resgatar hoje, como das combatentes da Comuna de Paris, que além de lutar por seus direitos como mulheres, foram parte da luta por impor a primeira experiência de poder da classe operária da história.

A estudante Sarah interveio chamando todos os estudantes a aliar-se à classe operária, apoiando suas lutas, e lutando junto às mulheres trabalhadoras para conquistar todos os nossos direitos.

Entrevista com Séverine, ex-trabalhadora de 3 Suisses e membro das Licenci'elles

« Pensavam que o assunto acabaria rapidamente. Certamente porque éramos mulheres, dispersas, não-organizadas. [...] Hoje, lutamos por nossa dignidade»

No fim de janeiro de 2012, o grupo 3 Suisses decide fechar as 35 lojas distribuídas por toda a França para se concentrar nas vendas pela internet e por correspondência. Nessa marcha, são 149 trabalhadorxs que deverão ser demitidxs, a despeito dos lucros colossais registrados pelo grupo Otto. 68 trabalhadorxs se opuseram a essas demissões e decidiram lançar um combate diante do tribunal do trabalho. Ao mesmo tempo, fundam a associação Licenci’elles para sustentar sua luta e propor a outras mulheres assalariadas que encontram as mesmas dificuldades de isolamento e precariedade, um quadro de organização e de apoio. Hoje, perto de uma centena, as Licenci'elles fazem barulho na mídia e se unem às lutas atuais como a dos trabalhadores da Goodyear. Séverine de Licenci'elles, ex-trabalhadora de 3 Suisses, nos conta o percurso dos combatentes.

Révolution Permanente: Em quais condições ficou você sabendo do projeto de fechamento das lojas 3Suisses e de tua demissão?

À época, eu era responsável pela loja em Saint-Etienne. Havia então 35 pontos de venda e 152 empregados envolvidos (147 mulheres e 2 homens). Já em 2009, tinham-se tornado 850 pessoas e somente 36 foram atacadas. Éramos os próximos na lista. E ela não parava de se estender com o anúncio de uma nova deslocalização daquilo que resta dos centros de chamada.

Sobre o que nos diz respeito, foi em fevereiro de 2011 que ficamos sabendo da notícia... por uma conferência telefônica! Foi assim! Os distintos chefes responsáveis pela loja lá foram convocados. Em seguida, ficou a nosso encargo, sozinhos, de anunciar isto a nossas equipes. Não houve qualquer acompanhamento, não se tinha nenhuma informação sobre as datas exatas, nenhuma resposta a nossas questões. A direção mentiu para nós igualmente sobre a possibilidade de uma recontratação potencial. Claro, essa possibilidade nunca apareceu. No espaço de um ano, houve uma só e única vista do setor de RH. Não fizeram nenhuma proposta de remanejamento, e sim propostas falsas. Eu, por exemplo, se me propunha tornar responsavel de logística. Mas isso não tinha nada a ver, eu trabalho na  venda de roupa. Em verdade, eles não nos tomaram a sério. Pensavam que não tínhamos a capacidade para responder essa falcatrua. Se quisessem fazer as coisas corretamente, nos fariam propostas de remanejamento que fossem sérias. Verdadeiramente, não há nenhum respeito. Nos enganaram por muito tempo. Atacaram-nos pessoalmente em nossa dignidade, nos tratando como merda. Foi isso, creio, que nos prontificou a reagir...

Grosso modo, pensavam que o assunto rapidamente seria ultrapassado. Certamente porque éramos majoritariamente mulheres, dispersas pelos quatro cantos da França. Porque, é verdade, a maioria das companheiras não eram sindicalizadas, não se tinha qualquer cultura de luta. Eu, por exemplo, era a primeira vez que fazia uma greve. A primeira ação foi de nos agruparmos na Croix, à sede, para contestar as demissões, depois de uma reunião organizada pelos responsáveis sindicais, no estacionamento. Desde então, começaram as medidas de intimidação da parte da direção. Discurso de culpabilização, chamado à “razão”, propuseram além do mais aos assalariados assinar um acordo individual, no qual acordavam um cheque de 6 a 9 meses de salário contra a promessa de não criar problemas se presentando no Tribunal do Trabalho.

Foi totalmente ilegal, pois nossas demissões não tinham sido ainda notificadas. Alguns cederam a esta chantagem, sob os golpes da pressão, das obrigações financeiras e familiares. Foi verdadeiramente muito duro.

Os fechamentos aconteceram em janeiro de 2012. Para 68 dentre nós, decidimos denunciar a situação no Tribunal do Trabalho. O processo está em curso, posto que hoje contestamos sua “justificativa econômica”.

RP: Em que momento apareceu a ideia de fundar o coletivo Licenci’elles?

Na primavera de 2012, começamos a tomar contato com os assalariados envolvidos pelas mesmas medidas que nós no setor têxtil. Com os “Paru-Vendu”, nos manifestamos diante da Assembléia Nacional em abril de 2012. Ademais, quando se é mulher, se é frequentemente mais precária. Nos persuadimos de que era preciso nos associar com as companheiras que vivem a mesma situação que nós. Por conseguinte, reencontramos os ex-trabalhadores de Lejaby, de Samsonite, via nosso advogado, Fiodor Rilov, que os defendeu. Entramos também em contato com uma trabalhadora nos caixas do supermercado ED, que conhecimos depois de uma reunião das mulheres em luta organizada pelo Front de Gauche. É o mesmo procedimento que se aplica muito entre eles, e que cria o isolamento e o fatalismo. A ideia apareceu de criar uma associação para contribuir com um apoio àqueles que se encontram nas mesmas dificuldades, em um setor muito feminizado, que raramente é sindicalizado, portanto débeis frente aos ataques ao emprego. Mas também para lutar contra as demissões nos grupos e empresas que têm lucro.

De golpe, montamos essa associação com as 68 companheiras que foram à justiça contra a 3 Suisses. No começo, tratava-se de criar uma ajuda específica, jurídica, mas também de transmitir uma experiência num setor que não tem uma cultura de luta. Esses diferentes encontros nos inspiraram muito, notadamente aqueles com os Lejaby. Nós, ao início, não éramos cobertos pela mídia. Depois começamos a interpelar a mídia, a fazer barulho ao nosso redor. Fizemos barulho pela via das redes sociais. É verdadeiramente a partir de abril que começamos a nos fazer conhecidas, notadamente conduzindo ações ao lado de outros trabalhadores em luta.

RP: Efetivamente, hoje, nos vemos vocês ao lado dos trabalhadores da Goodyear, que não são portanto do mesmo setor que vocês, nem de um setor muito feminino. Como você explica essa evolução?

Encontramos os trabalhadores da Goodyear em um piquete de greve em fevereiro de 2012. Eles nos lançaram: “Onde estão os pneus?” Marie, uma Licenci'elles, lhe respondeu: “Estaremos no Tribunal do Trabalho no dia 22 de março. Venham com os pneus.” Eles responderam ao chamado e vieram nos apoiar no tribunal depois de nossa primeira conciliação. O acolhimento foi maravilhoso, verdadeiramente dava prazer. Com efeito, nos encontramos na mesma perspectiva. Nós lutamos pelos empregos, e não pelos cheques. Sabemos que as indenizações vão depois de alguns anos à Pôle Emploi (agência oficial de procura de emprego), sem recuperar o trabalho, nas regiões onde o desemprego se tornará massivo, como em Amiens na Goodyear. E depois, no momento em que constituímos o coletivo, nos demos conta que não éramos as únicas envolvidas, que a coisa ia muito além do setor da venda de roupa. As demissões massivas, com a PSA, Sanofi, Virgin, Goodyear, Candia, e os outros, tocam todos os setores e todo o mundo está envolvido. E para fazer as coisas mudarem, é preciso que combatamos todos juntos. É preciso sair de nosso próprio caso pessoal, de isolamento, no qual acreditamos estar quando somos deixados à porta da rua. Certamente, há diferenças, mas a causa é a mesma. São os trabalhadores que sofrem, esperam, as empresas não se importam. Eles pensam que com um cheque vão calar a nossa boca.

De golpe, decidimos empreender um projeto de lei contra as demissões nas empresas que têm lucro com os representantes de 30 fábricas diferentes (Faurecia, Candia, Sanofi, Goodyear, Bigard...). Colocamos uma proposta de lei ao Ministério do Trabalho a 12 de fevereiro, então que diante de suas janelas, estávamos reunidos com os trabalhadores de Candia, de Sanofi, de Goodyear. Uniram-se também a nós uma delegação da PSA Aulnay. Que as fábricas demitam enquanto têm lucros acumulados, com dividendos aos acionários, é inaceitável. Não podemos os trabalhadores pagarmos por isso. É absolutamente necessário evitar os fechamentos de fábrica. É preciso também desconfiar dos números que nos são mostrados: são manipulados para nos fazer engolir qualquer coisa. Por exemplo, o grupo 3 Suisses atacou as ajudas públicas da região, mas disso ninguém fala. É um escândalo! E é por isso que é necessário lutar.

RP: Que repercussão você tem sobre teu engajamento enquanto mulher que luta pelo seu emprego?

Integrar-me em uma associação de mulheres, é isso que me deu forças. Pois é preciso poder resistir a tudo. Como fazer para te construir, retomar confiança em si mesma, manter uma vida social, quando se chega a ser demitida aos 35 anos, e se está sem emprego?

Para mim, o fato de me mobilizar me transformou. Se você me tivesse dito, há três anos, que eu entraria em greve contra o meu patrão, eu teria rido. Para mim, tudo isso era desconhecido. Minha demissão, eu a vivi muito mal. Me coloquei muitas vezes em questão. Mas, havia duas opções: assino e me deprimo, ou levanto a cabeça. Eu, prefiro ser capaz de me olhar no espelho pela manhã. É uma questão de dignidade.

Eu estou orgulhosa porque não me deixei comprar. A luta me permitiu encontrar pessoas excepcionais, descobrir uma nova faceta de mim mesma que não conhecia antes. Eu me abro mais, tomei confiança. Mesmo se é difícil – há a excitação na mobilização, depois quando volta para casa, é o down, a depressão – há muitas gratificações. Eu conhecí Marie das Licenci'elles e outras pessoas excepcionais. E depois você colhe sementes na luta, aprende com a experiência dos outros. No contato com os trabalhadores da Goodyear, melhoramos muito  a comunicação com a imprensa. Do fato de nossas irrupções frequentes na mídia, aprendemos a transmitir nossas convicções, nossas ideias, a torná-las mais fortes. E é por isso que cumpre conduzir conjuntamente o combate!


Solidariedade de classe na PSA Aulnay - França

Saudação Internacionalista na França



Em um momento no qual o problema do desemprego é uma das principais preocupações dos trabalhadores e jovens da França, o caso mais emblemático é o da fábrica do grupo Peugeot-Citroën (PSA) em Aulnay, que, junto a outras fábricas como da Goodyear e ArcellorMittal, está
ameaçada de fechamento (o grupo que já prevê suprimir mais de 11.000 postos de trabalho em todo o país). A fábrica está paralisada há meses contra as demissões, e a patronal já efetua provocações, como tentar retirar da fábrica os estoques produzidos para preparar seu fechamento, tratando de impor golpes e desmoralizar essa exemplar luta operária, de mais de dois meses em greve, no coração da crise econômica mundial.

Seguindo a visita feita à fábrica de Aulnay
pelos estudantes do coletivo interfaculdades que impulsionamos desde os militantes da CCR na França, com objetivos organizar a solidariedade do movimento estudantil aos trabalhadores que hoje lutam contra das demissões e os fechamentos de fábricas, Diana Assunção, diretora do Sintusp e dirigente do grupo de mulheres Pão e Rosas e da LER-QI, também prestou solidariedade à luta dos operários da PSA, visitando a planta ao lado de diversos companheiros. Em uma saudação calorosa na assembleia de greve (realizada em função do combate ao início do processo de demissões), parabenizou a luta exemplar desses companheiros que resistem contra a arrogância da patronal, e lembrou a importância da luta internacional dos trabalhadores.

Viva a aliança internacional da classe operária!

Os trabalhadores não temos fronteiras, nossa luta é uma só!

Que os capitalistas paguem pela crise!


Entrevistamos Bia Abramides, professora da PUC-SP sobre a luta de estudantes, professores e funcionários


Nos últimos meses de 2012 se desenvolveu uma importante e destacada luta de professores, estudantes e trabalhadores da PUC-SP. O Jornal Palavra Operária esteve presente em atos e manifestações defendendo um movimento independente para que a comunidade triunfasse contra a Fundação São Paulo, pelo “fora” Anna Cintra e por nenhuma ilusão em Dirceu de Mello. Publicamos a seguir entrevista de com Bia Abramides, professora de Serviço Social da PUC-SP sobre a luta da comunidade universitária no último semestre.

1) Qual é o papel da Igreja na PUC-SP? Essa intervenção nas decisões políticas da universidade é algo novo?

A PUCSP tem a Fundação São Paulo-FUNDASP, como sua mantenedora que é da Igreja Católica. Isto se dá desde a criação da PUCSP, em 1946, ou seja, há 67 anos. Porém a PUC não pode se confundir, se diluir, se dissolver na FUNDASP. A PUC é uma universidade e como tal tem que ter autonomia e democracia, estar desvinculada da Fundação. A Intervenção política na Universidade não é algo novo. Nos anos 80 a PUCSP sofreu intervenção da Fundação por conta da questão administrativa. Depois conseguiu-se retomar a autonomia da PUCSP. Porém, a partir de 2005, na gestão da reitora Maura Veras, a PUC sofreu nova intervenção da Fundação que permanece até os dias atuais. Naquele período ocorreram as demissões em massa de professores e funcionários, chegando a quase mil trabalhadores demitidos. Houve a invasão da tropa de choque durante a ocupação da reitoria pelos estudantes, e sindicância a 12 alunos que participaram do movimento de ocupação contra o redesenho institucional. Desde então tem ocorrido uma sucessão de medidas de destruição do ensino e do trabalho: o não pagamento dos 7,66% devidos de reajuste aos professores desde 2005, tabelas salariais diferenciadas para a mesma função, repressamento na ascensão da carreira, maximização de contratos, com uma sobrecarga de trabalho, redesenho institucional em acordo com a Fundação, numa lógica instrumental racionalista, criação do CONSAD-Conselho da Administração, acima do Conselho Universitário com três votos: o do reitor e dos dois padres que representam a FUNDASP. Em relação aos alun@s um aumento das mensalidades acima da inflação, redução de bolsas, e, em relação ao ensino, curso aligeirados, cursos de ensino a distancia. Para os funcionários além da redução numérica, estão com plano de carreira bastante defasado. Para enfrentar a questão financeira em 2006, a PUCSP juntamente com a FUNDASP se curvaram aos bancos, Santander e Bradesco, que passaram a ditar como a universidade deveria ser saneada, o que consubstanciou nas medidas que recaíram sobre funcionários, professores e estudantes. Em 2012 ocorreram as eleições e o Cardeal indicou para assumir a reitoria, a terceira e última colocada no pleito. Desde 80 a PUC tem eleições diretas para reitoria, e, embora estatutariamente haja a lista tríplice encaminhada ao Cardeal para sua indicação, durante 32 anos, o Cardeal sempre indicou @ reitor(a) escolhida pelos três seguimentos: estudantes, professores e funcionári@s, o que garantia a soberania das urnas.

2) Qual a relação entre o processo de elitização e o projeto da universidade da FUNDASP?

O Projeto de Universidade da FUNDASP é o projeto da Igreja que pretende sempre formar seus quadros. Isso não é novo. Porém o Projeto da Igreja dos anos 60, 70, 80 estava identificado com um projeto humanista da Igreja vinculado a Teologia da Libertação, em toda a América Latina, longe da posição conservadora, reacionária que hoje está presente no Vaticano com Bento XVI. Nos anos 80 a PUCSP era a universidade privada mais barata do país, isto porque ao ser confessional recebia recurso público do Estado na esfera federal que reduziu drasticamente a partir dos anos 90. De fato o dinheiro público deve ser aplicado na educação pública, gratuita, universal, laica e ñao nas universidades privadas. Sabemos porém que com a implantacão do neoliberalismo desde 89 nos governos Collor, Itamar, FHC, Liula e Dilma, mais acentuadamente pós FHC, os recursos públicos para educação pública são irrisórios e a política desde o governo Lula, é a de deslocar uma parte do recurso público para a esfera privada pelo Prouni, que é um programa "salvacionista" `a inadimplência do ensino privado e que cada alun@ neste corresponderia a possibilidade de três alun@s cursarem na universidade pública. Na universidade pública também tem ocorrido uma precarização do ensino com a implantação do Reuni como um programa que desqualifica o ensino e precariza o trabalho. A contrareforma do ensino superior no país está subordinada aos interesses do grande capital, do FMI, da OMC que dita sua programática no âmbito internacional. A PUCSP sobrevive das mensalidades que estão cada vez mais caras, elitizando cada vez mais o ensino, e precarizando cada vez mais as condições de trabalho. Um número significativo de cursos que são considerados de baixa procura, na realidade são cursos com demanda reprimida, pois @s alun@s que procuram esses cursos não tem poder aquisitivo para pagá-los e assim se inscrevem nas universidades privadas mercantis, em que a mensalidade é bem inferior. Esses cursos são basicamente da área das ciências sociais, da educação, do serviço social, de letras, da filosofia. Ao invés de se pensar em mensalidades mais reduzidas para todos estes cursos, garantindo a existência dos mesmos, que dão sentido a uma universidade, esses cursos estão fechando turmas e poderão até ser extintos. Na realidade os trabalhadores e seus filhos não tem como suportar os preços das mensalidades. O caráter elitista se aprofunda nesta direção.

3) Como você enxerga a atitude da FUNDASP e de Dom Odilo na nomeação da prof. Anna Cintra- 3º colocada da lista tríplice - a reitora da PUC-SP?

Esta atitude coloca na prática a intervenção da Igreja na Universidade não somente do ponto de vista financeiro, mas também acadêmico, e de concepção de universidade. Creio que é uma atitude de ir às últimas consequências o projeto da Igreja para a Universidade. Este é um fenômeno mundial, em que a Igreja não suporta mais uma universidade como a PUCSP, mesmo com sua democracia extremamente limitada. Nos EEUU houve intervenção em PUCS progressistas, e, recentemente o Vaticano fez com que a PUC do Peru deixasse de ser PUC. Ou seja, segue o receituário ou se desvincula. Basta analisar as declarações da candidata ilegítima em que diz claramente que a PUC é da Igreja, e, portanto deve seguir a ela. Aí nos perguntamos como debater temas tão fundamentais como a questão do aborto, das drogas, da sexualidade, da criminalização dos movimentos sociais, da luta contra o capital e por uma sociedade igualitária, sem exploração de classe e opressão social, de gênero, étnico-racial, em uma universidade que possa vir a reprimir a liberdade de manifestação, expressão, do conhecimento e da práxis necessária a uma vida emancipada?

4) Na sua opinião até onde esse forte movimento democrático contra a Igreja na PUC-SP deveria chegar?

Na minha opinião a luta é longa. A nomeação da indicada por D. Odilo foi impugnada pelo CONSUN, pelo fato de ela ter publicamente se comprometido em não assumir, caso não fosse a primeira colocada, e assumiu. D. Odilo não acatou a deliberação do Consun que desomologou a lista tríplice e a colocou por mérito na ilegalidade por descumprimento da palavra. Houve uma liminar que reafirmou que a indicada está juridicamente impedida de assumir. A Fundação recorreu e aguarda-se o fim do recesso do judiciário para uma decisão definitiva. Acredito que teremos um início de ano com muita luta. Tivemos uma greve de estudantes, bem significativa, que foi ampliada com a greve dos professores, em muitos cursos, por um mês. Os estudantes, professores e funcionários devem seguir na Luta do Fora Anna Cintra, impedindo que assuma, por ser ilegítima e agora, ilegal por deliberação do CONSUN e do Judiciário. A proposta do Movimento é a de que façamos uma Convenção dos três setores para debater que PUC queremos, e aí temos que avançar com uma nova estatuinte, pois a que temos hoje é um remendo da anterior, negociada por cima, pela burocracia da PUCSP, com a Igreja, por ocasião do redesenho. De fato tem que se avançar na separação da PUC em relação á FUNDASP. Se tivermos força retomar a luta de imediato pela estatização. À Igreja não interessa esta forte mobilização, e vem a ameaça com Intervenção de nomeação direta, disseminada pelos setores que apoiam Anna Cintra. Na realidade Anna Cintra é já esta intervenção, o projeto que a Igreja quer sedimentar. “Contra a vontade do cardeal, a vontade Geral” e “Pela autonomia e democracia universitária”.